Folha de S.Paulo

Novo cálculo na conta de luz evitaria uma disparada de preço em ano eleitoral

- TAÍS HIRATA ANAÏS FERNANDES

A mudança de cálculo da bandeira tarifária na conta de luz, que poderá ocorrer em novembro, aliviaria o caixa das distribuid­oras de energia e evitaria que as empresas façam reajustes altos das tarifas em 2018, ano eleitoral.

A bandeira serve para repassar ao consumidor os custos extras das distribuid­oras ao longo do ano. É o que ocorre quando falta água: as empresas contratam energia mais cara para compensar o nível baixo das hidrelétri­cas, e as bandeiras amarelas e vermelhas são acionadas.

Essas altas, porém, não têm sido suficiente­s para cobrir as despesas das distribuid­oras. O rombo previsto até o fim de 2017 é de R$ 6 bilhões.

“Esse deficit ultrapassa em 50% a capacidade de geração de caixa das distribuid­oras. Se o cálculo não for reavaliado em novembro, há o risco de não conseguire­m honrar seus compromiss­os”, diz Nelson Leite, presidente da Abradee (associação do setor).

Em tese, esse rombo seria coberto com o reajuste anual da tarifa, mas, como boa parte deles ocorrerá a partir de abril, há um temor de que as empresas não tenham caixa para suportá-lo, diz.

A ideia da Aneel (agência reguladora do setor) é incluir no cálculo da bandeira o nível dos reservatór­ios, que hoje não é considerad­o.

A mudança, que implicaria em uma tarifa maior, funcionari­a como um parcelamen­to do reajuste: com altas menores a cada mês, o aumento em 2018 não seria tão drástico.

“A alta será amenizada, mas vai ocorrer de qualquer jeito. A diferença é que em vez de 35%, por exemplo, será 15%”, diz Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc, comerciali­zadora de energia.

Para Leite, a mudança não teria caráter político. “O ideal é que a decisão siga critérios de racionalid­ade econômica.”

A Abradee não tem uma projeção dos reajustes de 2018, que variam conforme a distribuid­ora, mas sinaliza que seriam ainda maiores que os anunciados recentemen­te.

Para ter uma dimensão das altas aprovadas no último mês: a Cepisa, do Piauí, definiu um reajuste médio de 27,63%, e a EDP, que atende parte do Estado de São Paulo, elevou a conta em 24,37%.

A Aneel informou que a questão será debatida nesta terça (24) durante reunião da diretoria, em que se discutirá a abertura de uma audiência pública sobre o tema.

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