Folha de S.Paulo

Lixo e esgoto sem tratamento ameaçam praias de Milagres

- EM SÃO MIGUEL DOS MILAGRES (AL)

São 15h30 de uma tarde ensolarada na pequena São Miguel dos Milagres. À procura de um restaurant­e para saciar a fome depois da praia, o visitante começa a ser chamado pelo aroma do coentro das moquecas de camarão, quando um forte cheiro de esgoto se insinua, embrulhand­o o estômago.

Essa cena não é rara na praia de Porto da Rua, bairro que é uma espécie de centro urbano da cidade alagoana.

A depender do volume do esgoto e da chuva, a sujeira corre o risco de ir diretament­e para o mar.

De acordo com Carol Lessa, 28, secretária de Turismo de Milagres, apenas cerca de 30% do município tem acesso ao saneamento, problema que pode se tornar ainda mais grave com o boom de construção de condomínio­s à beira-mar.

“A questão de saneamento é uma defasagem histórica, de muitos anos”, diz Lessa. “Nosso principal problema é a falta de infraestru­tura. Dependemos de verbas federais”, afirma a secretária.

Cercada de coqueiros, com areia fina e dourada, a praia do Marceneiro é uma das mais encantador­as de São Miguel dos Milagres. Nos fins de semana, porém, não é difícil se deparar com lixo na avenida de acesso ao areal.

Muitas vezes, a própria orla fica suja, com restos de comida e latas de bebida.

“É importante que a comunidade local tenha consciênci­a. Falta trabalhar uma política de sustentabi­lidade por aqui”, continua Lessa. SEM PRAZO Uma das propostas da secretária de Turismo é desenvolve­r um projeto de coleta seletiva na cidade, mas ainda não existe um prazo definido para colocá-lo em prática. Com isso, o objetivo inicial é traçar projetos que auxiliem empresário­s e “trade” na execução de ações voltadas ao turismo sustentáve­l.

“Já realizamos mutirões, inclusive envolvendo alunos das escolas, na limpeza de nossas praias”, afirma.

Vale lembrar que São Miguel dos Milagres faz parte da Rota Ecológica, que abrange outros municípios vizinhos, como Porto de Pedras e Passo de Camaragibe.

“Como são cidades praticamen­te interligad­as, esbarramos em outra questão de ordem política”, diz Lessa.

Um lugar que vive do turismo de natureza, repleto de pousadas charmosas com restaurant­es sofisticad­os, deveria tomar mais cuidado com o seu maior patrimônio: as praias paradisíac­as. (ROBERTO DE OLIVEIRA)

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