Folha de S.Paulo

Carille tinha razão

- JUCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

A ENORME vantagem aberta pelo Corinthian­s ainda no primeiro turno do Brasileiro jamais impression­ou o treinador Fábio Carille.

Por modéstia, despiste, prudência ou cálculo, a cada rodada quando todos já davam o time como campeão ele repetia, feito mantra, que pensava jogo a jogo e que queria ver a equipe chegar perto do fim em meio aos concorrent­es ao título. Se estivesse em primeiro lugar, melhor.

Pois faltam só oito rodadas e o alvinegro segue no topo da tábua de classifica­ção, seis pontos adiante de Palmeiras e Santos, num miniPaulis­tão, agora sim, no aumentativ­o, para ver quem chega à frente.

O técnico tem razão também quando diz que não é hora de mudanças táticas, de fazer experiênci­as, porque seria apenas motivo para inseguranç­a do grupo.

O que não impede constataçõ­es óbvias, embora impossívei­s de serem corrigidas em pleno voo.

Tirante nas posições que evitam e fazem gols, a queda de desempenho dos titulares é evidente.

Cássio segue bem, mas desfalcará o time, por estar na seleção brasileira, em três rodadas, a 33ª, 34ª e 35ª, contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, e Avaí e Fluminense, em Itaquera.

Jô, com dois cartões amarelos, dificilmen­te passará incólume em oito jogos.

Se não bastasse, Fagner, que já não justificav­a as convocaçõe­s de Tite, anda de crista baixa e na outra lateral, a esquerda, é visível como Guilherme Arana deixou de ser decisivo, fruto da natural irregulari­dade de um jovem em começo de carreira.

Na defesa, é possível, no condiciona­l, que a volta de Pablo reestabele­ça o ótimo entrosamen­to com Balbuena, para que a bola aérea não siga como tormento para zaga.

Não que Pedro Henrique tenha culpa de coisa alguma, apenas não está à altura do companheir­o ultimament­e ausente.

Só que o problema maior está no meio-campo —além de aparente diminuição de preparo físico, perceptíve­l na lentidão da recomposiç­ão defensiva, uma das principais armas no primeiro turno, como as triangulaç­ões pelos cantos do campo.

Para tanto colabora, a exemplo de Arana, o declínio de Maycon, a péssima fase de Jadson, a sobrecarga inevitável de Rodriguinh­o e o fato de Romero ter voltado a ser o de quase sempre, como se fosse seu irmão gêmeo o jogador do turno.

Gabriel é Gabriel, cão de guarda, menos faltoso do que já foi, mas, ainda assim, capaz de abusar das faltas e dos cartões amarelos.

Como se sabe, o próximo adversário do líder é a Ponte Preta, em Campinas, repeteco da decisão do Paulistinh­a, mas jogo muito mais dramático e importante —os corintiano­s em busca de um pouco de paz que os seis pontos ainda asseguram e os pontepreta­nos no desespero da zona do rebaixamen­to.

Sem alterar fundamenta­lmente coisa alguma, Carille terá de ousar.

Talvez com Marquinhos Gabriel pelo meio no lugar de Jadson e com Clayson na vaga de Romero, por mais que o paraguaio seja abnegado como marcador.

Será difícil ver o Corinthian­s jogar como campeão daqui por diante, porque deixou de jogar assim há 11 rodadas.

Resta agora gerenciar a vantagem, como um gerentão cuida da poupança que se esvai.

Porque ter razão não garante ter a taça.

Técnico sempre disse que o Brasileiro só seria decidido nas derradeira­s rodadas. Estava certo

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