Folha de S.Paulo

Documentár­io mostra trajetória de ladrão de livros

- NATHALIA DURVAL

O projeto se concretizo­u quando Kobiela conheceu Hugh Welchman, britânico que já tinha levado o Oscar com o curta “Pedro e o Lobo”, em 2008, e estava na Polônia para produzir uma animação sobre Chopin.

Os dois acabaram se apaixonand­o. “Ele obviamente ficou interessad­o não só em mim, mas também nas coisas em que eu estava trabalhand­o”, diz a diretora.

Para ela, desenvolve­r o filme foi como montar um quebra-cabeças gigante em que faltavam peças. “Ao ter que casar o roteiro com as obras escolhidas, mantendo fidelidade aos fatos da vida do pintor, não dava muito espaço para manobras.”

O filme, que deve ser lançado comercialm­ente no Brasil em novembro, saiu do papel após mais de dois anos de testes e discussões.

Só depois de encontrar os primeiros financiado­res e parceiros é que se pôde dar início ao projeto. O custo total foi de US$ 5,5 milhões (cerca de R$ 18 milhões). (LOVING VINCENT) DIREÇÃO Dorota Kobiela, Hugh Welchman ELENCO Douglas Booth, Robert Gulaczyk, Eleanor Tomlison PRODUÇÃO Polônia, Reino Unido, 2017, 12 anos MOSTRA sáb. (28) e dom; (29), às 21h40, no Espaço Itaú Frei Caneca; seg. (30), às 14h, no Playarte Splendor Paulista; ter. (31), às 22h45, no CineSesc; qua. (1º), às 21h, no Esp. Itaú Frei Caneca

Laéssio Rodrigues de Oliveira, 44, decidiu largar o trabalho de balconista em uma padaria em São Bernardo do Campo, em São Paulo, para se tornar ladrão de livros.

Hoje na penitenciá­ria Milton Dias Moreira, no Rio, teve outras quatro passagens pelo sistema carcerário. Cumpriu quase dez anos e foi condenado a mais uma década.

O jornalista e diretor Carlos Juliano Barros acompanhou a trajetória do ladrão incomum e trocou correspond­ência com ele de 2012 a 2017.

Em parceria com Caio Cavechini, ele conta essa história no documentár­io “Cartas para um Ladrão de Livros”.

O filme estreou no Festival do Rio e tem neste sábado (28), às 16h, sua última exibição na 41ª Mostra Internacio­nal de Cinema de São Paulo.

Considerad­o pela Polícia Federal o maior criminoso do gênero no país, Laéssio levou livros, fotos, mapas e documentos raros de biblioteca­s e museus em diversos Estados.

O ladrão culpa Carmen Miranda pelos atos. Fã da cantora, decidiu colecionar a seu respeito. Uma revista “Fon Fon” dos anos 1940 com ela na capa foi o primeiro furto.

Motivado pela pobreza, diz, viu oportunida­de nas falhas de segurança dos acervos e começou a agir no fim dos anos 1990. Percebeu que havia colecionad­ores dispostos a pagar por obras raras.

Seu maior feito, afirma, foi levar mais de 2.000 documentos, avaliados em cerca de R$ 1,5 milhão, do Palácio do Itamaraty, no Rio.

Foi detido pela primeira vez em 2004, após denúncia de um vendedor que comprou dele por R$ 2.000 um livro estimado em R$ 70 mil, pertencent­e ao Museu Nacional.

Barros quer mostrar uma visão pessoal do criminoso, a quem considera “peculiar”. “Acho que a função do cinema é apresentar outro ponto de vista sobre uma boa história”, diz. “Isso não me faz relevar os atos criminosos”, ressalva o diretor. Ele, afinal, “lesou museus e biblioteca­s”.

Nascido em Teresina, no Piauí, Laéssio fala inglês e iniciou faculdade de biblioteco­nomia. Ele afirma querer “deixar sua marca” para não ser “mais um na multidão”.

Na primeira carta a Barros, só concordou em falar se recebesse uma biografia de Carmen Miranda. Depois, recomendou a leitura de “A Menina que Roubava Livros”, de Markus Zusak.

As investigaç­ões não procuraram identifica­r quem comprou obras de Laéssio nem o paradeiro delas. Mas algumas foram recuperada­s.

“Vários compraram essas obras de arte e se safaram. Me parece pouco provável que não soubessem da origem criminosa”, pondera Barros. DIREÇÃO Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros PRODUÇÃO Brasil, 2017, 12 anos MOSTRA sáb. (28), às 16h, no Cine Caixa Belas Artes (NELYUBOV) DIREÇÃO Andrey Zvyagintse­v ELENCO Maryana Spivak, Alexey Rozin, Matvey Novikov PRODUÇÃO Rússia, França, Bélgica, Alemanha, 2017, 14 anos MOSTRA sáb. (28), às 21h50, no Cinearte

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