Carille tinha razão
A ENORME vantagem aberta pelo Corinthians ainda no primeiro turno do Brasileiro jamais impressionou o treinador Fábio Carille.
Por modéstia, despiste, prudência ou cálculo, a cada rodada quando todos já davam o time como campeão ele repetia, feito mantra, que pensava jogo a jogo e que queria ver a equipe chegar perto do fim em meio aos concorrentes ao título. Se estivesse em primeiro lugar, melhor.
Pois faltam só oito rodadas e o alvinegro segue no topo da tábua de classificação, seis pontos adiante de Palmeiras e Santos, num miniPaulistão, agora sim, no aumentativo, para ver quem chega à frente.
O técnico tem razão também quando diz que não é hora de mudanças táticas, de fazer experiências, porque seria apenas motivo para insegurança do grupo.
O que não impede constatações óbvias, embora impossíveis de serem corrigidas em pleno voo.
Tirante nas posições que evitam e fazem gols, a queda de desempenho dos titulares é evidente.
Cássio segue bem, mas desfalcará o time, por estar na seleção brasileira, em três rodadas, a 33ª, 34ª e 35ª, contra o Atlético-PR, na Arena da Baixada, e Avaí e Fluminense, em Itaquera.
Jô, com dois cartões amarelos, dificilmente passará incólume em oito jogos.
Se não bastasse, Fagner, que já não justificava as convocações de Tite, anda de crista baixa e na outra lateral, a esquerda, é visível como Guilherme Arana deixou de ser decisivo, fruto da natural irregularidade de um jovem em começo de carreira.
Na defesa, é possível, no condicional, que a volta de Pablo reestabeleça o ótimo entrosamento com Balbuena, para que a bola aérea não siga como tormento para zaga.
Não que Pedro Henrique tenha culpa de coisa alguma, apenas não está à altura do companheiro ultimamente ausente.
Só que o problema maior está no meio-campo —além de aparente diminuição de preparo físico, perceptível na lentidão da recomposição defensiva, uma das principais armas no primeiro turno, como as triangulações pelos cantos do campo.
Para tanto colabora, a exemplo de Arana, o declínio de Maycon, a péssima fase de Jadson, a sobrecarga inevitável de Rodriguinho e o fato de Romero ter voltado a ser o de quase sempre, como se fosse seu irmão gêmeo o jogador do turno.
Gabriel é Gabriel, cão de guarda, menos faltoso do que já foi, mas, ainda assim, capaz de abusar das faltas e dos cartões amarelos.
Como se sabe, o próximo adversário do líder é a Ponte Preta, em Campinas, repeteco da decisão do Paulistinha, mas jogo muito mais dramático e importante —os corintianos em busca de um pouco de paz que os seis pontos ainda asseguram e os pontepretanos no desespero da zona do rebaixamento.
Sem alterar fundamentalmente coisa alguma, Carille terá de ousar.
Talvez com Marquinhos Gabriel pelo meio no lugar de Jadson e com Clayson na vaga de Romero, por mais que o paraguaio seja abnegado como marcador.
Será difícil ver o Corinthians jogar como campeão daqui por diante, porque deixou de jogar assim há 11 rodadas.
Resta agora gerenciar a vantagem, como um gerentão cuida da poupança que se esvai.
Porque ter razão não garante ter a taça.
Técnico sempre disse que o Brasileiro só seria decidido nas derradeiras rodadas. Estava certo