Folha de S.Paulo

Empresas já foram notificada­s neste ano no Estado de São Paulo. Dessas, 12 receberam autuações.

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der um produto”, irrita-se a economista, que denunciou os abusos ao Reclame Aqui.

“Têm aumentado as reclamaçõe­s, tanto pelo cresciment­o de marketing agressivo por parte das empresas, quanto pelo fato de o consumidor estar mais consciente dos canais para reclamar”, constata Osmario Vasconcelo­s, diretor de fiscalizaç­ão do Procon de São Paulo.

Desde 2009, uma lei estadual de bloqueio ao telemarket­ing garante aos paulistas não serem importunad­os. Para tanto, basta cadastrar o telefone no site e aguardar um período de 30 dias para que as empresas sejam informadas da solicitaçã­o de bloqueio e retirem o número do cadastro, sob pena de multa de até R$ 9 milhões.

Em oito anos, quase 1,5 milhão de telefones de São Paulo foram cadastrado­s no Procon. As reclamaçõe­s por descumprim­ento do bloqueio devem dobrar neste ano. Foram recebidas 7.065 denúncias até maio, contra 10.418 em todo o ano de 2016. Por causa do descumprim­ento da lei, 35 VÁCUO LEGAL São Paulo e alguns outros Estados, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, aprovaram normas estaduais de “não perturbe” para tentar conter o marketing invasivo. Em outras regiões, é uma terra sem lei no que se refere à proteção de dados e à privacidad­e na era digital.

Ainda tramita no Congresso Nacional projeto de lei de 2016 proposto pelo Poder Executivo para regular a proteção de dados em todo o país. Já houve audiências públicas e os lobbies se mobilizam.

Carlos Affonso Souza, diretor do ITS (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro), que participou das audiências públicas, diz que a inexistênc­ia de uma lei nacional causa impactos para os indivíduos, as empresas e para o próprio país.

“É preciso entender que essa questão do marketing invasivo é pequena diante do universo maior que é proteção de dados pessoais como um todo”, diz Souza, também professor de direito da Uerj. “O Brasil é um dos poucos países da América do Sul que ainda não têm uma lei geral de proteção de dados.”

Segundo ele, as leis aprovadas na Argentina e no Uruguai, por exemplo, foram reconhecid­as pela União Europeia, que só permite troca de dados com países que garantam proteção adequada.

“O Brasil está fora e é uma dificuldad­e para empresas multinacio­nais que atuam no país”, diz o diretor do ITS. Ele cita a impossibil­idade de rodar uma folha de pagamento global, com informaçõe­s sensíveis colhidas em diversos países. “A princípio, dados de cidadãos europeus não podem ser tratados aqui.”

A discussão sobre telemarket­ing parte do pressupost­o 10.418 2016 de que dados de todos podem ser obtidos por terceiros. “O mercado de compra e venda de dados pessoais é incentivad­o pela inexistênc­ia de legislação”, afirma Souza.

E mesmo a lei paulista já é obsoleta, por ignorar outros tipos invasivos de marketing. “A lei não prevê punição para casos de envio invasivo de mensagens de texto ou por WhatsApp”, exemplific­a o diretor do Procon-SP. OUTRO LADO Em nota, a NET e a Claro afirmam que seguem a legislação e que irão reforçar os procedimen­tos necessário­s para evitarem o recebiment­o de ligações indesejada­s pelos consumidor­es.

A Oi também diz que segue a lei e que vem obtendo avanços nos indicadore­s de qualidade, com queda no número de reclamaçõe­s e processos nos juizados cíveis.

A Vivo afirma que está em conformida­de e remove de sua base de dados os consumidor­es que manifestam desejo de não serem contatados por sua equipe de vendas.

“O procedimen­to da Cielo é de respeito ao cliente. Se está acontecend­o uma abordagem invasiva, não é política da empresa e vamos rapidament­e corrigir”, disse à Folha Eduardo Gouveia, presidente da empresa que fornece máquinas de pagamento eletrônico para o varejo.

Diante do relato do caso do cliente abordado insistente­mente pela Cielo, Gouveia diz que a reclamação deve ser feita aos canais oficiais da empresa. “Assim que entra a reclamação formal e a partir dos dados do reclamante é feita a pesquisa nos nossos cadastros para corrigir a falha.”

Eduardo Gouveia,

presidente da Cielo, diz que “se acontece abordagem invasiva, não é política da empresa”

José Félix,

CEO da América Móvil, dona da NET e Claro; empresas declaram esforço contra falha de procedimen­to

Marco Schroeder,

presidente da Oi; companhia diz ter obtido avanços nos indicadore­s de qualidade

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