Folha de S.Paulo

País cai duas posições e é 125º em ambiente para negócios

Colocação é a pior entre os membros do Brics e as nações do Mercosul

- ISABEL FLECK

Nota sobe, puxada por comércio exterior, mas avanço é tímido na comparação com países que fizeram reformas

Apesar de ter obtido uma melhor nota no levantamen­to do Banco Mundial que avalia a facilidade de fazer negócios em 190 países, o Brasil caiu duas posições no ranking deste ano para o 125º lugar, a pior colocação entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e os países do Mercosul.

O Brasil ainda está entre os dez piores países —dos 190 avaliados— para pagar impostos (184ª posição) e entre os 15 piores para começar um negócio (176ª posição). Nas duas categorias, o país caiu de posição no último ano.

Em termos absolutos, o Brasil subiu 0,38 ponto em sua avaliação —ficando com 56,45 de um total de 100—, puxado por uma melhoria no comércio exterior, com uma queda de 120 horas para 48 horas na tramitação de documentos para importação e de 18 horas para 12 horas para exportação.

O melhor país do mundo para fazer negócios, a Nova Zelândia, tem nota 86,55, e a Somália, o pior, tem 19,98.

No entanto, o avanço do Brasil foi tímido em relação à melhoria vista em outros países, como a Índia, que passou por ambiciosa reforma tributária e pulou 20 posições no ranking do relatório “Doing Business”, para o 100º lugar.

“Como 146 países fizeram reformas positivas, a nossa posição não melhorou, mas o importante é que [a avaliação] continue aumentando em termos absolutos”, disse Octaviano Canuto, diretor-executivo do Banco Mundial para Brasil e outros oito países.

Hoje, o Brasil está atrás de países como Paraguai, Honduras, Botsuana e até o Irã, que ainda é alvo de sanções. AMBIENTE HORROROSO Segundo Canuto, é preciso considerar que o “ponto de partida” do Brasil, desde quando a pesquisa começou, há 15 anos, é um ambiente de negócios “horroroso”.

“Parte disso se deve à complexida­de de [o Brasil] ser uma Federação e parte ao nosso estilo de capitalism­o de compadrios, em que você coloca dificuldad­e para vender facilidade”, afirmou.

Dos dez indicadore­s avaliados, o Brasil teve notas piores em cinco no último ano, que é medido até junho: os indicadore­s sobre as dificuldad­es para obter uma licença de construção, proteger acionistas minoritári­os, pagar impostos, executar contratos e resolver insolvênci­as.

Num dos piores casos, a licença de construção agora demora, em média, oito dias a mais (hoje são 434 dias) e envolve mais procedimen­tos e um maior custo relativo.

Segundo Canuto, o relatório deste ano, contudo, não incorporou reduções de burocracia feitas para obter licença para construção em São Paulo e no Rio —as duas cidades avaliadas.

No caso da dificuldad­e para pagamento de impostos, o Brasil só está à frente de República do Congo, Bolívia, República Centro-Africana, Chade, Venezuela e Somália. No país, perdem-se 1.958 horas por ano, em média, com esse pagamento (em 2016, foram 2.038 horas), e os impostos equivalem a 68,4% do lucro das empresas, percentual que não se alterou no último ano.

O tempo previsto de 79 dias para a abertura de uma empresa também não sofreu alteração no último ano.

Segundo Canuto, o que faria uma diferença “substancia­l” seria o Brasil aprovar a reforma tributária no curto prazo. “Eu enxergo o que os outros países estão fazendo e me dá agonia, como brasileiro, de não ver a prioridade dada ao assunto —com exceção do governo federal”, disse, ressaltand­o que o impacto para o Brasil no ranking dependeria do conteúdo da reforma, da generaliza­ção das práticas prevista nela e de como o resto do mundo continuará andando. OCTAVIANO CANUTO diretor-executivo do Banco Mundial para Brasil e outros oito países Posição do Brasil por áreas, ranking entre 190 países 2016 2017 Dificuldad­e/tempo para: Começar um negócio 175º 176º Obter licença de construção 172º Registrar propriedad­e 128º 131º Conseguir crédito 101º 105º Pagar impostos 181º Transações de comércio exterior 149º 139º

“Como 146 países fizeram reformas positivas, a nossa posição não melhorou, mas o importante é que [a avaliação] continue aumentando em termos absolutos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil