Eleitorado se sentiu traído por Dilma, diz petista
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva responde a acusações coincidentes em duas denúncias distintas, ajuizadas pelo Ministério Público Federal. A informação consta em uma manifestação da PGR (Procuradoria-Geral da República), enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal) no mês passado.
Na Justiça Federal no DF, o petista é réu de ação penal sobre sua suposta participação numa organização criminosa que, em troca de propinas da Odebrecht, teria atuado para que o BNDES liberasse recursos para obras da empresa em Angola. O caso foi investigado na Operação Janus e tem outros dez implicados.
A imputação de favorecimento à empreiteira com financiamentos ao país africano também aparece na denúncia do “quadrilhão do PT”, oferecida pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, em 5 de setembro, contra o ex-presidente.
Essa peça é mais abrangente, listando outras situações em que o petista teria cometido crimes. Além dele, foram denunciados a ex-presidente Dilma Rousseff, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) e mais sete petistas.
Na manifestação, enviada ao Supremo junto com a denúncia, Janot pede que os autos da primeira instância sejam remetidos à corte por tratar de crimes praticados por um mesmo grupo. Para ele, há “continência” (ligação) com os fatos e os personagens descritos na Janus.
Conforme o Código do Processo Penal, quando isso ocorre, cabe a junção dos processos. Assim, evitam-se decisões conflitantes do Judiciário ou dupla punição.
“A Lula foi imputado o crime de organização criminosa, em razão de ilícitos referentes à Odebrecht e a uma série de empréstimos para financiamento de obras de engenharia no exterior. Tratase de mesma organização criminosa narrada na peça acusatória ora oferecida”, escreveu Janot.
Se o pedido do ex-procurador geral prosperar, Lula se livrará da ação na primeira instância. O caso está com o re- lator da Lava Jato no Supremo, ministro Edson Fachin, que ainda não decidiu a respeito. Consultada pela Folha, a nova procuradora-geral, Raquel Dodge, não comentou.
O mesmo pedido foi feito por Janot em relação a uma ação em curso na Justiça Federal em São Paulo que acusa o ex-tesoureiro do PT João Vaccari e o ex-ministro Paulo Bernardo de desviarem recursos do Ministério do Planejamento. O ex-procurador alega que a ação no Supremo se refere à mesma “organização” e é mais ampla por abordar mais ilícitos. DELAÇÃO DA ODEBRECHT Na denúncia referente à Janus, a Procuradoria da República em Brasília sustenta que Lula atuou para que o BNDES liberasse financiamentos para obras em Angola. Os serviços foram executados pela Odebrecht, que, em troca, teria contratado palestras do expresidente e feito pagamentos a pessoas a ele ligadas.
Para o MPF, os valores foram repassados em troca da suposta promessa de Lula de interferir perante o banco e outros órgãos responsáveis pelo “processamento” de empréstimos, entre eles o Cofig (Comitê de Financiamentos e Garantias).
A denúncia do “quadrilhão” descreve a suposta atuação de Lula para, entre 2009 e 2010, aumentar em US$ 1 bilhão a linha de crédito concedida pelo Cofig para Angola, de interesse da Odebrecht. O ex-presidente do grupo Marcelo Odebrecht e o pai dele, Emílio Odebrecht, disseram em delação premiada que o petista atuou para destravar os recursos.
Como contrapartida, a empreiteira teria lançado R$ 64 milhões na planilha “Italiano”, supostamente gerida pelo ex-ministro Antonio Palocci para o repasse de propinas ao PT e seus integrantes. ‘REPETIÇÃO’ Questionada, a Procuradoria em Brasília informou que concorda com a remessa da ação ao Supremo. O advogado de Lula, Cristiano Zanin, afirmou, em nota, que há “uma clara repetição de acusações” contra seu cliente, evidenciando a “sanha acusatória” de setores do MPF. “A mesma acusação feita no STF está presente em ações penais propostas em primeiro grau. Há necessidade de reunião de todas as ações que atribuíram a Lula, indevidamente e sem base real, participação em crime de organização criminosa”, disse.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, em entrevista ao jornal espanhol “El Mundo”, que o eleitorado se sentiu traído quando a ex-presidente Dilma Rousseff promoveu o ajuste fiscal porque, nas eleições de 2014, ela tinha prometido manter as despesas.
Para ele, esse foi o segundo erro da presidente. O maior, afirmou, foi a política de desoneração às empresas.
“Começamos a perder credibilidade. O ano de 2015 foi muito semelhante ao de 1999, quando FHC teve uma popularidade de 8% e o Brasil quebrou três vezes. Mas o presidente da Câmara era Michel Temer e ele o ajudou. Nós tivemos o Eduardo Cunha.”
Na primeira versão da entrevista publicada neste domingo (22) pelo “El Mundo” e reproduzida pela Folha ,o site do jornal afirmava que Lula disse que Dilma “traiu seu eleitorado” ao promover o ajuste fiscal. Nesta segunda-feira, no entanto, o “El Mundo” fez a correção na frase do ex-presidente.
Lula diz também na entrevista ter certeza de que, assim como ele, Dilma pensava que ele deveria ter concorrido em seu lugar nas eleições de 2014.
Ao responder se estava arrependido por não ter disputado, Lula disse que não porque foi leal a Dilma. “Ela tinha direito de ser reeleita. Mas eu pensei nisso muitas vezes e eu sei que Dilma também. O que acontece é que eu não sou o tipo de pessoa que se arrepende.”
Ao ser questionado sobre a hipótese de não concorrer, Lula disse que espera disputar a Presidência, mas que “ninguém é imprescindível”. “Existem milhares de Lulas.”
O ex-presidente falou ainda sobre o ex-ministro Antonio Palocci, que negocia acordo de delação premiada com a Lava Jato e afirmou, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que Lula avalizou um “pacto de sangue” com a Odebrecht por supostas propinas ao PT.
Afirmou que Palocci fez uma delação sob pressão e que a única verdade em seu relato foi ter reconhecido que buscava o benefício da lei.
Sobre o venezuelano Nico- lás Maduro, afirmou que não dá nenhum apoio incondicional. “Defendo para a Venezuela o mesmo para o Brasil, que é cuidar de seus assuntos sem interferência externa.”
E sobre o presidente americano, Donald Trump, Lula disse que não se deve governar pelo Twitter. CARAVANA EM MINAS Dilma Rousseff chegou nesta segunda (23) à cidade de Ipatinga, onde participou da abertura da caravana que Lula cumpre pelo Estado de Minas. Originalmente, ela iria se incorporar à caravana apenas na sexta-feira, na cidade de Montes Claros.
Mas a ex-presidente resolveu alterar seu roteiro após a divulgação da entrevista em que Lula faz críticas à política econômica da sucessora.
Na pista do aeroporto de Ipatinga, Lula sugeriu que Dilma posasse para uma fotografia ao seu lado.
Segundo presentes, ele afirmou que a atitude serviria para apagar a ideia de que a relação estava estremecida depois das críticas feitas. Os dois participaram de ato na cidade com o governador petista Fernando Pimentel.