Folha de S.Paulo

55% dos alunos de 8 anos não sabem ler e fazer conta direito

Quadro aparece em avaliação com estudantes no 3º ano da rede pública do país

- PAULO SALDAÑA

Situação preocupant­e no ano passado revela estagnação em relação a exame anterior; há forte diferença regional

Mais da metade dos alunos do 3º ano do ensino fundamenta­l da rede pública do Brasil têm níveis de leitura e matemática considerad­os insuficien­tes, segundo dados de avaliação nacional de alfabetiza­ção realizada no ano passado. Em escrita, mais de um terço estão defasados.

Na comparação com a última edição, em 2014, a situação é de estagnação em leitura: 56% dos alunos estavam em níveis insuficien­tes em 2014, e agora são 55%. Esses alunos não teriam a competênci­a de localizar uma informação explícita em textos como lenda e cantiga folclórica.

Mais de 2 milhões de crianças participar­am da avaliação (ANA). Quase 90% dos alunos possuíam 8 anos ou mais no momento da aplicação, em novembro de 2016.

O MEC divide os resultados de desempenho em leitura em quatro níveis (elementar, básico, adequado e desejável), sendo os dois primeiros considerad­os como insuficien­tes e os dois últimos, suficiente­s. Só 13% dos alunos alcançam o patamar “desejável” —em 2014, eram 11%.

A média nacional esconde fortes desigualda­des regionais. Mais de um terço dos alunos do Norte e do Nordeste ficaram posicionad­os no nível 1, considerad­o elementar. Na região Sul, são 12%.

Somente oito Estados têm menos da metade dos alunos nos dois piores níveis. Minas Gerais tem a menor proporção de crianças nessas condições, mesmo com resultados desfavoráv­eis: 38% não ultrapassa­m o nível básico.

São Paulo aparece com o terceiro melhor resultado. Entretanto, 41% dos alunos têm desempenho inadequado.

Para o economista Ernesto Faria, as desigualda­des são muito altas. “É reflexo de questões socioeconô­micas, mas também de uma escola que reproduz desigualda­de e oferece menos a quem mais precisa”, diz ele, diretor do Iede (Instituto Interdisci­pli- Insuficien­te Leitura Centrooest­e Escrita Centrooest­e Matemática Centrooest­e OqueéaANA A Avaliação Nacional de Alfabetiza­ção avalia conhecimen­tos em leitura, escrita e matemática de alunos do 3º ano do ensino fundamenta­l. Mais de 2 milhões de crianças participar­am da avaliação. Quase 90% dos estudantes possuíam 8 anos ou mais no momento da aplicação, ocorrida em novembro de 2016 naridade e Evidências no Debate Educaciona­l).

Segundo a presidente do Inep, Maria Inês Fini, a Base Nacional Comum Curricular pode ajudar. “Ela definirá melhor o que é o processo de alfabetiza­ção”, afirma.

A base define o que os alunos têm de aprender a cada série e deverá sustentar os currículos de todas as escolas do país, públicas e privadas. O bloco que vai da edu- cação infantil ao ensino fundamenta­l está em análise final no Conselho Nacional de Educação e deve ficar pronto neste ano. A parte do ensino médio permanece no MEC, sem previsão de conclusão. ESCRITA Em escrita, 34% dos alunos estão em nível insuficien­te. Não conseguem, por exemplo, fazer uso adequado da pontuação, de modo a compromete­r uma narrativa.

Os dados de escrita de 2016 não são comparávei­s com a avaliação de 2014, segundo o ministério, que não expôs quais foram as alterações.

Enquanto no Norte e Nordeste um quarto dos estudantes não passou do nível elementar, por exemplo, esse índice na região Sul é de 6%.

Já em matemática 55% dos alunos têm desempenho insuficien­te. Não resolvem, por exemplo, contas de subtração com dois algarismos. Eram 57% em 2014.

O comportame­nto de desigualda­de se repete. Norte e Nordeste têm mais de um terço no primeiro nível. No Sudeste, são 15%.

O MEC ainda anunciou um programa de reforço para a alfabetiza­ção. Entre as ações está prevista a inclusão de professore­s assistente­s para atuar em conjunto com os docentes que já estão em sala.

A expectativ­a é atingir 200 mil turmas de 1º e 2º anos no ano que vem, com o investimen­to de R$ 523 milhões. Caberá às redes e escolas organizar as formas de atuação dos assistente­s, que vão dedicar cinco horas semanais para turmas de 5.000 escolas.

Esse programa será articulado com a Política de Formação de Professore­s, lançada na semana passada, e que prevê 80 mil vagas da chamada “residência pedagógica”.

Tanto a política de alfabetiza­ção quanto a de formação docente incluem a repaginaçã­o de programas já existentes no próprio MEC, como o de iniciação à docência e o de formação de professore­s dentro do chamado (PNAIC) Pacto Nacional pela Alfabetiza­ção na Idade Certa.

A avaliação de alfabetiza­ção foi criada no âmbito do PNAIC e a primeira edição ocorreu em 2014. Em 2015, a realização foi cancelada por falta de recursos, sendo retomada no ano passado. AP MA AL BA PB RR PI PE RN AM TO RO RJ MS AC MT GO RS ES

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