Folha de S.Paulo

Moda contra acne nas redes sociais tem respaldo científico

Luz LED que aparece em perfis de atrizes ajuda a combater espinhas, em especial quando associada a medicament­os

- FERNANDA REIS

Deitada na cama, vestindo moletom, a atriz Lena Dunham aparece no Instagram com uma máscara que parece saída de “Star Wars”: um material branco cobre quase todo o rosto, com uma fenda na região dos olhos onde se vê uma luz lilás. A legenda explica o figurino: um tratamento para a acne pelo qual ela está “obcecada”.

A atriz Mindy Kaling é outra entusiasta do uso de luz LED, de baixa potência, sobre áreas afetadas: a luz azul mata bactérias e a vermelha tem ação anti-inflamatór­ia.

Juntas, as duas luzes formam o clarão arroxeado da máscara de Dunham, da marca Neutrogena, que não tem previsão de chegada ao Brasil —nos EUA, foi lançada no fim de 2016 e é vendida por US$ 35 (R$ 111) em farmácias.

Segundo dermatolog­istas, a moda das redes sociais tem respaldo científico. As luzes são boas para a acne, sim, mas não milagrosas. “Ajudam na melhora mais rápida das lesões, na reparação da pele e reduzem o risco de cicatrizes”, afirma o dermatolog­ista Luiz Roberto Terzian.

Giselle Vergamini, do Hospital Albert Einstein, diz que o LED ajuda a tratar a acne leve ou moderada, com poucas lesões inflamatór­ias. “Você tem ação na diminuição da colonizaçã­o bacteriana da pele, mas não tem efeito comedolíti­co”. Em bom português: não ajuda a limpar os comedões, ou cravos, da pele.

Para um tratamento completo é preciso associar as luzes com medicament­os. VÁRIAS FRENTES Quase todos têm em seu organismo as bactérias responsáve­is pela acne. Nem todos, porém, dão a elas o ambiente ideal: alimento (queratina e sebo) e falta de oxigênio. Se isso acontece dentro de um folículo, elas se reproduzem mais e inflamam o local.

Com exceção da isotretino­ína oral (o famoso “roacutan”) não há terapias que ofe- reçam cura ou deem conta do recado sozinhas. “É uma doença com múltiplos fatores desencadea­ntes, dificilmen­te você trata adequadame­nte com uma medida única”, afirma Edileia Bagatin, chefe do departamen­to de dermatolog­ia da Unifesp.

“Os tratamento­s devem afinar a pele para desobstrui­r, reduzir a inflamação, matar as bactérias e reduzir a produção do sebo”, diz Terzian.

Sabonetes, tônicos adstringen­tes, antibiótic­os e ácidos formam o arsenal tradiciona­l. “Os medicament­os se tornaram muito eficientes de 35 anos para cá”, diz a dermatolog­ista Ligia Kogos. “Os grandes clássicos permanecem.”

A escolha da terapia depende do grau de comprometi­mento da pele. Para acne leve e moderada, começa-se com tratamento tópico —os remédios mais recentes já contêm uma combinação de ativos. “O que é mais comum é uma associação de antibiótic­o tópico a outros agentes, como peróxido de benzoíla, ácido retinoico, ácido salicílico, ácido azelaico ou nicotinami­da”, diz Vergamini.

A combinação também depende bastante do médico. Kogos, por exemplo, não receita o peróxido de benzoíla (“sensibiliz­a muito, não chega a resolver o problema e mancha o rosto”). Para Vergamini, a substância tem atividade antibacter­iana e reduz a espessura da pele, ajudando a tirar cravos.

Outra alternativ­a popular, os retinoides inibem a formação de comedões, mas alguns irritam a pele. Novas gerações são mais toleráveis.

Acnes leves normalment­e se resolvem com esse tratamento tópico, diz a dermatolog­ista Luciane Scattone. Se não der certo, entram medicament­os via oral —antibiótic­os ou remédios para controlar o hormônio masculino, que contribui para a oleosidade da pele.

É possível ajudar o tratamento com limpezas de pele e peelings. Opções agressivas, mais em voga nos EUA, como a terapia fotodinâmi­ca ou o uso de nitrogênio líquido, não são recomendad­as pelos médicos consultado­s.

Na primeira terapia, a pele recebe um agente fotossensi­bilizante e é exposta a uma fonte de luz, para reduzir as glândulas sebáceas e matar a bactéria que causa a acne.

Já o nitrogênio esfoliaria a pele, ajudando a tirar os comedões. “É muito agressivo, a gente fica naqueles peelings mesmo”, diz Scattone, em referência ao de ácido salicílico e ao de ácido retinoico. NA FARMÁCIA Produtos sem tarja vermelha e indicados para pele oleosa não costumam oferecer riscos. Uma moda direto das prateleira­s de farmácias é a água micelar. “Tem partículas que absorvem a gordura. Não substitui o sabonete, mas complement­a”, diz Scattone.

Sabonetes “clássicos” antioleosi­dade —aqueles com enxofre, zinco, ácido salicílico— também ajudam muito.

“Acne precisa de uma ação forte. Nossas avós usavam leite de colônia, leite de rosas, e não estavam erradas. São loções alcoólicas com alto teor de limpeza”, afirma Kogos.

Maquiagem não é inimiga da pele acneica. “É mito que mulher com acne não pode usar. É coisa do passado, de quando as maquiagens eram gordurosas”, diz Bagatin. Uma base matificant­e até ajuda a controlar a oleosidade.

Terzian ressalta que os produtos mais eficientes têm tarja vermelha, que deveriam ser vendidos só sob prescrição. “Infelizmen­te, na maioria das farmácias do Brasil são vendidos sem receita, o que coloca a população em risco.”

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil