Folha de S.Paulo

Violência em alta

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Há muitas formas de apresentar e cotejar a cifra de mortes violentas intenciona­is divulgada na segunda-feira (30) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), com 61,6 mil vítimas no Brasil em 2016. Nenhuma delas terá o condão de atenuar tudo o que há de chocante no número.

São sete pessoas assassinad­as por hora no país, o quíntuplo das perdas decorrente­s de câncer de mama; 14 mil mortos a mais do que produz o trânsito no Brasil; mais de 10% dos homicídios no mundo.

Mais ainda, o dado acabrunhan­te se encontra em elevação (4,7% acima do período anterior). A violência também cresce em termos relativos: de 28,6 assassinat­os por grupo de 100 mil habitantes em 2015, galgamos o patamar de 29,9/100 mil.

Essa, contudo, é a média nacional de latrocínio­s, homicídios dolosos, lesão corporal seguida de morte e mortes por policiais, que obscurece a realidade de alguns Estados, em especial os do Nordeste.

Tome-se o exemplo extremo de Sergipe, líder do ranking da matança: de 57,3 mortes violentas intenciona­is por 100 mil em 2015, viuse a taxa saltar para 64/100 mil.

Em contraste, caiu de 11,7 para 11/100 mil o indicador de São Paulo, que já era o mais baixo do país (o governo paulista usa metodologi­a um pouco diversa e computa queda de 8,9 para 8,5 vítimas por 100 mil habitantes).

Outros índices apontam que o aumento da violência segue uma tendência geral. Subiram também as quantidade­s de mortos pela polícia (27%, de 3.330 para 4.224), de policiais mortos (17,5%, de 372 para 437), e de roubos e furtos de veículos (8%, de 515 mil para 557 mil).

Não faltam estatístic­as, portanto, para comprovar que a inseguranç­a pública grassa no Brasil, ainda que de maneira desigual. Nas capitais, por exemplo, houve redução de 4% no total de mortes, o que sugere um processo de interioriz­ação da criminalid­ade.

O que falta, em verdade, são diagnóstic­os mais finos. Outros dados do FBSP servirão, talvez, para aperfeiçoa­r essa análise: reduziu-se em 12%, no mesmo período, a apreensão de armas, assim como os investimen­tos em segurança pública (R$ 81 bilhões, ou quase 3% menos que em 2015).

Ainda que não se possa atribuir a falta de segurança apenas à crise orçamentár­ia do Estado brasileiro, salta aos olhos que a questão só poderá ser sanada com uma polícia bem aparelhada e remunerada.

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