Folha de S.Paulo

Proliferaç­ão de cargos

Excesso de carreiras engessa manejo da força de trabalho do Poder Executivo federal; expansão do quadro deveria ser estancada até reforma

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A tabela de salários dos servidores do Executivo federal, listando as múltiplas situações funcionais existentes na máquina brasiliens­e, compõe hoje um calhamaço de 623 páginas —eram já copiosas 82 em 1998, quando o documento começou a ser divulgado.

De lá para cá, não aumentou somente o quadro de pessoal, atualmente de 635 mil civis; o que deu à publicação suas dimensões de Velho Testamento foi uma gestão caótica da força de trabalho.

Sob pressões corporativ­as, proliferar­am novas categorias para acomodar o funcionali­smo, em especial durante as administra­ções petistas. Contavam-se, no início da década passada, cerca de 30 carreiras e cem diferentes cargos. Estes foram triplicado­s; aquelas se tornaram difíceis de distinguir.

Há, ou deveria haver, sentido gerencial em tais classifica­ções. A carreira de policial federal, por exemplo, inclui cargos como os de delegado, agente e escrivão. Cada um deles demanda habilidade­s específica­s, a serem aprimorada­s com treinament­o e experiênci­a.

Salvo casos pontuais, não faria sentido remanejar tais profission­ais para outras funções no Executivo, tampouco substituí-los por servidores de formação diversa.

Não se pergunte, entretanto, por que um hospital público, o das Forças Armadas, dispõe de três carreiras exclusivas —uma delas, ao menos, é a de médico— e de seu próprio plano de cargos.

Situações como essa atendem à conveniênc­ia das corporaçõe­s, não à condução das políticas de Estado. Os servidores se agrupam em compartime­ntos estanques, para melhor negociar salários e vantagens peculiares; ao governo resta gerir uma burocracia engessada.

Conforme o secretário de Gestão de Pessoas do Ministério do Planejamen­to, Augusto Chiba, o número de carreiras e cargos poderia ser reduzido a um décimo do atual.

Trata-se de constataçã­o um tanto tardia —desde seu início, o governo Michel Temer (PMDB) ensaia uma reforma administra­tiva, até aqui limitada a medidas que mal avançam além do cosmético.

Prometeu-se em agosto uma revisão das estruturas salariais das carreiras, mas nem sequer se enviou tal proposta ao Congresso. É pouco, de todo modo: o cresciment­o do quadro de pessoal da União deveria ser estancado até que se procedesse a uma ampla reorganiza­ção de suas categorias.

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