Arquivos sobre JFK frustram historiadores
Papéis liberados pelo governo americano são ‘notícia velha reciclada como nova’, nas palavras de especialista
Único destaque é texto em que ex-chefe do FBI se diz preocupado com teorias da conspiração envolvendo atentado
Historiadores americanos passaram as últimas 24 horas em claro tentando decifrar quase 3.000 documentos das investigações sobre o assassinato do presidente John Kennedy que acabam de vir a público. Mas não viram nada ali que pudesse tirar o sono.
Dos papéis recém-divulgados, só 52 nunca tinham sido vistos —a maioria é quase ilegível e está fora de contexto, o que confunde mais do que ajuda a esclarecer dúvidas.
Em 22 de novembro de 1963, Kennedy, então com 46 anos, foi alvejado na cabeça durante um desfile em Dallas, no Texas, pelos disparos de Lee Harvey Oswald, morrendo nos braços da primeira-dama, Jackie.
“Devo dizer que minhas expectativas não eram muito grandes, mas a minha decepção é maior do que eu esperava”, disse Gerald Posner, um dos maiores especialistas na morte de Kennedy. “A mai- oria dos dados é notícia velha reciclada como notícia nova.”
O presidente Donald Trump passou a semana atiçando seus seguidores no Twitter, prometendo grandes revelações sobre os acontecimentos. Mas, seguindo orientações das agências de inteligência, acabou retendo uma parte dos papéis.
“Não esperava por isso”, diz Posner. “Só mostra como o FBI e a CIA, que Trump gosta de chamar de Estado profundo, foram mais hábeis que ele no jogo que ele gosta de jogar. Ele poderia ter liberado tudo, mas, se houvesse uma revelação perigosa, isso passaria a assombrar sua Presidência.”
No fim da noite de sexta (27), o presidente emendou a decisão e anunciou no Twitter que liberaria todos os papéis. “Estou fazendo isso por uma questão de acesso total à informação, transparência e para afastar toda e qualquer teoria da conspiração”, escreveu ele.
Mais cedo, entre os dados que dominaram discussões nos canais de notícias estava um memorando assinado por J. Edgar Hoover, então diretor do FBI, que se dizia preocupado justamente com a possibilidade de que a morte de Lee Harvey Oswald, dois dias de- pois do atentado, turbinasse teorias conspiratórias.
No documento, Hoover diz que era preciso “convencer o público de que Oswald é o assassino verdadeiro”. Ele se preocupava em provar que o atirador agira sozinho, sem apoio da máfia, de cubanos ou de soviéticos, mas o fato de ele ter morrido antes de ir à Cidade do México, onde visitou a embaixada cubana. Os detalhes de sua passagem pelo país, na visão de historiadores, poderiam esclarecer algumas dúvidas.
“Essa é a maior de todas as decepções”, diz Posner. “Não há nada sobre esse episódio.”
Max Holland, também estudioso da morte de Kennedy, concorda que, se houver alguma revelação nesses documentos, ela terá ligação com o México, mas descarta a possibilidade que algo possa mudar a versão dos fatos aceita desde o crime.
Outro historiador que se debruça sobre os papéis, Larry Sabato, da Universidade da Virgínia, destacou, no entanto, documentos que provam que o país vizinho auxiliou os EUA nas investigações, grampeando embaixadas da União Soviética e de Cuba, e que Oswald teria dinheiro num banco mexicano.
Sabato, que comparou a investigação dos documentos a montar um “quebra-cabeça de milhões de peças”, lembrou ainda uma informação do serviço secreto britânico segundo a qual, 20 minutos antes da morte de Kennedy, um jornal em Cambridge, no Reino Unido, fora alertado que em breve haveria “grandes notícias” vindas da América.