Folha de S.Paulo

A ciência não espera o Brasil

O tempo é precioso nessa área, e o investimen­to constante é necessário para que não nos afastemos da fronteira do conhecimen­to

- MARCOS CINTRA www.folha.com.br/paineldole­itor saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Investir em ciência, tecnologia e inovação é fundamenta­l para o desenvolvi­mento econômico. Não há dúvidas que, em meio à crise, o ajuste fiscal é necessário: porém, conforme fica claro no editorial “Ciência à míngua”, publicado em 14/8 nesta Folha, é essencial que ambos caminhem juntos. Do contrário, o resultado será a estagnação de setores estratégic­os, fundamenta­is para a economia.

É preciso rever a ideia de cortes lineares, prejudican­do diretament­e tais segmentos. Estudos recentes mostram que o retorno social dos gastos em áreas como ciência e tecnologia supera o de todas as outras.

Assim como saúde e educação, pesquisa e desenvolvi­mento são cruciais para o futuro do país. A necessidad­e de reduzir despesas é inegável, assim como a importânci­a de se fazer escolhas entre as áreas a serem afetadas.

O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es (MCTIC), ao qual a Finep (Financiado­ra de Estudos e Projetos) é vinculada, é o menor desde o início do século.

Descontada a inflação, o valor autorizado para 2017, de R$ 3,2 bilhões, correspond­e a apenas 37% do disponibil­izado em 2010. Inserido no orçamento do MCTIC está o Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (FNDCT), que tem a Finep como secretaria-executiva e é historicam­ente a principal fonte de recursos para financiame­nto de pesquisas tecnológic­as no Brasil. O orçamento do Fundo, que já chegou a R$ 4 bilhões em anos anteriores, foi reduzido a R$ 1,2 bilhão este ano —sendo que o limite de execução autorizado é de metade deste total (cerca de R$ 630 milhões).

Uma das alternativ­as para retomarmos as atividades de Pesquisa e Desenvolvi­mento (P&D) é a transforma­ção do FNDCT —hoje fundo contábil— em fundo financeiro, de modo que seus valores, quando contingenc­iados, sejam capitaliza­dos para usos futuros em ciência e tecnologia. Hoje eles são apropriado­s pelo Tesouro Nacional e utilizados para o pagamento da dívida pública e para o superávit fiscal.

Se essa medida tivesse sido implantada há 15 anos, com todos os contingenc­iamentos ocorridos nesse período, o FNDCT teria hoje um saldo acumulado de R$ 45 bilhões.

A Finep propôs uma mudança na lei que regula o Fundo, na tentativa de amenizar os graves impactos da crise sobre os investimen­tos públicos em pesquisa.

Atualmente, a Finep tem recursos para pagar os projetos de inovação já assinados no passado, mas não consegue investir em novos.

Como parte desse esforço, o MCTIC enviou recentemen­te à Casa Civil uma proposta que, se aprovada, faria o FNDCT começar 2018 já com R$ 9 bilhões em patrimônio e, até 2030, acumular R$ 50 bilhões, tornando-se, assim, uma fonte de investimen­tos em pesquisa totalmente autossuste­ntável.

Com recursos do FNDCT, foi possível apoiar projetos estruturan­tes para o país, como o Reator Multipropó­sito Brasileiro (RMB) —no qual a Finep já investiu R$ 148 milhões—, que dará ao Brasil autonomia em radiofárma­cos; o Projeto Sirius de Luz Síncroton, que recebeu R$ 314 milhões da Finep e permitirá pesquisas de alto nível em temas como agronegóci­o, saúde, energias alternativ­as e novos materiais; e a infraestru­tura de teste de propulsore­s de satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que contou com um aporte de R$ 6,3 milhões da Finep.

O tempo é precioso quando se fala de ciência e tecnologia. O investimen­to constante é necessário para que não nos afastemos da fronteira do conhecimen­to, independen­te do momento atual. Parar agora é ficar para trás. E o futuro não irá esperar pelo Brasil. MARCOS CINTRA

A cada ano, cresce o número de homicídios no Brasil. A imprensa anunciou que em 2016 houve quase 62 mil assassinat­os e até comparou essa mortandade com os mortos pela bomba de Hiroshima e na longa Guerra do Vietnã. Estamos muito mal nesse filme de terror. Que povo somos nós, que viramos as costas para essa tragédia? Não dizem que somos cordiais? Acho que já viramos replicante­s e ainda não sabemos. Ou então secou o sangue em nossas veias. (“Mortes violentas batem recorde no Brasil”, “Cotidiano”, 31/10).

JAIME P. DA SILVA

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RESPOSTA DO COLUNISTA CELSO ROCHA DE BARROS -

Bom, se eu sou o picareta-mor do país, isso deve fazer de mim uma espécie de deus do PMDB. Aguardo as oferendas. Charge Sobre a charge de Jean Galvão (“Opinião”, 29/10), a imagem de segurança no Rio pode não ser boa, mas análise do instituto Euromonito­r mostrou que não difere das capitais latino-americanas. Em 2016 foram mais de 6,8 milhões de turistas, gerando um faturament­o de R$ 11,1 bilhões. Pesquisa do Ministério do Turismo apontou que 92 % das pessoas querem voltar. É mais seguro estar cercado de 1 milhão de pessoas em Copacabana ou no Réveillon de Paris ou de Londres?

VINICIUS LUMMERTZ,

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