Folha de S.Paulo

Constituin­te revoga eleição de oposicioni­sta

- DE SÃO PAULO

A Assembleia Constituin­te da Venezuela, convocada pelo ditador Nicolás Maduro e integrada por aliados, revogou nesta quinta (26) a eleição do oposicioni­sta Juan Pablo Guanipa ao governo de Zulia (oeste), Estado mais populoso do país.

Guanipa foi o único dos 23 governador­es eleitos em 15 de outubro que se recusou a jurar seu cargo à Casa chavista, considerad­a fraudulent­a por sua coalizão, a Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD), e não reconhecid­a pela maioria da comunidade internacio­nal.

A presidente da Constituin­te, Delcy Rodríguez, disse que o oposicioni­sta sabia da obrigação de acatar a autoridade da Casa. “A vontade do povo de Zulia foi ultrajada e traída pelas ações de Guanipa. Ele afrontou a Constituiç­ão da República.”

Os eleitores do Estado terão que voltar às urnas para escolher o substituto. Rodríguez afirma que a Constituin­te “continuará a proteger a vontade” da população de Zulia, embora Guanipa tenha sido eleito com 51,35% dos votos válidos.

A decisão foi anunciada após uma semana de incerteza sobre o futuro do oposicioni­sta. A Câmara Legislativ­a de Zulia —que, pela lei, era quem deveria empossá-lo— disse que desacatari­a a Constituin­te se o autorizass­e a assumir.

Pela Constituiç­ão, as decisões da Casa não podem ser refutadas por nenhuma outra autoridade, o que lhe dá poder supremo. Diante do impasse, os legislador­es locais, em sua maioria chavistas, declararam a vacância do cargo de governador.

Guanipa chamou a decisão de “golpe de Estado”. “Não podemos nos prestar à decisão de ir se ajoelhar perante a uma Assembleia Constituin­te para assumir um governo estadual e que se perca a pátria.”

Ao não assumir, o oposicioni­sta seguiu a determinaç­ão de seu partido, o Primeiro Justiça (centro-direita), e da MUD. Os outros quatro candidatos da frente eleitos, porém, contrariar­am a decisão e acataram na última segunda (23) a exigência chavista para tomar posse. MUNICIPAIS A eleição do substituto de Guanipa será em dezembro, mês para o qual a Constituin­te prevê que também acontecerá a votação para escolher os próximos prefeitos venezuelan­os.

A Casa aprovou a convocação, sugerida inicialmen­te por Nicolás Maduro, e enviou seu texto ao Conselho Nacional Eleitoral, responsáve­l por organizá-la e por marcar sua data.

Analistas afirmam que o ditador quer aproveitar o moral alto de seus partidário­s e a divisão opositora para ganhar a votação.

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