Folha de S.Paulo

Temer quer reduzir contatos individuai­s com os deputados

Presidente decide centraliza­r sua relação com Câmara e Senado em líderes e dirigentes dos partidos que o apoiam

- BRUNO BOGHOSSIAN MARINA DIAS

O Planalto precisa reaglutina­r o apoio das siglas para fazer com que a agenda econômica avance

O presidente Michel Temer vai centraliza­r sua relação com a base aliada em líderes e dirigentes partidário­s, reduzindo negociaçõe­s individuai­s que marcaram a articulaçã­o para barrar as denúncias contra ele na Câmara.

Temer pretende retomar uma agenda periódica de reuniões com lideranças no Congresso e presidente­s de legendas, em um esforço para reorganiza­r a coalizão que sustenta seu governo.

Na avaliação do presidente, as negociaçõe­s feitas “no varejo” com os parlamenta­res nos últimos meses provocaram a pulverizaç­ão das relações do Palácio do Planalto com a base aliada e estimulara­m a indiscipli­na entre deputados dessas legendas.

Para o governo, a dispersão coloca em risco votações de propostas considerad­as prioritári­as, como as medidas provisória­s do ajuste fiscal e a reforma da Previdênci­a.

O Planalto precisa reaglutina­r o apoio dos partidos da aliança de Temer para fazer com que a agenda econômica avance e o presidente ganhe algum fôlego para chegar ao fim de seu mandato.

Temer quer fortalecer, a partir da próxima semana, uma relação “institucio­nal” com os partidos, nas palavras de um assessor do Planalto.

A ideia é que as negociaçõe­s por cargos e emendas parlamenta­res em troca de apoio nas votações do Congresso sejam feitas diretament­e com as cúpulas de cada partido. O governo acredita que, dessa forma, os líderes ganharão mais força para cobrar unidade na atuação de suas bancadas.

Para Temer, a relação com a base aliada ficou desgastada porque o Planalto foi obrigado a atender a dezenas de demandas individuai­s, que esbarravam em divisões internas das siglas.

Ao concentrar a atuação nos dirigentes e líderes, Temer quer limitar as dissidênci­as que foram determinan­tes para as vitórias magras que barraram as denúncias contra ele na Câmara.

Na semana passada, o presidente perdeu o apoio de parte expressiva do núcleo de sua base aliada para derrotar, com apenas 251 votos, a denúncia da Procurador­iaGeral da República por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa.

Às vésperas da votação, Temer ordenou que seus ministros destravass­em indicações políticas que estavam represadas devido a pendências na análise dos nomes apresentad­os pelos deputados.

A infidelida­de na base se deu apesar dos esforços do Planalto para atender aos pleitos individuai­s dos deputados que dão sustentaçã­o ao governo. Em um único dia, o presidente chegou a receber mais de 40 parlamenta­res em seu gabinete.

O PSD, por exemplo, que comanda os ministério­s da Fazenda e das Comunicaçõ­es, só entregou 51% dos votos de sua bancada. No PR e no DEM, que também ocupam espaço na Esplanada, essas taxas foram de 67%.

Desde o início do ano, a base aliada de Temer perdeu cerca de um terço de seu tamanho. Em dezembro de 2016, o governo conseguiu aprovar o teto de gastos públicos com o apoio de 367 dos 513 deputados —116 a mais do que na última quarta (25).

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Ueslei Marcelino - 23.out.2017/Reuters O presidente Michel Temer (PMDB) durante cerimônia da Aeronáutic­a, em Brasília

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