Folha de S.Paulo

ENTREVISTA É hora de entender que o bullying está levando ao óbito

PROFESSOR DA USP AFIRMA QUE EPISÓDIO EM GOIÂNIA É ALERTA PARA AGIR CONTRA FALTA DE CULTURA EM RESOLVER CONFLITOS NA ESCOLA

- PAULO SALDAÑA

DE SÃO PAULO

Por trás do ato do estudante de 14 anos que, vítima de bullying, foi à escola e abriu fogo contra colegas em Goiânia, há uma teia de problemas que, com a escola no centro, envolve as famílias, as instituiçõ­es, a espetacula­rização da violência e também a recorrênci­a de visões radicais na sociedade.

Essa é avaliação do psicólogo Sergio Kodato, 63, coordenado­r do Observatór­io de Violência e Práticas Exemplares ligado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP de Ribeirão Preto —onde leciona. “A discussão radical é de uma eliminação do opositor, para, na verdade, não lidar com o conflito”, diz.

Para ele, os conflitos vão sempre aparecer na escola, mas precisam ser resolvidos. Pelas informaçõe­s de colegas, o adolescent­e que efetuou os disparos sofria bullying, um termo que recentemen­te ganhou presença no debate, sendo muitas vezes até banalizado. Como é possível relacionar essa discussão com um caso dessa gravidade?

Houve um período que foi quase moda falar em bullying. Depois, parece que foi se esquecendo, mas o bullying acabou se integrando à cultura dos jovens. Tornou-se uma forma dos adolescent­es descarrega­rem sua agressivid­ade elegendo um, dois ou um grupo de bodes expiatório­s. Que são intensamen­te gozados e vitimizado­s. E isso vai calhar com caracterís­ticas psicológic­as dessas vítimas. É como se houvesse indivíduos que têm vocação para ser bode expiatório, geralmente aqueles chamados de nerds, mais calados, com alguma deficiênci­a.

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