Folha de S.Paulo

Trump supera Obama em uso de decretos

Republican­o, que criticava antecessor por ‘abusar’ de ordens executivas, utiliza recurso para driblar o Congresso

- PATRÍCIA CAMPOS MELLO

Presidente assinou 51 decretos até outubro, 22 a mais que democrata no período; se mantiver ritmo, baterá recorde

O então candidato presidenci­al Donald Trump passou a campanha eleitoral de 2016 criticando o presidente à época, Barack Obama, por “abusar” das ordens executivas, semelhante­s aos decretos presidenci­ais no Brasil.

“Temos um presidente que não consegue fazer nada, então ele fica baixando decretos toda hora”, disse Trump em janeiro do ano passado.

Ele acusava o democrata de abuso de poder e de tentar impor sua agenda por decreto, driblando o contrapeso representa­do pelo Congresso, de maioria republican­a.

“Não quero usar tanto o recurso das ordens executivas; Obama, porque não conseguia fazer com que as pessoas concordass­em com ele, as baixava a torto e a direito. Então eu quero evitá-las”, disse.

Obama assinou 29 ordens executivas nos dez primeiros meses de seu primeiro mandato (2009-2013), segundo o Arquivo Nacional americano.

São 22 decretos a menos dos que foram anunciados por Trump até a última terça (24). Se continuar nesse ritmo, o republican­o baterá o recorde de todos os presidente­s dos últimos 50 anos.

Obama recorreu aos decretos (e a memorandos e proclamaçõ­es, que muitas vezes cumprem a mesma função) porque o Congresso frequentem­ente barrava suas ações. O recurso foi usado principalm­ente a partir de 2011, quando os republican­os passaram a deter maioria na Câmara.

O partido de Trump, por outro lado, controla tanto o Senado, como a Câmara e, mesmo assim, suas iniciativa­s que dependiam de luz verde do Congresso empacaram. Uma delas foi o fim e a substituiç­ão do Obamacare, a legislação de saúde implementa­da por seu antecessor.

Afirmando que o “Congresso não estava fazendo o que havia prometido” e que recorreria a um método “mais rápido”, passou a usar cada vez mais o recurso dos decretos.

Grande parte deles serviu para desfazer medidas de Obama —muitas delas também adotadas por meio de ordem executiva. Isso mostra a fragilidad­e de se governar por decretos para contornar obs- táculos do Legislativ­o.

Em 2012, cansado de negociar com o Congresso, Obama baixou uma medida para legalizar cerca de 800 mil imigrantes indocument­ados que entraram nos EUA ainda crianças, os “dreamers”.

O decreto foi revertido no mês passado com uma canetada de Trump. Em seguida, delegou ao Congresso a responsabi­lidade de encontrar uma forma de proteger os jovens e de reforçar a segurança da fronteira e financiar o muro na divisa com o México, promessa de campanha.

Trump ainda anulou as ordens de Obama que estabeleci­am regulações ambientais para reduzir a emissão de poluentes e regras contra discrimina­ção de transgêner­os.

A tramitação das leis no Congresso costuma ser lenta, mas Trump nem enviou as iniciativa­s ao Poder Legislativ­o. Além de serem soluções efêmeras, os decretos nem sempre são eficientes.

As ordens funcionara­m no caso ambiental e na retirada dos EUA da Parceria Transpacíf­ico, por exemplo, mas várias outras foram derrubadas pelos outros Poderes.

Foi o que aconteceu com os três decretos para barrar a entrada de cidadãos de seis países de maioria islâmica, suspensos pelo Judiciário.

 ?? Carlos Barria/Reuters ?? O presidente dos EUA, Donald Trump, entrega chocolates a crianças na comemoraçã­o do Dia das Bruxas na Casa Branca
Carlos Barria/Reuters O presidente dos EUA, Donald Trump, entrega chocolates a crianças na comemoraçã­o do Dia das Bruxas na Casa Branca

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