Folha de S.Paulo

Turista morre baleada por PM na Rocinha

Espanhola fazia tour na favela; dois policiais foram presos, e versão de que carro furou bloqueio é investigad­a

- LUCAS VETTORAZZO

Manhã na comunidade teve confronto entre traficante­s e policiais, com dois PMs e um suspeito feridos a tiros

Uma turista espanhola de 67 anos morreu após ser atingida por tiro da polícia na favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio, na manhã desta segunda (23). Um soldado e um oficial da PM foram presos devido à ação.

Segundo a corporação, ela estava, com outros turistas, em um carro que teria furado um bloqueio policial às 10h30 no largo do Boiadeiro, área na parte alta da favela. Sem saber quem eram os passageiro­s, os policiais teriam disparado, atingindo a turista Maria Esperanza Jimenez.

Essa versão ainda é alvo de investigaç­ão, segundo Fábio Cardoso, titular da Delegacia de Homicídios. O motorista e uma turista que estava no veículo disseram que não viram nenhum bloqueio policial.

A morte ocorreu em uma manhã marcada por confrontos entre policiais e traficante­s. Dois PMs e um suspeito ficaram feridos após troca de tiros por volta das 9h30. FUZIL O caso será investigad­o pela corregedor­ia da PM. A corporação disse que, pelo manual de abordagem, os policiais não devem efetuar disparos em situações como a desta segunda, mas realizar perseguiçã­o ao veículo.

Maria Esperanza morreu após levar um tiro de fuzil na região do pescoço. Ela era uma empresária do ramo imobiliári­o da cidade de Puerto de Santa María, em Cádiz, no sul da Espanha.

Segundo a delegada Valéria Aragão, titular da Delegacia de Atendiment­o ao Turista, havia cinco pessoas no carro no momento do disparo — três turistas espanhóis, um motorista com cidadania italiana e radicado no Brasil e uma guia turística brasileira.

Uma empresa espanhola teria contratado uma empresa de locação de carros com motorista e uma guia terceiriza­da para fazer esse tour. O Fiat Freemont em que estavam foi atingido por dois tiros, um deles na parte traseira.

Segundo a delegada Valéria, os turistas deixaram um hotel em Botafogo e seguiram para a favela às 8h40. Uma hora depois, houve confronto no local. A empresa turística não teria alertado os clientes do risco da atividade.

Não é comum carros de passeio fazerem serviço de transporte de turistas na favela. Em geral, as operadoras de turismo levam turistas para a comunidade em jipes abertos, e não em carros fechados.

O carro teria deixado os turistas na parte baixa da favela para um passeio a pé e sido acionado para buscá-los na região do Boiadeiro, conhecida por abrigar uma boca de fumo e usada também como rota de fuga por traficante­s —a área não costuma ser visitada por turistas.

Em agosto, uma inglesa foi baleada por traficante­s em uma favela de Angra dos Reis. Em dezembro, um turista italiano foi morto na favela dos Prazeres, em Santa Teresa, centro do Rio. Nos dois casos, os viajantes entraram na favela por engano e foram mortos por traficante­s. GUERRA A Rocinha vive clima de guerra há mais de um mês devido à disputa entre criminosos. Tropas das Forças Armadas chegaram a cercar a comunidade por uma semana.

Agora, a favela está ocupada por 550 PMs, que fazem incursões diárias na parte alta em busca de traficante­s.

Os conflitos começaram depois de um racha na facção ADA (Amigos dos Amigos), que dominava a venda de drogas na favela. O traficante Rogério 157 teria desobedeci­do uma ordem de Nem, que está preso em Rondônia, para devolver bocas de fumo.

A despeito da presença policial, há indícios de que homens dos dois grupos ainda permanecem na favela. Rogério 157 estaria se aliando à facção CV (Comando Vermelho), a maior do Rio. Desde que os conflitos começaram, 44 pessoas foram presas e pelo menos 11 pessoas morreram.

O Rio enfrenta grave crise financeira e está perto de um colapso na segurança. Um efeito da crise tem sido a alta da criminalid­ade —e queda do efetivo de policiais em UPPs.

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Márcio Alves/Agência O Globo Carro que transporta­va turistas na favela da Rocinha, na zona sul do Rio, chega à emergência do Hospital Miguel Couto
 ?? Divulgação/Polícia Civil ?? » ESCOLA DESTRUÍDA Após discussão com professora, um adolescent­e incendiou sua escola em Feijó (AC) durante a madrugada de sábado (21); ninguém se feriu
Divulgação/Polícia Civil » ESCOLA DESTRUÍDA Após discussão com professora, um adolescent­e incendiou sua escola em Feijó (AC) durante a madrugada de sábado (21); ninguém se feriu
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Reprodução Documento de identifica­ção da turista espanhola morta

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