Folha de S.Paulo

Rebaixamen­to do debate público da cultura

Secretário de Doria, André Sturm tenta justificar seus conflitos com o setor ao acusar a gestão anterior de aparelhame­nto político

- MARIA DO ROSÁRIO RAMALHO E MAURICIO DANTAS OS EVANGÉLICO­S NO BRASIL Em% Universal do Reino de Deus

Em entrevista a esta Folha (24/10), o secretário de Cultura do prefeito João Doria (PSDB), André Sturm, tenta justificar seus inúmeros conflitos com o setor cultural acusando a gestão anterior (Fernando Haddad) de aparelhame­nto político e de ter como foco apenas os coletivos artísticos e não o cidadão e a relação com a sociedade.

“Havia um aparelhame­nto. Ao assumir, troquei poucos cargos [...] Em fevereiro tive de exonerar um monte de gente. Ficavam boicotando. O interesse não era a cultura, mas a política. Havia um jogo do contra [...] O que acho mais crítico é que a secretaria tem de ter o cidadão como foco principal. O foco tem de ser a relação com a sociedade [...] Na gestão passada, não havia essa preocupaçã­o. O foco era a relação com os coletivos artísticos”, disse Sturm.

O “Diário Oficial” desmente o secretário. Por solicitaçã­o da gestão Doria, 58 funcionári­os comissiona­dos da secretaria —a maioria dos coordenado­res, dos diretores de departamen­tos, dos coordenado­res de casas de cultura, além de alguns funcionári­os administra­tivos— foram exonerados (Diário Oficial, 31/12/2016), iniciando um desmonte da Secretaria de Cultura.

A decisão surpreende­u, pois, até então, a transição transcorri­a com total colaboraçã­o da nossa gestão.

O secretário havia manifestad­o a intenção de dar continuida­de ao trabalho exitoso realizado pela secretaria, cuja equipe, altamente qualificad­a, se formou ao longo de décadas, atravessan­do gestões de diferentes partidos, a maioria sem qualquer relação com o PT.

Nunca existiu aparelhame­nto na Secretaria de Cultura. Talvez o secretário confunda procedimen­tos administra­tivos complexos, que são obedecidos pelos funcionári­os, com boicote. A equipe foi reduzida de 2.100 funcionári­os (2007) para 1.600 (2016). Com muito esforço e racionaliz­ação administra­tiva conduzidos pela gestão passada, foi possível, no entanto, dar conta do enorme cresciment­o dos programas e atividades culturais.

No fomento às linguagens artísticas e cidadania cultural, entre 2012 e 2016, o orçamento elevou-se de R$ 36,7 milhões para R$ 76,24 milhões, sendo que só para a cultura periférica o aumento foi de R$ 3,8 milhões para R$ 17,6 milhões.

Mas a gestão Haddad nunca deixou de atender às demandas dos cidadãos e da sociedade, como demonstrou a pesquisa Ibope/Nossa SP, que apontou a área cultural do município como a mais bem avaliada pela população em 2016.

Após dez meses de gestão, em vez de atacar, o secretário deveria enfrentar as atuais dificuldad­es, em boa parte criados pelo prefeito ou por ele mesmo.

Entre os problemas estão o contingenc­iamento de 43% do orçamento da cultura (anunciado em janeiro, que foi o estopim do descontent­amento dos coletivos); o apagamento de grafites; a paralisaçã­o ou alteração de programas em meio a processos seletivos; a interferên­cia nas comissões de seleção idôneas; e a ausência de diálogo ou arrogância no trato com funcionári­os da secretaria e artistas.

São essas as questões, e não o aparelhame­nto e a partidariz­ação, que explicam as manifestaç­ões de descontent­amento do setor cultural, em especial da cultura periférica, com a secretaria. MARIA DO ROSÁRIO RAMALHO MAURICIO DANTAS

Como será resolvido isso? Estamos em um beco sem saída, pois ou utilizamos os recursos para melhorar a vida do povo mais sofrido, com mais educação, saúde, segurança e oportunida­des, ou seremos reféns da violência para sempre!

PAULO R. JARDIM LIBORIO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - ESPECIAL O infográfic­o que acompanhou a reportagem “Os 500 são outros” listou somente as oito denominaçõ­es evangélica­s mais numerosas do país, que agregam, juntas, 62% dos fiéis evangélico­s. Não foi contabiliz­ada a seção “outras”, que, somada às demais, completari­a 100%. Veja abaixo a versão corrigida. Sobre o infográfic­o “A árvore da reforma”, apesar de o anglicanis­mo remontar ao século 3º, a religião apenas ganhou força a partir do rompimento do rei inglês Henrique 8º com a Igreja Católica, no ano de 1534.

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