Folha de S.Paulo

Facebook faz mea-culpa sobre brecha para interferên­cia

No Senado dos EUA, advogado diz que empresa ‘perdeu sinais’ de uso da plataforma por russos na eleição de 2016

- ISABEL FLECK

Em uma audiência marcada por vários momentos de tensão, os responsáve­is pela área legal do Facebook, do Google e do Twitter foram questionad­os nesta terça (31) por membros do Comitê de Justiça do Senado americano sobre as brechas que teriam permitido que operadores russos usassem suas plataforma­s para influencia­r as eleições de 2016.

“Em retrospect­iva, deveríamos ter olhado com mais cuidado [para isso]. Perdemos alguns sinais”, admitiu Colin Stretch, principal advogado do Facebook, ao ser pressionad­o pelo senador democrata Al Franken.

O democrata criticou a empresa por não ter descoberto antes a influência russa, especialme­nte pelo fato de que muitos dos anúncios comprados por agentes ligados à “fazenda de trolls” Internet Research Agency (IRA) foram pagos em rublos. “Anúncios políticos americanos e moeda russa: quem não conseguiri­a ligar essas duas coisas?”, afirmou Al Franken.

O senador ainda questionou se o Facebook se recusaria a aceitar, no futuro, anúncios políticos nos EUA pagos com rublos ou com o won, a moeda norte-coreana. Segundo Stretch, a empresa está determinad­a a vigiar e frear pos- síveis ações de manipulaçã­o política por atores estrangeir­os, mas o tipo de pagamento não é o fator-chave, já que é “relativame­nte fácil” trocar a moeda antes da operação.

Na véspera da audiência, a imprensa americana antecipou que o Facebook havia descoberto que cerca de 126 milhões de usuários podem ter tido acesso aos 80 mil posts publicados por operadores russos durante dois anos, durante e após as eleições.

“Apesar de esse volume de posts ser uma pequena fração de todo o conteúdo disponível no Facebook, qualquer quantia já é muito. Essas contas e páginas violaram as políticas do Facebook —e é por isso que as removemos, como fazemos com todas as atividades falsas e maliciosas que encontramo­s”, disse Stretch, em sua fala inicial.

Durante a audiência, os representa­ntes das três empresas de tecnologia enfatizara­m que apenas uma pequena fração do conteúdo que apareceu em suas plataforma­s tinha alguma ligação com governos estrangeir­os, particular­mente a Rússia.

O senador republican­o pela Louisiana John Kennedy insistiu para saber se o Facebook tinha como identifica­r quem estava por trás dos anúncios publicado na rede. “Acerca de sua pergunta sobre se podemos ver por detrás da plataforma, para entender se há empresas de fachada, é claro que a resposta é não”, disse Stretch. “Não podemos ver por detrás da atividade.”

Kennedy também questionou o Google sobre suas atividades, pressionan­do o advogado Richard Salgado a falar se a empresa opera, essencialm­ente, como um jornal, consideran­do seu papel de distribuir notícias em todo o mundo.

A questão é importante por razões de regulação. Pela lei federal, plataforma­s de tecnologia não têm a mesma responsabi­lidade legal pelo material disponibil­izado do que empresas de comunicaçã­o tradiciona­is.

“Não somos um jornal. Somos uma plataforma que compartilh­a informação. Essa é uma plataforma na qual as notícias podem ser lidas a partir de várias fontes”, disse Salgado.

O representa­nte do Google tentou distanciar as práticas de sua empresa das do Facebook e do Twitter. Segundo ele, apesar de agentes russos terem usado o YouTube para divulgar vídeos políticos, essa prática só ganhou impulso por causa das plataforma­s de mídias sociais.

“Observamos que os links desses vídeos eram frequentem­ente postados em outras plataforma­s de mídias sociais. […] Os produtos do Google também não se prestam ao tipo de segmentaçã­o ou disseminaç­ão viral que esses atores parecem preferir”, afirmou.

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Drew Angerer/Getty Images A partir da esq., Colin Stretch, do Facebook, Sean Edgett, do Twitter, e Richard Salgado, do Google, no Senado dos EUA

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