Testemunhas narram correria com tiros e corpos estendidos pela rua
Alunos ficaram presos em faculdade ao lado de onde ocorreu o atropelamento em Manhattan
Ataque aconteceu no dia em que país celebra o Halloween; desfile foi mantido, mas teve segurança reforçada
Quando uma caminhonete avançou sobre dois ciclistas, os primeiros de oito mortos, no atentado em Manhattan, o estudante de cinema Amir Chaghlil estava numa sala de aula com vista para o cenário do ato terrorista.
“Você vê coisas de louco todos os dias em Nova York, mas uma cena dessas nunca é fácil”, disse ele, mostrando na tela da câmera as imagens que fez do momento em que a polícia cobriu os corpos e das bicicletas destruídas. “Era difícil acreditar.”
Ele conta que, na hora do ataque, os alunos do Borough of Manhattan Community College, na rua Chambers, receberam alertas pelo celular e todos correram até as janelas para ver o que acontecia.
Muitos acabaram ficando ilhados no prédio, que foi interditado na sequência, assim como várias torres de escritórios e escolas do local.
“Tinha visto o caminhão. Não era alguém fugindo do trânsito. Sabia que era terrorismo. Vi os dois corpos. Eram dois ciclistas, e a picape atropelou as pessoas ali mesmo, do lado da ciclovia”, disse Eugene Duffy, chef de um restaurante próximo ao local onde houve o atropelamento.
O estudante Tawid Kabir estava na ponte de pedestres em cima da rua Chambers quando a caminhonete invadiu a via. Ele viu o atropelador. “Ouvi cinco ou seis tiros, daí deitei no chão, com medo. Era um homem branco de barba.”
Em volta do cerco policial, um bizarro desfile chamava a atenção. Rapazes com cicatrizes gigantes, meninas com rostos cadavéricos, manchas de sangue por todo o corpo — tudo de mentira.
O ataque aconteceu no dia de Halloween, quando os americanos se fantasiam e crianças saem à noite pedindo doces de casa em casa.
Muitas das testemunhas do crime, aliás, falavam às câmeras de TV fantasiadas. Entre elas, um rapaz vestido de empregada francesa e outro de macacão de pelúcia em formato de rena.
Quando anoiteceu, as ruas nos arredores do ataque caíram em silêncio —só o ruído dos helicópteros sobrevoando a cena do crime podia ser ouvido, e muitos andavam a pé pelas vias fechadas em direção à tradicional parada de Halloween da cidade, que foi mantida. (SILAS MARTÍ)
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Foi diante da escola de trapézio suspensa no segundo andar de um estacionamento usada numa cena da série de TV “Sex and the City” que Sayfullo Saipov entrou em uma picape alugada e iniciou um caminho de destruição hollywoodiano.
Justin Timberlake e Jennifer Lawrence moram de frente para a ciclovia onde, na tarde desta terça (31), as vítimas de Saipov eram reanimadas por paramédicos. A área abriga também o prédio, em construção, onde Gisele Bündchen vai morar com o marido, o jogador de futebol americano Tom Brady.
O massacre só foi ter fim mais de um quilômetro depois, a metros do novo World Trade Center (onde ficam as redações das revistas The New Yorker e Vogue) e de frente para uma das mais famosas escolas públicas de Nova York, a Stuyvesant.
Por ela passaram o músico Thelonius Monk, o roteirista Joseph Mankiewicz (de “A Malvada”), o assessor político David Axerold (da campanha de Barack Obama), atores como James Cagney, Ben Gazzara, Tim Robbins e Lucy Liu e Lourdes Maria Ciccone, filha de Madonna.
Na ensolarada tarde desta terça, essa privilegiada área de Manhattan, onde acontece anualmente o Festival de Cinema de TriBeCa e onde ficava o escritório do (agora) infame produtor de cinema Harvey Weinstein, parecia uma carnificina.
O atentado aconteceu três horas antes da ciclovia ficar repleta de ciclistas e corredores que se exercitam após o trabalho, e a poucas horas do início de um dos maiores eventos populares de Nova Yor, o desfile de Halloween do Greenwich Village.
Neste ano, a parada teria uma sinfonia diferente: o ruído de quase uma dezena de helicópteros que sobrevoava o local do ataque e o Village, bairro que concentra foliões.