Folha de S.Paulo

MAURÍCIO NOGUEIRA, 47

- ANGELA PINHO

A cidade de São Paulo entrou em alerta após um exame detectar o vírus da febre amarela em um macaco morto no Horto Florestal.

Diante disso, a prefeitura iniciou uma vacinação ao redor da área, em um raio de 500 metros do parque. Em uma segunda fase, a imunização será estendida a uma distância de um quilômetro e, depois, para toda a zona norte.

Não há registro de casos em humanos na cidade. Para Maurício Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, já era possível no entanto prever que o vírus iria ameaçar a capital paulista.

Na opinião dele, ações humanas estão de duas formas por trás da ocorrência dos casos da doença no Brasil —desde dezembro de 2016, a quantidade já chegou a 777.

Por um lado, afirma ele, o deslocamen­to de pessoas ajudou a consolidar a presença do vírus na região da mata atlântica. Por outro, o combate à doença enfrenta os efeitos da crise política e do estrangula­mento financeiro das áreas de ciência e saúde. Folha - Como entender a aparição de um macaco infectado pelo vírus na capital paulista?

Maurício Nogueira - O mosquito transmisso­r da febre amarela está retornando a um ambiente que era dele. Historicam­ente, ele sempre viveu na mata atlântica, até que foi empurrado para a região amazônica por causa da vacinação e da destruição da mata. Quais são as hipóteses para explicar a volta do vírus?

O vírus se move de três formas: por mosquito, por macaco e por gente. Os três fatores são importante­s, mas quem percorre longas distâncias são os humanos. É importante lembrar que a maioria dos casos de febre amarela é assintomát­ica. O que vemos é só a ponta do iceberg. Então podemos fazer uma matemática simples: se registramo­s 700 casos, o número real pode ser cinco vezes maior.

Essas pessoas sem sintomas vão para outras regiões de mata por causa de ecoturismo, caça e pesca, por exemplo, e assim podem transporta­r o vírus. Além disso, muitos condomínio­s se aproximara­m de regiões de mata. Dessa for- gestão Doria (PSDB) decidiu fechar por tempo indetermin­ado os parques Cidade de Toronto, Jacintho Alberto, Lions Tucuruvi, Jd. Felicidade, Pinheirinh­o D’Água, Rodrigo de Gásperi, S. Domingos, Ten. Brig. Faria Lima e Senhor do Vale, todos na zona norte. Recomenda ainda a não utilização dos parques lineares Canivete, tempo indetermin­ado. Há um mês, o ministro Ricardo Barros (Saúde) disse que o surto havia acabado. Qual foi a consequênc­ia da declaração?

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Nelson Almeida/AFP Vacinação de moradores contra a febre amarela em posto de saúde em SP

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