Sem ‘entrevistados’, apresentador mostra suas qualidades de showman
FOLHA
“Sem graça” foi um adjetivo que a crítica não economizou depois que o talk show “Adnight” (Globo), de Marcelo Adnet, estreou no ano passado. A audiência perdeu o equilíbrio, e a segunda temporada do semanal, com estreia prevista para a noite desta quinta (26), traz reformulações, a começar pelo nome.
Com oito episódios, a diferença de “Adnight Show” para seu antecessor é a aposta em esquetes e na liberdade para o improviso de Adnet. “A gente ganha experiência. Mal ou bem, nunca tinha apresentado um programa de auditório com convidados”, justifica.
“Já tinha feito ‘Adnet ao Vivo’ na MTV, mas não tinha plateia, e era um formato diferente. Para mim, o ‘Adnight Show’ é uma experiência realmente nova. Agora, a gente já sabe um pouco mais onde está pisando. A segunda vez é melhor que a primeira”, brincou o humorista.
A bancada onde se realizavam as entrevistas foi eliminada para tornar o formato menos rígido. “O ‘Adnight Show’ não é algo que podemos definir claramente, dizendo que é um programa na linha de shows, de esquetes ou de auditório. Envolve várias expertises”, disse o diretor-geral, Emerson Muzeli.
Marcelo Adnet tem dois talentos indiscutíveis. Um deles é para o humor: seu timing cômico é impecável, e seu estilo consegue ser popular e sofisticado. O outro talvez tenha origem genética: seu pai Francisco e seu tio Mário são músicos renomados, e Adnet deve ter herdado deles o ouvido afiado.
Combinados, os dois dons permitem que ele escreva paródias musicais impagáveis.
Um talento que Adnet não tem é o de entrevistador. Isto ficou patente na primeira temporada de “Adnight”. Concebido como um talk show moderno, onde as brincadeiras com os convidados se sobrepõem às entrevistas, a atração foi mal de crítica e audiência em 2016.
Frequentado quase que exclusivamente por contratados da Globo, o sofá do “Adnight” resvalou em problema comum da casa: a babação de ovo em cima do convidado.
O programa passou por uma reformulação. Trocaram-se roteiristas e cenário. Mesmo assim, as mudanças não satisfizeram a cúpula da Globo. Consta que cinco episódios gravados foram para o lixo e a estreia foi adiada.
O primeiro “Adnight Show” faz jus ao novo nome, com Adnet bem mais à vontade. Não tem mais a obrigação de arrancar declarações bombásticas de seus convidados (que não podem mais ser chamados de “entrevistados”). Só quer cantar e fazer rir.
A pegada popular apareceu logo de cara, com a cantora Joelma fazendo o número de abertura. Os contrastes entre os outros dois convidados, a jornalista Fernanda Gentil e o ator Renato Góes, não poderia ser maior: ela, desinibidérrima; ele, algo travado.
Todos renderam bem em esquetes e jogos. Mas ninguém foi páreo para o próprio Adnet, que parece ter encontrado um formato sob medida, no qual brilha como um showman à moda antiga: uma versão contemporânea de Miele. Falta saber se seu público habitual vai gostar. AVALIAÇÃO bom
A sátira política continua presente. Uma cena, exibida durante o lançamento do programa, usou o vídeo em que Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do presidente Michel Temer, carrega uma mala com dinheiro entregue pela JBS. As imagens ganham uma narração debochada da jornalista Fernanda Gentil.
O atual contexto político, para Adnet, desperta mais dúvidas do que certezas. “Outro dia vi um analista político dizer que é normal estarmos nos sentindo desorientados. Ele disse que estudou durante seis anos, fez uma pós e não sabe o que está acontecendo. É interessante trabalhar com comunicação num momento confuso. O humor ganha importância nesse momento”, avalia.
Anitta, Ludmilla, Malvino Salvador, Joelma e Camila Pitanga são alguns dos convidados previstos para a temporada. O primeiro episódio do programa também já está disponível no Globo Play.
Hoje, Adnet se divide entre o “Adnight Show”, a “Escolinha do Professor Raimundo” e o “Tá no Ar”, que aborda o universo da televisão e foi indicado ao Emmy Internacional na categoria “melhor comédia”. Os vencedores serão conhecidos em novembro. NA TV Adnight Show qui., 23h55