Folha de S.Paulo

Maia larga na frente de Temer na disputa pelo comando da pauta

Presidente da Câmara esticou a corda contra Planalto e se credencia como defensor das reformas

- MARINA DIAS

Maia recomendou a Temer que reflita sobre o resultado, mas disse que não o ensinaria a se relacionar com Câmara

Não foi com grande vantagem, mas Rodrigo Maia largou à frente de Michel Temer na maratona que vai definir quem conduzirá a agenda de recuperaçã­o econômica do país até meados de 2018.

Enquanto o presidente da República concedia, em troca de apoio, cargos no governo, emendas parlamenta­res e acesso à máquina federal em ano de eleição, entre outras benesses, o chefe da Câmara estimulava deputados da base aliada a darem a Temer uma vitória pífia, que obrigaria o Palácio do Planalto a permanecer refém das barganhas do Congresso.

E o resultado de apenas 251 votos favoráveis a Temer — menos da metade dos 513 que compõem a Casa— deu ao deputado ligeiro benefício.

Segundo a Folha apurou junto a integrante­s do mercado, principal pilar no apoio às medidas de ajuste fiscal, o tamanho da vitória desta quarta-feira (25) deixou o presidente “no limite”, sem força política para se livrar das chantagens dos parlamenta­res, atendidas prontament­e até aqui em troca do sepultamen­to da denúncia.

Empresário­s e investidor­es afirmam ter observado com atenção o plenário da Câmara durante todo o dia. Horas antes da votação, avaliavam que Temer tinha um teto de 253 votos, dez a menos do que obteve na sessão que barrou a primeira denúncia contra ele, se quisesse provar que ainda era capaz de governar.

A conta era objetiva: caso conseguiss­e mais de 263 votos como alardeavam ministros e líderes da base antes do resultado final, recuperari­a protagonis­mo e poderia, inclusive, aprovar uma reforma da Previdênci­a diluída.

O governo já admite colocar em votação mudanças na aposentado­ria de forma desidratad­a, preservand­o somente a idade mínima (65 anos para homens e 62 para mulheres), o tempo de contribuiç­ão de pelo menos 25 anos e uma regra de transição.

Se o presidente conseguiss­e entre 253 e 263 votos, mostraria certo fôlego na condução da pauta econômica, porém, sem capacidade de liderar a aprovação da reforma, mesmo nos novos moldes acordados pelo governo —a medida precisa do apoio de 60% dos congressis­tas.

Abaixo dos 253 votos, como foi o caso, o diagnóstic­o do mercado era ruim para Temer. Segundo essa avaliação, com o apoio de menos da metade da Câmara, o presidente só aprovaria no Congresso aquilo com que o comando das Casas concordass­e.

E o chefe da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem esticado a corda com o Planalto desde a votação da primeira denúncia, em agosto.

No cenário em que Temer salva seu mandato pela segunda e provavelme­nte última vez, Maia precisou reformular o discurso e testar seu protagonis­mo para 2018.

As articulaçõ­es miram seu projeto pessoal, de se reeleger deputado federal e presidente da Câmara, e o de seu partido, o DEM, o qual quer fortalecer e fazer avançar sobre uma fatia do eleitorado, de centro-direita, que interessa também ao PMDB.

Na previsão de aliados, a disputa entre Maia e Temer deve fazer com que o dia seguinte à crise, termo tão utilizado por ambos, se arraste até meados do ano que vem. REFLEXÃO Diante da apertada vitória de Temer, Maia disse que o presidente tem que refletir.

“Não usei a presidênci­a da Câmara nem quando o Planalto me desrespeit­ou”, disse Maia, aconselhan­do o governo a “avaliar resultados”.

“Cada um tem que conduzir a sua relação da forma que entende. Não vou ficar ensinando ao presidente da República, que foi presidente da Câmara três vezes, como ele tem que manter a relação com o Parlamento”, afirmou Maia.

DANIEL CARVALHO WLADIMIR COSTA (SD-PA)

Voto em uma linguagem bem parauara. Meu voto é paid’égua, tem sabor de açaí. Fica Temer, deixa o homem trabalhar Se o PT vota não, é claro que eu voto sim

ALBERTO FRAGA (DEM-DF)

Pelo compromiss­o do presidente em concluir o Linhão de Tucuruí e entregar as terras ao Estado de Roraima e pelo belo relatório do deputado Bonifácio de Andrada, eu voto sim

JHONATAN DE JESUS (PRB-RR)

 ?? Adriano Machado/Reuters ?? Deputados no plenário da Câmara nesta quarta-feira (25) durante a votação da segunda denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra Temer
Adriano Machado/Reuters Deputados no plenário da Câmara nesta quarta-feira (25) durante a votação da segunda denúncia da Procurador­ia-Geral da República contra Temer

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