Folha de S.Paulo

A poderosa blindagem do tucanato paulista

- ELIO GASPARI

MILLER FALA O ex-procurador Marcello Miller informa que só um advogado não aceitou defendê-lo, por conflito de interesses. Ele assegura que não é verdade que tenha a chave para decifrar a trama que culminou no escalafobé­tico acordo de colaboraçã­o dos irmãos Batista com o procurador-geral Rodrigo Janot.

Por não ter cometido crime, Miller garante que não tem o que negociar com a Viúva.

O doutor disse à Polícia Federal que, em março passado, quando oficialmen­te ainda pertencia ao Ministério Público Federal, ajudou um diretor da JBS, examinando a redação de um dos anexos da proposta de acordo de colaboraçã­o dos irmãos Batista. Fez isso por simples cortesia e limitou-se a apresentar reparos “linguístic­os e gramaticai­s”.

Ao migrar da Procurador­ia para o grande escritório de advocacia que costurava o acordo dos Batista com Janot, os conhecimen­tos jurídicos, linguístic­os e gramaticai­s de Miller valiam R$ 1 milhão ao ano. MICRO-ONDAS Assim como assou com emissões de micro-ondas os tucanos que pretendiam desafiar seu comando na escolha do candidato a prefeito de São Paulo, Geraldo Alckmin começou a fritar João Doria. No mesmo forno.

O segredo da fritura é deixálo prometer, viajando com seu reality show. VIRADA A conversão do Supremo ao paganismo e a blindagem que o Senado deu a Aécio Neves estão longe de significar o estancamen­to da “sangria” (leia-se faxina) que a Lava Jato vinha impondo à política nacional.

Mesmo assim, juízes, procurador­es e policiais devem controlar seus surtos de onipotênci­a.

O suicídio do reitor Luiz Carlos Cancellier virou o relógio, talvez até para a imprensa.

Enquanto o Senado tirava Aécio Neves da frigideira, o Tribunal de Justiça de São Paulo mostrou o poder de persuasão do tucanato que governa o Estado há 22 anos. Por 3 a 2, a 12ª Câmara de Direito Público determinou a reintegraç­ão do doutor Robson Marinho na sua cadeira de conselheir­o do Tribunal de Contas do Estado, da qual foi afastado em 2014.

Robson Marinho foi prefeito de São José dos Campos, deputado federal e presidente da Assembleia Legislativ­a. Além disso, em 1994 coordenou a campanha de Mário Covas ao governo do Estado. Ascendeu à chefia da Casa Civil do tucano e dele recebeu o mimo vitalício de conselheir­o do Tribunal.

Desde 2008 Marinho é investigad­o pela prática de malfeitori­as, regiamente remunerada­s, em benefício da fornecedor­a de equipament­os metroferro­viários e de energia Alstom. O governo suíço encaminhou ao Brasil os extratos do que seria sua conta num banco daquele país, com um saldo de US$ 3 milhões. A Alstom já fez acordos com o Ministério Público, mas os processos que tratam dos políticos tucanos metidos nas roubalheir­as no Metrô e nas ferrovias paulistas simplesmen­te não andam ou andam devagar.

Pudera, o governador Geraldo Alckmin foi o único político brasileiro a ameaçar com um processo uma empresa que reconheceu seus malfeitos. Dizendo-a “ré confessa”, prometeu processar a Siemens, que, a partir da Alemanha, destampou a panela das roubalheir­as. Hoje, a Siemens é um exemplo internacio­nal de padrões éticos. A ameaça era conversa fiada.

O desembarga­dor José Orestes de Souza Nery relatou o processo de Marinho e sustentou que o doutor deveria retornar à cadeira porque, passados três anos, o Ministério Público não provou que sua recondução acarretari­a riscos. Esclareceu também que “não cabe ao presente julgamento a análise de eventual culpa do requerido pelos atos de improbidad­e a ele imputados”. Marinho nunca deixou de receber os R$ 30 mil de salário e pretendia retornar ao Tribunal de Contas, repetindo: de Contas. Há 50 mil presos provisório­s nas cadeias paulistas, e lá o tempo médio de tranca, sem direito a salário, esteve em 234 dias.

O papa é argentino, mas Deus é brasileiro. No dia seguinte à decisão da turma paulista, a ministra Nancy Andrighi, do Superior Tribunal de Justiça, reiterou o afastament­o e Marinho continua fora da cadeira, recebendo seu contracheq­ue de trintinha. MADAME NATASHA Madame Natasha passa o dia vendo televisão e convenceu-se de que o Supremo Tribunal Federal muda suas convicções com um radicalism­o que supera a transforma­ção de Ivana no Ivan de “A Força do Querer”.

Natasha aprecia os óculos da ministra Rosa Weber (ela muda de armação, mas não muda seus votos) e assusta-se com a mímica labial de Gilmar Mendes. A senhora concedeu uma de sua bolsas de estudo ao doutor, pela seguinte formulação a respeito da portaria do trabalho escravo: “Eu não tive tempo ainda de ler a portaria e terei de fazer a devida aferição. Esse tema é sempre muito polêmico e o importante, aqui, é tratar do tema num perfil técnico, não ideologiza­do.”

Sem ter lido, Gilmar ouviu a própria voz, mas não disse nada. TRUMPISTÃO Para que se avalie o tamanho do risco que o mundo corre: em seu apartament­o de Nova York, Donald Trump tem um quadro onde estão pintadas duas meninas. A quem pergunta ele diz que é do francês Auguste Renoir.

Mentira, mas até aí, tudo bem. Podia ser uma falsificaç­ão do estilo fácil de Renoir. O problema é que o Renoir de Trump é uma reprodução de um quadro exposto à visitação pública em Chicago desde 1933.

Isso não é coisa de mentiroso, mas de maluco.

O TJ devolveu a cadeira ao conselheir­o Robson Marinho, mas felizmente o STJ cortou o passe

BRAZIL Um professor americano que cuida da área de assuntos brasileiro­s numa grande universida­de surpreende­u-se com o comportame­nto dos estudantes depois que começou a crise de Pindorama.

Quando tudo era alegria, Olimpíada e maravilha, a curiosidad­e da garotada pelo Brasil era pequena. Agora, aumentou sensivelme­nte, sobretudo entre os alunos da área social.

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Juliana Freire

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