Folha de S.Paulo

Condephaat libera torres ao lado do Oficina

Órgão de preservaçã­o reverteu decisão anterior, que havia vetado projeto de construtor­a do grupo Silvio Santos

- JOÃO CARNEIRO GUSTAVO FIORATTI

Zé Celso, diretor de grupo que tem sede no teatro, diz que projeto infringe tombamento e vai recorrer da decisão

O Condephaat, órgão estadual de defesa do patrimônio, reverteu na manhã desta segunda (23) uma decisão de 2016 que proibia a construção de torres da Sisan, braço imobiliári­o do grupo Silvio Santos, em um terreno vizinho ao Teatro Oficina, no bairro do Bexiga, em São Paulo.

A construção precisa passar por aprovação do órgão porque o terreno se encontra na área envoltória do edifício tombado do grupo, que tem projeto de Lina Bo Bardi.

Uma caracterís­tica do teatro é uma grande janela em uma de suas laterais, que permite ao espectador ver a paisagem da cidade inclusive durante as sessões teatrais.

O projeto conjuga três torres, e duas delas tampariam essa vista. Por causa do volume e da altura dos prédios, o diretor do Oficina, José Celso Martinez Corrêa, trava longo embate com o Grupo Silvio Santos e a construtor­a.

Para ser construído, o empreendim­ento ainda deve passar por aprovação do Conpresp e do Iphan, órgãos de patrimônio municipal e federal, respectiva­mente. BEXIGA Segundo a assessoria do Iphan, o órgão analisou três projetos da Sisan para o terreno, e um deles foi “dispensado de análise, pois a área de proteção da vizinhança do Teatro Oficina, tal como definida pelo Departamen­to de Patrimônio Material e Fiscalizaç­ão, não alcança o imóvel do projeto em questão”.

O órgão não soube explicar a diferença entre os três projetos até a conclusão desta edição. A hipótese para a liberação de análise de um deles, diz a arquiteta Carila Matzenbach­er, que representa o grupo de Zé Celso nos processos, é de que se trata de apenas uma das torres, e não do conjunto. Essa torre não interfere na vista da janela do Oficina, diz, mas na iluminação da sala quando seu teto retrátil é aberto. A arquiteta também fala do impacto do projeto no trânsito da região.

O Teatro Oficina afirma que as construçõe­s “encaixotar­iam” seu edifício.

Outro argumento do grupo é de que o empreendim­ento dificultar­ia a “contracena­ção” do teatro com o entorno, o que, segundo eles, é importante para sua dramaturgi­a.

O voto do conselheir­o relator, Fábio André Uema Oliveira, considerou que as construçõe­s não prejudicam as atividades do Teatro Oficina e que a “contracena­ção” mencionada pelo grupo não justifica que se mantenha um terreno vazio.

O recurso da Sisan foi aprovado com o mínimo necessário de 15 votos, ou dois terços dos conselheir­os presentes. Sete deles foram contra. “Desta maneira, o Grupo po- de dar prosseguim­ento ao processo de obtenção do alvará para realização da obra”, informa assessoria do órgão.

O diretor do Oficina e o vereador Eduardo Suplicy (PTSP) estavam presentes à sessão e se manifestar­am contra a construção das torres.

Zé Celso afirma que a decisão é um “conluio” e que provocará o “genocídio” do bairro do Bexiga, onde o prédio está situado.

“Vamos recorrer [da decisão] ao Ministério Público, vamos tomar todas as medidas necessária­s.”

Outros bens tombados, como o Teatro Brasileiro de Comédia e a Casa da Dona Yayá, também são vizinhos do empreendim­ento. PROPOSTA A proposta do Teatro Oficina é que o terreno passe a ser público por meio de uma desapropri­ação ou da troca de imóveis e que se implante um parque com um teatro ao ar livre no local.

Em agosto, Zé Celso, Suplicy, Silvio Santos e o prefeito João Doria chegaram a se reunir para negociar uma solução, mas não houve acordo.

Após a reunião, Zé Celso acusou Silvio Santos de ter oferecido uma “propina” de R$ 5 milhões para que ele desistisse da disputa. À época, a assessoria de Silvio Santos disse que ele não se manifestar­ia sobre a acusação.

Cerca de 30 apoiadores do Oficina, incluindo atores do grupo, também estavam presentes à sessão de segunda.

Houve confusão ao final da votação porque alguns gritaram que o cálculo do número de votos necessário­s para a reversão da decisão estava errado —mais tarde, percebeu-se que ele estava correto. Ouviram-se gritos de “fascistas” enquanto os conselheir­os deixavam o auditório.

No dia 13/11, integrante­s do Oficina e da Sisan, além de Suplicy e Doria, devem se reunir em almoço na prefeitura para debater o caso.

Procurada, a Sisan não quis se manifestar.

ISABELLA MENON MARIA LUÍSA BARSANELLI

 ?? Fotos Gabriela Di Bella - 30.jan.2016/Folhapress ??
Fotos Gabriela Di Bella - 30.jan.2016/Folhapress
 ??  ?? Na foto de cima, terreno para o qual a construtor­a Sisan projetou três torres; na de baixo, vista interna do Teatro Oficina, cujo janelão seria tampado pela construção na vizinhança
Na foto de cima, terreno para o qual a construtor­a Sisan projetou três torres; na de baixo, vista interna do Teatro Oficina, cujo janelão seria tampado pela construção na vizinhança

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil