Moral, moralismo e direito
Quer tenham sobrevivido por mais tempo ou deixado a vida precocemente, os moralistas jamais foram absolvidos pela posteridade
Existe uma clara linha divisória, nem sempre percebida nitidamente, entre a moral e o moralismo. Aquela, grosso modo, revela um conjunto de valores e princípios que deve reger a conduta humana, variando no espaço e no tempo. Todas as sociedades, em algum momento de sua história, adotaram determinadas normas de comportamento, não raro resultantes de práticas multisseculares, as quais reputaram essenciais para a convivência harmônica de seus integrantes.
Embora destituída de sanções materiais, a moral corresponde a um código de procedimentos que sujeita os transgressores à reprovação, velada ou explícita, dos membros da coletividade a que pertencem, acarretando, por vezes, a própria exclusão dos recalcitrantes de seu convívio.
Já o moralismo representa uma espécie de patologia da moral. Enquanto nesta há um certo consenso das pessoas no tocante à distinção entre o certo e o errado, no moralismo alguns poucos buscam impor aos outros seus padrões morais singulares, circunscritos a certa época, religião, seita ou ideologia.
Os que discordam são atacados por meio de injúrias, calúnias ou difamações e até agressões corporais. No limite, são fisicamente eliminados. Paradoxalmente, quase sempre os moralistas deixam de praticar aquilo que exigem dos demais.
A ética, por sua vez, derivada da palavra grega traduzida por “bons costumes”, corresponde a uma disciplina comportamental que estuda as escolhas morais sob o prisma da razão, com vistas a orientar as ações humanas na direção do bem comum. O direito para alguns juristas, a exemplo do clássico Georg Jellinek (1851-1911), equivaleria a um “mínimo ético”, isto é, a determinado número de preceitos morais considerados indispensáveis à sobrevivência pacífica de dado grupo social e transformados em lei.
No campo do direito, os moralistas expandem ou restringem esse conceito conforme lhes convém, interpretando as regras jurídicas segundo sua visão particular de mundo. Sobrevalorizam a “letra” da lei, necessariamente voltada ao passado, em detrimento do “espírito” da lei, que abriga interesses perenes.
Aplicam as normas legais fria e burocraticamente, trivializando a violência simbólica que elas encerram. Não hesitam em incorrer, proposital ou inconscientemente, no risco da “banalização do mal” de que nos falava a filósofa Hannah Arendt (1906-1975).
A crônica da humanidade é pródiga em desvelar o trágico fim de moralistas que empolgaram o poder e exercitaram aquilo que consideravam direito a seu talante. Basta lembrar a funesta saga do monge Girolamo Savonarola (1452-1498), o qual, com pregações apocalípticas, extinguiu o virtuoso capítulo do Renascimento florentino. Acabou seus dias ardendo numa fogueira.
Ou a do deputado jacobino Maximilien de Robespierre (1758-1794) que, durante a libertária Revolução Francesa, mandou executar arbitrariamente centenas de opositores reais ou imaginários. Terminou guilhotinado, abrindo caminho para Napoleão Bonaparte (1769-1821).
Quer tenham sobrevivido por mais tempo ou deixado a vida precocemente, os moralistas jamais foram absolvidos pela posteridade. RICARDO LEWANDOWSKI
As alternativas que têm sido apresentadas para 2018 nada têm de “novo”: Bolsonaro, Doria e Luciano Huck. O primeiro é conhecido pelo festival de frases racistas e homofóbicas que profere. O segundo , dizendo-se “não político”, foi eleito e abandonou a cidade que deveria governar. O terceiro, figura conhecida do público pelo seu trabalho na TV, quis abocanhar sem cerimônia uma área pública da praia onde instalou sua mansão. Esses são personagens que permeiam a política brasileira há séculos —ou não?
MARA CHAGAS
Lula nunca iria concorrer a um mandato posterior ao seu próprio e ao de Dilma porque não é estúpido. Sabia que os governos do PT tinham destruído a herança organizada recebida e que o desastre era inevitável e iminente. Melhor ficar com a obtusa “presidenta”, que pagaria o pato.
JOAQUIM BAYMA
A pesquisa é válida e importante, mas é importante ponderar que há viés. Admitir que se é sugestionável pelo seu líder religioso é desagradável diante dos demais e de si mesmo. É sinal de radicalismo e pobreza (é um dos estereótipos do pobre). É por essa razão que o Datafolha encontrou dados em tese contraditórios em relação a outras pesquisas. Por isso a bancada religiosa é tão forte, assim como esse movimento que se diz conservador, mas na prática é neofascista (“Voto religioso só guia 2 entre 10 brasileiros, diz Datafolha”, “Poder”, 23/10).
GRACIANO GARCIA
Na próxima eleição, eu não vou votar em nenhum candidato ligado a religião, ao agronegócio e a sindicatos.
O presidente Michel Temer se mostra incapaz de perceber a realidade. Aparece para “comemorar” a assinatura da iniciativa de conversão de multas na preservação da natureza. Porém, ele se esquece de que, meses atrás, assinou um decreto em total descaso com a Amazônia. Percebe-se que, além de faltarem políticas públicas em diversas áreas, tais como saúde, educação e cultura, falta também vergonha na cara.
ALUISIO BORGES JUNIOR
Nosso presidente anda, no mínimo, mal informado e mal assessorado! O atual governo não alterou em nada a atuação em relação ao maior desastre ambiental da nossa história. Pelo contrário, referendou e se subordinou ao termo de transação e ajustamento de conduta, assinado no governo Dilma, que foi extremamente benéfico às empresas. Na iminência de se completarem dois anos da tragédia de Mariana, o que se esperava do nosso presidente era respeito ao povo mineiro, que ainda sofre com os impactos diretos e indiretos do rompimento da barragem de Fundão. Não foi acidente, senhor Michel Temer!
CARLOS EDUARDO FERREIRA PINTO, para o caso Samarco (Belo Horizonte, MG)
Colunistas Ótimo texto o de Marcius Melhem. Irônico e inteligente. É preciso repetir mil vezes porque a memória, quando se trata dos tucanos, é curta. A imprensa logo irá enterrar isso. A ignomínia da impunidade não pode ser minimizada (“Dicas para as noites livres de Aécio”, “Ilustrada”, 22/10).
PRANCISKUS ALGIMANTAS ZIBAS
Sobre a coluna de Vinicius Torres Freire, pelo visto em um futuro próximo não poderemos mais fazer crediário nas Casas Bahia. Não teremos garantia de renda (“Partidos da Justiça no conflito social”, “Mercado”, 22/10).