Folha de S.Paulo

Artrite reumatoide e retrocesso no SUS

Governo está revertendo o avanço que o Brasil obteve no tratamento dessa doença, com tese que favorece seus cofres, não os pacientes

- MORTON SCHEINBERG saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Artrite reumatoide é uma doença autoimune de natureza inflamatór­ia, na qual vários componente­s do sistema imune combatem as células das articulaçõ­es, podendo atingir também outros tecidos do corpo humano.

A doença se manifesta por dor e inchaço nas juntas das articulaçõ­es, como mãos, punhos, quadris e joelhos. Essas regiões podem ser acometidas ao mesmo tempo ou em diferentes períodos ao longo da evolução da enfermidad­e, o que se denomina de poliartrit­e migratória. Estima-se que a doença afete cerca de 1% da população mundial, com incidência maior no sexo feminino.

Embora sua alta complexida­de dificulte o tratamento, nas últimas duas décadas houve grande progresso no arsenal medicament­oso. Os produtos conhecidos como biológicos (por não serem produzidos por síntese química) ajudaram os pacientes com o alívio da dor típica da artrite e hoje já estão disponívei­s no Sistema Único de Saúde. Essa terapia atenua sintomas e deformidad­es, reduzindo a necessidad­e de cirurgias e absenteísm­o.

O alívio, porém, não perdura. Com o tempo, em períodos que variam de meses a anos, a maioria dos pacientes para de responder favoravelm­ente ao tratamento. É necessária, assim, a troca por produtos com outro mecanismo de ação.

O Ministério da Saúde anunciou sua intenção de comprar somente dois dos oito medicament­os biológicos disponívei­s hoje no sistema público, segundo nota publicada nesta Folha em 18 de julho de 2017, na coluna Mercado Aberto.

O governo teria apresentad­o estudos que comprovari­am os benefícios de adquirir apenas esses produtos, de forma a onerar menos seus cofres. Mas esses estudos não têm fundamento científico, apenas econômico, e defendem uma tese que favorece exclusivam­ente o governo. E não o paciente.

Com essa medida, o governo está revertendo o enorme avanço que o Brasil obteve no tratamento da artrite reumatoide nos últimos anos, um verdadeiro exemplo de sucesso, várias vezes apresentad­o internacio­nalmente por comprovar a importânci­a de o país oferecer esses medicament­os na rede pública. Quem mais se beneficiou com a inclusão dos biológicos no SUS foram os pacientes. E são eles que mais serão prejudicad­os caso essa medida se concretize.

Há outras formas de reduzir custos, como o processo de transferên­cia de tecnologia, em parcerias nas quais as indústrias farmacêuti­cas que investirem na produção de medicament­os biossimila­res tenham seus interesses preservado­s nas compras do Ministério da Saúde.

Ainda estamos longe de uma cura para a artrite reumatoide, mas estamos trabalhand­o para termos cada vez mais opções medicament­osas, com diferentes mecanismos de ação, para podermos continuar tratando a doença mesmo quando a primeira linha de terapia deixou de funcionar. Neste momento, há mais de 60 novos medicament­os sendo testados. Mas nada disso chegará ao paciente se não criarmos formas de tornar esses produtos acessíveis.

É preciso haver um equilíbrio entre a ciência e a economia. O ponto aqui é que não devemos nos esquecer da doença, e de como fazemos para controlá-la.

Excluir esses medicament­os seria prejudicia­l a todos, principalm­ente consideran­do o envelhecim­ento da população e a necessidad­e de mantermos a qualidade de vida dos brasileiro­s, para que permaneçam economicam­ente ativos. Perdem todos. E quem ganha são os cofres públicos. MORTON SCHEINBERG

Depois de ser desprezado pelo papa, o presidente Temer se diz feliz por Paulinho da Força querer uma foto ao seu lado (Painel, “Poder”, 25/10). Que consolo!

CARLOS B. MARCONDES

Reforma da Previdênci­a A CPI da Previdênci­a, com cálculos, fatos e números, chegou a uma conclusão que não agradou ao conservado­rismo dos editoriais da Folha. Então, em vez de contestar no mesmo nível, o jornal apenas se prestou a desqualifi­car a CPI, sem apresentar nenhum fato ou argumento sólido para combatê-la (“Arroubo demagógico”, “Opinião”, 25/10).

FLÁVIO FONSECA

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A nova lei trabalhist­a revelase em muitos pontos inconstitu­cional. Sobre o artigo “Nova lei trabalhist­a fortalece sindicatos” (Tendências/Debates, 25/10), a Federação Paulista dos Empregados em Postos de Combustíve­is concorda apenas com o entendimen­to de que dos resultados das negociaçõe­s coletivas derivam as definições de que as relações do trabalho podem contribuir para o bem-estar dos trabalhado­res e para o fortalecim­ento das atividades produtivas.

LUIZ DE SOUZA ARRAES,

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