Rejeitada nos empregos, Winny vence no caratê
DE SÃO PAULO
Formada em história e filosofia, além de ser técnica em enfermagem, Winny Dias, 29, nunca conseguiu emprego. A negativa aparece de várias formas, mas a razão pode estar em sua aparência.
Ela convive desde criança com a ictiose lamelar, doença rara e sem cura que resseca e causa fissuras na pele. Convive também com suas consequências sociais, o bullying na infância (os professores associavam as marcas na pele a doença mental), os olhares assustados no transporte (mesmo com o ônibus lotado, ninguém se senta ao seu lado, embora a doença não seja contagiosa) e a falta de perspectiva de trabalho, que é o que mais a perturba.
Na faculdade de história, um professor perguntou sobre a doença e, na frente de toda a classe, questionou se ela realmente queria fazer aquele curso. “Quando terminou a aula, alunos me cercaram e me bombardearam de questões. Depois disso, muitos se afastaram.”
Na época, o melhor amigo de infância começou a frequentar a mesma faculdade, mas não se aproximou. “Fiquei depressiva.”
Winny encontrou no caratê uma forma de combater o preconceito. “A luta mostrou que eu não era diferente, podia ser e fazer o que quisesse”, diz, lembrando que lá, ninguém a olhou “torto”.
A autoestima conquistada —ela não se esconde em casa nem se recusa a tirar fotos— é consequência do esporte e do apoio psicológico recebido no grupo Dermacamp, iniciativa de uma ONG que reúne crianças, adolescentes e familiares com graves doenças de pele.
No tatame, ela venceu a luta, tornando-se campeã brasileira de caratê em 2016 e medalha de bronze neste ano. Winny não compete em categoria especial. (THAIZA PAULUZE)
WINNY DIAS
Atleta de caratê, técnica de enfermagem e formada em história e filosofia
Na infância eu não sentia tanto o peso da exclusão. A vida adulta se mostrou mais difícil. Nunca consegui emprego por causa da minha aparência e até meu melhor amigo se afastou por vergonha de mim