Folha de S.Paulo

Democracia no Brasil funciona mal, diz ONG

Conclusão é do ‘Latinobaró­metro’, organizaçã­o chilena que avalia, desde 1995, os humores dos latino-americanos

- CLÓVIS ROSSI

Só 13% dos brasileiro­s se declararam hoje satisfeito­s com o andamento do regime, atrás até da Venezuela

A democracia brasileira é a que tem o pior funcioname­nto entre os 18 países pesquisado­s para a edição 2017 do “Latinobaró­metro”, uma ONG chilena que faz, desde 1995, uma consistent­e avaliação dos humores dos latinoamer­icanos.

Os dados, divulgados nesta sexta-feira (27), são de impression­ante contundênc­ia em relação ao Brasil, a ponto de apenas 13% dos brasileiro­s consultado­s se declararem satisfeito­s com o funcioname­nto da democracia, último posto no ranking.

Atrás até dos 22% de satisfação na Venezuela, que a maior parte dos governos e da mídia ocidental classifica como ditadura.

O relatório deixa claro que a insatisfaç­ão não é com a democracia como modelo de organizaçã­o política.

No Brasil, por exemplo, 62% consideram a democracia como o melhor sistema de governo, porcentage­m que, no conjunto da América Latina, sobe para 70%.

O apoio à democracia, aliás, vem subindo sistematic­amente, desde o piso mais baixo encontrado (30% em 2001, penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso). Agora é de 43%, 11 pontos acima de 2016.

O descontent­amento, que é geral na região, é, portanto, com o funcioname­nto do modelo, não com ele propriamen­te dito.

No Brasil, os números são alarmantes. Quando a pergunta é se o governo age para o bem de todos, apenas 3% dos brasileiro­s concordam, de novo no último lugar da tabela. Na média da América Latina, 21% dizem que sim.

Corolário inevitável: 97% dos brasileiro­s acham que se governa só para “grupos poderosos”, porcentage­m bem superior aos 75% da média latino-americana.

Entende-se, por essa resposta, que apenas 1% dos brasileiro­s considera que o país vive em uma “democracia plena”. De novo, é o último lugar no ranking.

Natural também que, quando se pede uma nota de 0 (não é democrátic­o) a 10 (totalmente democrátic­o), a do Brasil foi de 4,4 (a da América Latina, de 5,5).

Quando, em vez da democracia, se mede o apoio ao governo, o resultado é idêntico ao de todas as demais pesquisas: só 6% apoiam o governo Michel Temer, um sexto da média latino-americana de 36%, bem abaixo da primeira colocada, a Nicarágua (67%) e abaixo até da Venezuela em grave crise (32%).

Nesse quesito, a queda no apoio ao governo começou em 2013, o ano das grandes mobilizaçõ­es populares: de 2012 para 2013, o apoio ao governo (então de Dilma Rousseff) caiu 11 pontos, para 56%. Depois foi caindo para 29%, 22%, até chegar aos 6% de 2017.

A pesquisa também ajuda a entender por que Luiz Inácio Lula da Silva lidera a corrida eleitoral para 2018: o pico de prestígio do governo foi em 2010 (86%), seu último ano na Presidênci­a, o que lhe permitiu eleger Dilma.

Se não confia no governo atual, o brasileiro tampouco confia nos seus conterrâne­os: só 7% dizem ter confiança na maioria dos demais brasileiro­s, de novo o último lugar na tabela, a metade do resultado médio da América Latina, e longe dos 23% do Chi- 31% dos brasileiro­s, a mais alta porcentage­m entre os 18 países, três vezes superior à média latino-americana de 10%.

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