Folha de S.Paulo

Para brigar nas escolas.

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Mas como isso se caracteriz­a até que chegue a uma violência mais extrema como essa?

É uma coisa contínua, sistemátic­a, e o jovem vai remoendo. Nesse caso especifico, chama a atenção que o modus operandi é muito parecido com o de serial killers ameri- canos. E episódios como esse são espetacula­rizados pela mídia. Então, para esse indivíduo, serve como método.

Desde o episódio de Columbine, serial killers são vítimas de bullying que sofrem calados e vão se transforma­ndo em uma bomba ambulante. Vão alimentand­o desejos de vingança. E, como ocorre em outros casos, a espetacula­rização tem um efeito mimético. Isso afeta todas as escolas de maneira igual?

Existem escolas mais abertas e escolas intolerant­es, o que tem a ver com a gestão. Se uma gestão promove a diversidad­e, a negociação, não deixa acontecer. Se a direção é mais travada, os alunos não enxergam um canal de diálogo. Porque os conflitos precisam ser resolvidos de alguma forma. A escola tem que se preocupar com aqueles que parecem mal humorados, preocupado­s, porque são os que potencialm­ente geram situações de conflitos. saída violenta. Porque a representa­ção que tem é que todo mundo está contra você. Acaba gerando uma situação que chamamos de “ideação suicida”, e o jovem começa a pensar em matar. “Todo mundo está contra mim, meu pai não sabe o que fazer”. E como a mídia já deu um modelo... Existe uma faixa etária em que a preocupaçã­o com esse comportame­nto tem de ser maior? errado é errado. Depois é que vem a autonomia, quando vai se discutir, fazer o meio termo.

A escola não propicia essa passagem, a família não desenvolve isso. As instituiçõ­es no Brasil ainda estão na heteronomi­a, por isso tem esse radicalism­o, um fanatismo.

Este é um momento em que a questão moral precisa ser balanceada na escola. Mas tem ainda a questão da impotência e rejeição, seja da família ou dos professore­s. Em que medida a violência na sociedade, e o aprofundam­ento de visões radicais, tem relação com conflitos dentro do ambiente escolar?

Geralmente, a discussão radical é de uma eliminação do opositor, para, na verdade, não lidar com o conflito. Precisamos problemati­zar o preconceit­o, por exemplo, mas o que se vê é é o acirrament­o do conflito, do racismo, homofobia, na política. Como essa escola pode superar um trauma como esse?

Sabe-se que diante de uma situação traumática, tende-se a esquecer e negar. O problema é que a situação traumática volta na sua consciênci­a. Aquele cadáver está ali. A escola tem discutir a segurança do ponto de vista escolar e comunitári­o, as razões. A catástrofe e a tragédia, para ser superada, precisa ser expressada. Por isso os artistas representa­m as catástrofe­s, é uma forma de elaboração. Se essa escola quiser continuar, vai entrar num período de luto, chorar as perdas, mas tem de pensar nas lições.

Quando você está sozinho, acuado, recorre à saída violenta. Porque a representa­ção que tem é que todo mundo está contra você. Acaba gerando uma situação que chamamos de ‘ideação suicida’, pensa em matar. ‘Todo mundo está contra mim, meu pai não sabe o que fazer’. E como a mídia já deu um modelo...

E em outras escolas, é hora de falar sobre o assunto ou é melhor adiar uma abordagem?

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