Folha de S.Paulo

Testemunha­s narram correria com tiros e corpos estendidos pela rua

Alunos ficaram presos em faculdade ao lado de onde ocorreu o atropelame­nto em Manhattan

- MARCELO BERNARDES

Ataque aconteceu no dia em que país celebra o Halloween; desfile foi mantido, mas teve segurança reforçada

Quando uma caminhonet­e avançou sobre dois ciclistas, os primeiros de oito mortos, no atentado em Manhattan, o estudante de cinema Amir Chaghlil estava numa sala de aula com vista para o cenário do ato terrorista.

“Você vê coisas de louco todos os dias em Nova York, mas uma cena dessas nunca é fácil”, disse ele, mostrando na tela da câmera as imagens que fez do momento em que a polícia cobriu os corpos e das bicicletas destruídas. “Era difícil acreditar.”

Ele conta que, na hora do ataque, os alunos do Borough of Manhattan Community College, na rua Chambers, receberam alertas pelo celular e todos correram até as janelas para ver o que acontecia.

Muitos acabaram ficando ilhados no prédio, que foi interditad­o na sequência, assim como várias torres de escritório­s e escolas do local.

“Tinha visto o caminhão. Não era alguém fugindo do trânsito. Sabia que era terrorismo. Vi os dois corpos. Eram dois ciclistas, e a picape atropelou as pessoas ali mesmo, do lado da ciclovia”, disse Eugene Duffy, chef de um restaurant­e próximo ao local onde houve o atropelame­nto.

O estudante Tawid Kabir estava na ponte de pedestres em cima da rua Chambers quando a caminhonet­e invadiu a via. Ele viu o atropelado­r. “Ouvi cinco ou seis tiros, daí deitei no chão, com medo. Era um homem branco de barba.”

Em volta do cerco policial, um bizarro desfile chamava a atenção. Rapazes com cicatrizes gigantes, meninas com rostos cadavérico­s, manchas de sangue por todo o corpo — tudo de mentira.

O ataque aconteceu no dia de Halloween, quando os americanos se fantasiam e crianças saem à noite pedindo doces de casa em casa.

Muitas das testemunha­s do crime, aliás, falavam às câmeras de TV fantasiada­s. Entre elas, um rapaz vestido de empregada francesa e outro de macacão de pelúcia em formato de rena.

Quando anoiteceu, as ruas nos arredores do ataque caíram em silêncio —só o ruído dos helicópter­os sobrevoand­o a cena do crime podia ser ouvido, e muitos andavam a pé pelas vias fechadas em direção à tradiciona­l parada de Halloween da cidade, que foi mantida. (SILAS MARTÍ)

COLABORAÇíO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Foi diante da escola de trapézio suspensa no segundo andar de um estacionam­ento usada numa cena da série de TV “Sex and the City” que Sayfullo Saipov entrou em uma picape alugada e iniciou um caminho de destruição hollywoodi­ano.

Justin Timberlake e Jennifer Lawrence moram de frente para a ciclovia onde, na tarde desta terça (31), as vítimas de Saipov eram reanimadas por paramédico­s. A área abriga também o prédio, em construção, onde Gisele Bündchen vai morar com o marido, o jogador de futebol americano Tom Brady.

O massacre só foi ter fim mais de um quilômetro depois, a metros do novo World Trade Center (onde ficam as redações das revistas The New Yorker e Vogue) e de frente para uma das mais famosas escolas públicas de Nova York, a Stuyvesant.

Por ela passaram o músico Thelonius Monk, o roteirista Joseph Mankiewicz (de “A Malvada”), o assessor político David Axerold (da campanha de Barack Obama), atores como James Cagney, Ben Gazzara, Tim Robbins e Lucy Liu e Lourdes Maria Ciccone, filha de Madonna.

Na ensolarada tarde desta terça, essa privilegia­da área de Manhattan, onde acontece anualmente o Festival de Cinema de TriBeCa e onde ficava o escritório do (agora) infame produtor de cinema Harvey Weinstein, parecia uma carnificin­a.

O atentado aconteceu três horas antes da ciclovia ficar repleta de ciclistas e corredores que se exercitam após o trabalho, e a poucas horas do início de um dos maiores eventos populares de Nova Yor, o desfile de Halloween do Greenwich Village.

Neste ano, a parada teria uma sinfonia diferente: o ruído de quase uma dezena de helicópter­os que sobrevoava o local do ataque e o Village, bairro que concentra foliões.

 ?? Andrew Kelly/Reuters ?? Pessoas fantasiada­s próximas ao local do atropelame­nto; desfile de Halloween da cidade teve a segurança reforçada
Andrew Kelly/Reuters Pessoas fantasiada­s próximas ao local do atropelame­nto; desfile de Halloween da cidade teve a segurança reforçada

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil