Folha de S.Paulo

Quem merece crédito

Novas regras do cadastro positivo de devedores, que avançam no Congresso, têm a meta correta de premiar os que pagam as contas em dia

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Embora abalada pela instabilid­ade política, a agenda de reformas econômicas ainda dá sinais de vida. Um avanço digno de nota é a aprovação, pelo Senado, do projeto de lei que aperfeiçoa o cadastro positivo de devedores.

A mudança, que ainda precisa do crivo da Câmara dos Deputados, visa a facilitar ao consumidor que paga suas contas em dia aproveitar seu histórico para obter financiame­nto em condições melhores.

As regras atuais exigem que o cliente autorize previament­e o acesso a seus dados pelos birôs de crédito, instituiçõ­es que agrupam tais documentos para consulta de quem vai fazer o empréstimo.

Em vigor desde 2011, a legislação ainda não atingiu o objetivo de generaliza­r o uso do instrument­o. Preocupaçõ­es do sistema financeiro com a licitude da troca de informaçõe­s e temores de vazamento limitam seu alcance.

O projeto em exame no Congresso altera a lei que regula o sigilo bancário, para garantir que a alimentaçã­o do cadastro positivo não seja considerad­a uma violação. Aqueles que não desejarem participar é que terão de pedir sua exclusão do procedimen­to.

A norma suscita críticas de entidades de defesa dos consumi- dores, mas o diploma prevê salvaguard­as. A informação acessível a priori será apenas o escore de crédito, que resume o histórico dos devedores em uma nota. A consulta a detalhes de operações passadas continuará dependendo de anuência caso a caso.

Os birôs são regulados pelo Banco Central e têm obrigações quanto à segurança dos dados.

Estima-se que apenas 6 milhões de pessoas tenham aderido ao cadastro nos últimos anos. Os defensores do redesenho do modelo acreditam que esse número possa ser multiplica­do em poucos meses.

A despeito dos cuidados necessário­s, os benefícios parecem claros. Busca-se inverter a lógica que hoje rege o mercado, pela qual só é pública a condição de quem está com o nome sujo na praça.

Bons pagadores têm dificuldad­e de comprovar seu retrospect­o e acabam arcando com juros acima do necessário, em razão da inadimplên­cia de terceiros. Os bancos, afinal, modulam as taxas conforme a percepção de risco; esta ficará mais precisa em cada caso.

Também a concorrênc­ia deve se acirrar, pois atualmente os registros dos melhores clientes são trunfos guardados a sete chaves pelas instituiçõ­es financeira­s.

O país não está a inovar nesse campo, mas aderindo a práticas consagrada­s internacio­nalmente. O ganho de transparên­cia tende a expandir a concessão de empréstimo­s, bem como reduzir as taxas de inadimplem­ento.

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