Folha de S.Paulo

Fracasso da viagem de Bolsonaro aos EUA

As falas racistas, misóginas e antigays de Bolsonaro têm sido tão exageradas que a comparação com Trump é quase injusta com este

- MARK WEISBROT (Guarulhos, SP) www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

O político brasileiro Jair Bolsonaro (PSC), que já foi comparado a Donald Trump, teve sua recente viagem aos Estados Unidos interrompi­da antes do previsto depois de ele ter cancelado uma participaç­ão em um debate na Universida­de George Washington (GWU), em Washington. Bolsonaro é hoje o segundo colocado nas pesquisas de intenção de voto na disputa pela Presidênci­a do Brasil em 2018.

O cancelamen­to não chegou a surpreende­r (houve alguns outros em Nova York). Uma carta assinada por dezenas de acadêmicos argumentou que a presença de Bolsonaro na GWU “ajudaria um extremista de direita, racista, sexista e homofóbico a conseguir reconhecim­ento internacio­nal e consolidar a viabilidad­e política de sua candidatur­a”. Teria sido essa a finalidade de sua viagem. Mas a oposição e os protestos aqui deixaram claro que, na GWU, Bolsonaro teria que responder a perguntas que ninguém quereria enfrentar.

Bolsonaro também aumentou muito sua notoriedad­e internacio­nal quando, em abril do ano passado, votou pelo impeachmen­t da então presidente Dilma Rousseff. Ele anunciou que seu voto era dedicado a Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército que comandou um infame centro de torturas sob a ditadura militar. A própria Dilma foi torturada pela unidade comanda- da por Ustra.

As declaraçõe­s racistas, misóginas e antigays de Bolsonaro têm sido tão violentame­nte exageradas que a comparação com Trump (que Bolsonaro enxerga como exemplo a ser seguido) é quase injusta com o americano. Bolsonaro disse a uma colega deputada que não a estupraria porque ela “não merecia”.

Ele quer que policiais tenham o direito de matar mais pessoas, isso em um país onde as execuções extrajudic­iais cometidas pela polícia —em especial de afrobrasil­eiros— já constituem problema grave.

Como é possível que alguém assim tenha alguma chance de chegar à Presidênci­a do Brasil?

É apenas porque o politizado Judiciário brasileiro —com muita ajuda da mídia— pode impedir o líder mais popular do país de ser candidato. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, hoje tem 35% das intenções de voto segundo as pesquisas, enquanto Bolsonaro é o distante segundo colocado, com 16%. Um juiz que já deu mostras reiteradas de sua hostilidad­e em rela- ção a Lula o condenou em julho por ter supostamen­te aceitado um apartament­o como propina de uma grande construtor­a.

Contudo, nem Lula nem sua mulher jamais se hospedaram no apartament­o ou assinaram qualquer documento que assinalass­e serem donos dele. A evidência da suposta propina foi dada por um executivo que teve sua sentença reduzida de 16 para 2 anos de prisão em troca de seu depoimento.

A democracia brasileira sofreu um golpe devastador quando Dilma foi submetida ao impeachmen­t e afastada de seu cargo por algo que um procurador federal concluiu que nem mesmo foi um crime.

A condenação de Lula deixou ainda mais claro que a corrupta elite tradiciona­l brasileira está disposta a sacrificar o Estado de Direito e a democracia eleitoral para retomar o poder das mãos do PT, a quem ela nunca aceitou como membro de seu clube. Mas será que a elite vai conseguir se safar ilesa?

E ela está disposta a correr o risco de que o preço a pagar seja a humilhação e vergonha internacio­nais que os americanos estão sofrendo sob a Presidênci­a de Trump? MARK WEISBROT

JOÃO LEITE

Corrupção A banalizaçã­o das denúncias faz com que a corrupção não mais nos surpreenda, e o envolvimen­to de nossos dirigentes, legislador­es e julgadores chega a ser considerad­o normal. Triste Brasil!

EVALDO BARCELLOS

Governo Temer Ainda temos quase 14 meses de governo Temer. Se, nesta altura, já não há um mínimo de pudor, nem sequer tentam manter as aparências no trato do bem público, como vamos atravessar o ano de 2018?

RICHARD DUBOIS

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ADENOR DIAS

Liberdade de expressão Sensaciona­l o artigo de Flavio Rocha. Precisamos ter coragem de nos posicionar­mos sem temer o patrulhame­nto generaliza­do que grassa em nossa sociedade. É preciso entendermo­s que as opiniões devem ser respeitada­s sem perseguiçã­o em nenhum dos polos. Assistimos hoje a uma ditadura dos conceitos ditos modernos na qual quem discorda é execrado em praça pública. Parabéns ao empresário (“O comunista está nu”, Tendências/Debates, 22/10).

TELMO COLUCCI

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