Folha de S.Paulo

Enterro tem comoção e gritos de alívio por prisão

-

DE SÃO PAULO

Dezenas de pessoas se reuniam na porta da capela, à espera do cortejo fúnebre das meninas Mel e Bia, quando chegou a notícia de que dois suspeitos tinham sido presos.

Adrielly Mel Severo Porto, conhecida como Mel, e Beatriz Moreira dos Santos, a Bia, ambas de três anos, estavam desapareci­das desde 24 de setembro e foram encontrada­s mortas em uma picape na zona leste, em 12 de outubro.

O pai de Mel, o motorista Alan Porto, 42, foi um dos primeiros a saber da prisão.

Ele levantou os braços e se dirigiu ao aglomerado de parentes, amigos e curiosos, que acompanhav­a o enterro com cartazes, flores e fotos das meninas. “Aleluia! Glória a Deus! Foram presos!”

Houve comoção, gritaria, e dezenas de pessoas pediram, em coro, por “Justiça” e “pena de morte”. “Eu vou ficar aliviado quando a Justiça for feita, por enquanto eles só estão presos. São monstros”, desabafou Alan.

O enterro foi realizado nesta sexta-feira (20) no cemitério da Saudade, em São Miguel Paulista, na zona leste da cidade. Os caixões estavam lacrados, porque os corpos estavam em estado avançado de decomposiç­ão.

“A gente não pôde nem abrir o caixão, não pude nem olhar o rosto da minha filha, beijar e abraçar uma última vez, fiquei abraçando uma foto. Isso é justo para uma mãe? Não é justo para ser humano nenhum”, disse a mãe da Mel, a dona de casa Adriana Severo de Jesus, 28, aos prantos.

Ela também reclamou da atuação da polícia no caso.

“Achavam que éramos suspeitos. Entraram na minha casa, com cachorros, quando eu estava com hemorragia, e humilharam meu marido, chamaram de lixo”, afirmou ela, que estava grávida de gêmeos e sofreu um aborto nas últimas semanas. “Eu não perdi só a Mel. Me tiraram três filhos de uma vez só”, disse.

Sobre a prisão dos suspei- tos, Alan disse que um deles costumava frequentar a casa da família. “Ele estava sempre lá em casa, mesmo depois de as meninas desaparece­rem.”

Um tio de Bia, que morava com a menina, deu um relato similar sobre o homem.

“Ele [um dos suspeitos] morava do nosso lado, a gente dava comida para ele e tudo. As nossas famílias se davam bem. Ele usava droga, mas a gente não ia suspeitar nunca, não desconfiam­os de nada. Mesmo depois que elas desaparece­ram, ele falava para nós: ‘Deus vai fazer Justiça e vai ajudar a encontrar’. Ele vinha para nos confortar”, contou Thiago Henrique Moreira dos Santos, 27.

Os parentes de Bia também afirmaram que o pai da menina, preso por tráfico, foi impedido de ir ao enterro.

“Foi uma injustiça. O pai queria ver a filha uma última vez e não deixaram entrar. Senti muita dor, tristeza”, disse a dona de casa Jennister da Cruz, 26, mãe da Bia.

Ao longo do enterro, a fa- mília gritou diversas vezes “cadê o pai?”, em protesto.

“Acho que ele deve estar sofrendo. Chegou a vir aqui, na viatura, mas não deixaram entrar, porque tinha muita gente”, lamentou o avô de Bia, Ivan Moreira dos Santos, 50.

O estudante Carlos Alberto Pereira, 19, vizinho e amigo da família da Mel, disse que as famílias receberam muitas críticas após o crime.

“As pessoas condenaram a mãe da Mel, dizendo que ela deixou as crianças largadas. Mas o único lugar que elas têm para brincar é na frente da casa. Ela mora em um barraco de madeira de um cômodo só”, disse ele, emocionado.

Assim como Carlos, sua irmã conhecia bem a menina. “A Mel era a alegria de todos nós, vizinhos. Era doce, faladora, ficava feliz com alguns brinquedos doados”, disse a faxineira Tabata Pereira, 23.

A mãe, Adriana, conta que a menina adorava tomar banho e “se arrumar”. “Podia ser banho gelado, ela não estava nem aí. Depois gostava de se olhar no espelho e sacudir a cabeleira. Falava: ‘mamãe, olha como eu estou linda, não estou uma princesa?’”, diz.

“A minha princesinh­a não vai voltar, mas um dia eu encontro com ela de novo.”

Thiago lembra da sobrinha, a Bia, como “brincalhon­a”. As duas meninas andavam juntas para cima e para baixo no bairro. “A gente dava muita risada. A Mel conhecia todo mundo e levava a Bia.”

As meninas foram enterradas lado a lado, em um local conhecido como quadra dos anjinhos, por reunir muitas crianças. A mãe de Mel, Adriana, viu nisso uma pequena consolação: “Elas viviam juntas e foram embora juntas”.

Questionad­a, a Secretaria da Segurança Pública informou que “os policiais do DHPP estiveram à disposição dos parentes” durante as diligência­s. “A Corregedor­ia da Polícia Civil apurará eventuais denúncias contra a conduta dos policias, caso a família registre ocorrência.”

 ??  ?? Alan Porto, pai de vítima, comemora prisão de suspeitos
Alan Porto, pai de vítima, comemora prisão de suspeitos
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil