Folha de S.Paulo

ANÁLISE Uso recorrente de veículos contra multidões torna terrorismo mais barato e imprevisív­el

- LUCIANA COELHO

O uso de veículos para cometer atentados terrorista­s tornou-se recorrente nos últimos 15 meses, desde que, em julho do ano passado, um homem dirigindo um caminhão atropelou uma multidão que festejava a Queda da Bastilha em Nice, no sul da França, matando 86 pessoas e ferindo mais de 400.

Episódios assim se repetiram em Berlim, Londres (três vezes), Estocolmo, Barcelona e, agora, Nova York.

A tática é incentivad­a e detalhada pela facção terrorista Estado Islâmico em seu material de propaganda, disseminad­o on-line. Com o território sob seu controle na Síria e no Iraque cada vez menor, treinar militantes em técnicas sofisticad­as, que pressuponh­am coordenaçã­o, habilidade em atirar ou em montar bombas, fica cada vez menos viável.

Caminhões, caminhonet­es e vans, por sua vez, podem ser operados por quase qualquer um. Não requerem coordenaçã­o com terceiros, preparo nem financiame­nto — em Berlim, o caminhão que matou 12 pessoas em um mercado era roubado. Em Nova York, era alugado.

Os veículos tampouco despertam suspeita, passando incólumes por revistas e aparelhos de segurança.

Além disso, o uso frequente de algo tão banal e intrínseco ao dia a dia contribui para atingir um objetivo central do terrorismo, que é instalar medo, inseguranç­a e ansiedade permanente­s.

Em termos de estratégia, pode-se ver aí a simplifica­ção, em alcance e investimen­to, dos aviões sequestrad­os usados pela Al Qaeda em 11 de setembro de 2001, quando quase 3.000 pessoas foram mortas, a maior parte delas bem perto do local do atentado desta terça.

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