Artrite reumatoide e retrocesso no SUS
Governo está revertendo o avanço que o Brasil obteve no tratamento dessa doença, com tese que favorece seus cofres, não os pacientes
Artrite reumatoide é uma doença autoimune de natureza inflamatória, na qual vários componentes do sistema imune combatem as células das articulações, podendo atingir também outros tecidos do corpo humano.
A doença se manifesta por dor e inchaço nas juntas das articulações, como mãos, punhos, quadris e joelhos. Essas regiões podem ser acometidas ao mesmo tempo ou em diferentes períodos ao longo da evolução da enfermidade, o que se denomina de poliartrite migratória. Estima-se que a doença afete cerca de 1% da população mundial, com incidência maior no sexo feminino.
Embora sua alta complexidade dificulte o tratamento, nas últimas duas décadas houve grande progresso no arsenal medicamentoso. Os produtos conhecidos como biológicos (por não serem produzidos por síntese química) ajudaram os pacientes com o alívio da dor típica da artrite e hoje já estão disponíveis no Sistema Único de Saúde. Essa terapia atenua sintomas e deformidades, reduzindo a necessidade de cirurgias e absenteísmo.
O alívio, porém, não perdura. Com o tempo, em períodos que variam de meses a anos, a maioria dos pacientes para de responder favoravelmente ao tratamento. É necessária, assim, a troca por produtos com outro mecanismo de ação.
O Ministério da Saúde anunciou sua intenção de comprar somente dois dos oito medicamentos biológicos disponíveis hoje no sistema público, segundo nota publicada nesta Folha em 18 de julho de 2017, na coluna Mercado Aberto.
O governo teria apresentado estudos que comprovariam os benefícios de adquirir apenas esses produtos, de forma a onerar menos seus cofres. Mas esses estudos não têm fundamento científico, apenas econômico, e defendem uma tese que favorece exclusivamente o governo. E não o paciente.
Com essa medida, o governo está revertendo o enorme avanço que o Brasil obteve no tratamento da artrite reumatoide nos últimos anos, um verdadeiro exemplo de sucesso, várias vezes apresentado internacionalmente por comprovar a importância de o país oferecer esses medicamentos na rede pública. Quem mais se beneficiou com a inclusão dos biológicos no SUS foram os pacientes. E são eles que mais serão prejudicados caso essa medida se concretize.
Há outras formas de reduzir custos, como o processo de transferência de tecnologia, em parcerias nas quais as indústrias farmacêuticas que investirem na produção de medicamentos biossimilares tenham seus interesses preservados nas compras do Ministério da Saúde.
Ainda estamos longe de uma cura para a artrite reumatoide, mas estamos trabalhando para termos cada vez mais opções medicamentosas, com diferentes mecanismos de ação, para podermos continuar tratando a doença mesmo quando a primeira linha de terapia deixou de funcionar. Neste momento, há mais de 60 novos medicamentos sendo testados. Mas nada disso chegará ao paciente se não criarmos formas de tornar esses produtos acessíveis.
É preciso haver um equilíbrio entre a ciência e a economia. O ponto aqui é que não devemos nos esquecer da doença, e de como fazemos para controlá-la.
Excluir esses medicamentos seria prejudicial a todos, principalmente considerando o envelhecimento da população e a necessidade de mantermos a qualidade de vida dos brasileiros, para que permaneçam economicamente ativos. Perdem todos. E quem ganha são os cofres públicos. MORTON SCHEINBERG
Depois de ser desprezado pelo papa, o presidente Temer se diz feliz por Paulinho da Força querer uma foto ao seu lado (Painel, “Poder”, 25/10). Que consolo!
CARLOS B. MARCONDES
Reforma da Previdência A CPI da Previdência, com cálculos, fatos e números, chegou a uma conclusão que não agradou ao conservadorismo dos editoriais da Folha. Então, em vez de contestar no mesmo nível, o jornal apenas se prestou a desqualificar a CPI, sem apresentar nenhum fato ou argumento sólido para combatê-la (“Arroubo demagógico”, “Opinião”, 25/10).
FLÁVIO FONSECA
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A nova lei trabalhista revelase em muitos pontos inconstitucional. Sobre o artigo “Nova lei trabalhista fortalece sindicatos” (Tendências/Debates, 25/10), a Federação Paulista dos Empregados em Postos de Combustíveis concorda apenas com o entendimento de que dos resultados das negociações coletivas derivam as definições de que as relações do trabalho podem contribuir para o bem-estar dos trabalhadores e para o fortalecimento das atividades produtivas.
LUIZ DE SOUZA ARRAES,