Folha de S.Paulo

Parabéns, ONU

- NIZAN GUANAES COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo:

EM 2011, numa solenidade memorável, o artista plástico Vik Muniz, o também artista e empresário da moda Oskar Metsavaht e eu fomos eleitos embaixador­es da boa vontade da Unesco.

Pelas mãos de uma das melhores amigas que o Brasil tem no exterior, Bethy Lagardère, nós três fomos depois da posse ao Palácio do Eliseu, sede do governo francês, para almoço que este baiano nascido no Pelourinho jamais poderia imaginar —estavam à mesa apenas o então presidente Nicolas Sarkozy, a primeira-dama Carla Bruni, Bethy Lagardère e nós três. Este é o peso da Unesco. Minha mãe queria que eu fosse diplomata. Virei publicitár­io e depois também empresário. Mas a vida, com sua dinâmica, consertou isso. Nessa terceira fase da vida, na porta dos 60, quero ser cada vez mais embaixador.

Hoje a ONU faz 72 anos. Ela pode ter todas as imperfeiçõ­es humanas. Mas, em milhares de áreas de conflitos e refugiados pelo mundo, é a ONU, com seus capacetes azuis e em tantas outras roupagens, que remedia o drama humano e contribui para construir uma cultura de paz.

Se vamos melhorar a ONU, vamos melhorá-la por dentro. Causa revolta quando os EUA, o país mais importante do mundo, decidem sair da Unesco, como anunciado pelo governo Donald Trump, tal qual um menino que pega a bola e diz que não quer mais jogar.

Os EUA são importante­s demais para assumirem essa atitude. A ONU está no centro das grandes decisões do mundo, mas ela também está, por meio da Unesco e da Unicef, no dia a dia da humanidade. Ela participa, por exemplo, de iniciativa­s essenciais e consagrada­s pelos brasileiro­s, como o Bolsa Família, a reforma do ensino médio, o Pronatec, a proteção ao nosso patrimônio histórico, o vital programa de prevenção à Aids e muito mais.

A Unesco trabalha por meio de cooperação técnica com o setor público e o privado, como no consagrado Criança Esperança, com a TV Globo, e numa parceria que muito me honra com a Central Única das Favelas (Cufa).

Em 1945, 44 países adotaram a Constituiç­ão da Unesco e escreveram um parágrafo que define o espírito de sua ação: “Uma vez que as guerras se iniciam nas mentes humanas, é nas mentes humanas que precisa ser construída a defesa da paz”.

Como publicitár­io, sei mexer com a mente das pessoas, mas a vida toda dediquei meu tempo e mobilizei meu grupo empresaria­l para abraçar causas ligadas às imensas demandas sociais do Brasil e do mundo. É por esse trabalho que a Unesco me elegeu embaixador da boa vontade, como Milu Villela e Pelé.

Ser embaixador da Unesco e do esporte paraolímpi­co brasileiro, como também sou, não é um privilégio, é uma missão.

E é como embaixador e, sobretudo, como homem de boa vontade, que agradeço à diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, por sua atuação dedicada e apaixonada. Foi ela quem me apontou embaixador e agora está deixando o cargo.

Obrigado Irina, e bem-vinda Audrey Azoulay, ex-ministra da Cultura da França.

Azoulay vem de família judia marroquina, é socialista e filha de banqueiro. Mulher, francesa, marroquina, judia, socialista, filha de banqueiro, ela traz em si todas as intenções e contradiçõ­es da natureza humana presentes na Unesco.

A Unesco, a ONU e outras grandes instituiçõ­es mundiais são centro de pecadores como Pedros e Franciscos. Elas são organizaçõ­es lindas, falhas e humanas. Mas é trabalhand­o dentro delas que vamos construir esse tão difícil e tão sonhado mundo melhor. NIZAN GUANAES,

Entidade, que completa 72 anos, tem imperfeiçõ­es, mas construção da cultura global de paz passa por ela

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