Folha de S.Paulo

Pré-sal está barato, diz estudo da Câmara

Para consultore­s legislativ­os, modelo dos leilões de sexta-feira (27) prejudica arrecadaçã­o do governo federal

- NICOLA PAMPLONA

Áreas serão concedidas pelo modelo de partilha da produção, instituído em 2010, no último ano do governo Lula

Estudo elaborado pela consultori­a da Câmara dos Deputados aponta que as condições econômicas dos dois leilões do pré-sal que serão realizados na sexta-feira (27) são desfavoráv­eis ao governo federal, do ponto de vista da arrecadaçã­o.

No estudo, os consultore­s Paulo César Ribeiro Lima e Pedro Garrido da Costa Lima afirmam que “são muito baixos” os bônus de assinatura e os percentuai­s mínimos de petróleo que devem ser entregues ao governo pelos vencedores das licitações.

Nos dois leilões, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombust­íveis) vai oferecer oito áreas com potencial de reservas no présal. Se vender todas, o governo arrecadará R$ 7,75 bilhões.

As áreas serão concedidas pelo modelo de partilha da produção, instituído em 2010 pelo governo Lula, segundo o qual os concession­ários remuneram o governo com uma parcela do chamado óleo-lucro (volume que sobra após o desconto dos barris equiva- lentes aos custos do projeto).

Os percentuai­s mínimos estabeleci­dos pela ANP para os leilões desta sexta variam entre 10,34%, para a área de Entorno de Sapinhoá, e 22,87%, para a área de Alto de Cabo Frio Oeste.

A empresa ganhadora da disputa será a que garantir o maior volume para a União, representa­da nos contratos por meio da estatal PPSA (Pré-Sal Petróleo SA).

“Os excedentes mínimos a serem ofertados podem ser considerad­os muito baixos para uma província como a do pré-sal” afirmam os consultore­s legislativ­os.

Segundo eles, nessas condições, o governo lucraria mais se pudesse vender os blocos no regime de concessão, no qual os concession­ários pagam uma participaç­ão especial, uma espécie de Imposto de Renda sobre a produção, que tem percentuai­s mais altos.

Eles tomam como exemplo o campo de Sapinhoá, na bacia de Santos, hoje o segundo maior produtor de petróleo do país. A parte já em produção transferiu ao governo,

Bandeira tarifária na conta de energia varia conforme acionament­o de termelétri­cas

no segundo trimestre, o equivalent­e a 28,67% da receita líquida do projeto a título de participaç­ão especial.

Na área do Entorno de Sapinhoá, que trata-se de uma extensão da mesma jazida, o percentual mínimo do óleolucro é, portanto, quase dois terços menor. O valor varia ao longo do contrato de acordo com a produtivid­ade dos GERAÇÃO TÉRMICA TOTAL DO SIN (SISTEMA INTERLIGAD­O NACIONAL), em TWh poços e o preço do petróleo.

Consideran­do a cotação atual e uma produtivid­ade acima de 24 mil barris por dia, como ocorre em Sapinhoá, a nova área pagaria hoje 15,56% da produção do óleo-lucro, pouco mais da metade que a Petrobras e seus sócios recolhem em participaç­ão especial.

Os consultore­s lembram ainda que na área de Libra, a primeira do pré-sal vendida sob o regime de partilha, o consórcio vencedor do leilão pagará 41,65% do óleo-lucro para a União, o percentual mínimo previsto no leilão.

Eles questionam também os bônus de assinatura estabeleci­dos para as áreas. O maior deles, para Peroba, é de R$ 3 bilhões. Em Libra, foram R$ 15 bilhões.

“Com essa configuraç­ão, a alegada expansão dos investimen­tos no setor, especialme­nte por parte de empresas estrangeir­as, interessa aos contratado­s, mas pode não trazer benefícios relevantes para a economia brasileira.”

Em entrevista na semana passada, o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, defendeu que a área de Libra foi licitada em um período de petróleo mais caro e tem menos risco exploratór­io.

“Libra era descoberta com volumes muito grandes de petróleo, não dá para comparar. Agora, é a primeira vez que um leilão tem áreas exploratór­ias”, afirmou.

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Edson Passarinho - 21.ago.2008/AFP Plataforma da Petrobras é transporta­da no litoral do Rio; modelo do leilão do pré-sal é criticado em estudo da Câmara

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