Folha de S.Paulo

A Telebras afirma que a privatizaç­ão da capacidade do satélite “foi a maneira mais eficiente, transparen­te e isonômica

- NATÁLIA PORTINARI

DE SÃO PAULO

Depois de adiar três vezes o leilão da capacidade do satélite estatal SGDC, pelo qual pagou R$ 2,8 bilhões, a União tentou realizar o certame nesta terça-feira (31), mas não encontrou nenhuma oferta.

Os potenciais interessad­os são operadoras como Embratel, Hughes e Hispamar, que comerciali­zam capacidade de satélites para empresas de telefonia e banda larga.

Com duas bandas de telecomuni­cações, a Ka (para comunicaçõ­es) e a X (para uso das Forças Armadas), o satélite foi construído pela empresa francesa Thales e, depois, adquirido em consórcio entre Embraer e Telebras.

Concebido em 2010 como parte do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), cujo intuito era levar internet para todo o país, o satélite virou prioridade quando se revelou, em 2013, que Dilma Rousseff foi alvo de espionagem do governo americano.

Ao ser lançado, em maio deste ano, o ministro das Comunicaçõ­es, Gilberto Kassab, afirmou que ele levaria ao “fim do apartheid digital”, viabilizan­do o acesso “em milhares de unidades escolares por todo o país”.

O plano inicial era que a Telebras atendesse diretament­e os usuários das regiões remotas. Com prejuízo de R$ 270 milhões em 2016, porém, a empresa só teria condições de investir na infraestru­tura necessária se fosse subsidiada pelo governo.

Por isso, em fevereiro, a Telebras anunciou que iria leiloar parte da capacidade do satélite, o que chegou a ser questionad­o no Senado.

O SGDC atingiu a órbita em junho. A partir desse momento, ele gasta combustíve­l para permanecer em sua posição, o que faz com que sua vida útil seja de 18 anos —ou seja, esse é o tempo hábil para reaver o investimen­to.

Apesar de o edital do leilão SATÉLITES Complement­am conexão em cidades com fibra incipiente e são principal forma de acesso em regiões remotas Tipos de satélites O satélite geoestacio­nário* brasileiro obrigar as operadoras privadas a cumprir o PNBL, ele não determina uma meta do território ou cidades específica­s que seriam atendidas.

Foram disponibil­izados dois lotes, um com 36% (21 Gbps) e outro com 22% (12 Gbps) da banda Ka. O preço mínimo seria revelado após as empresas darem os lances, mas o rumor no mercado é de que estejam altos demais.

Ficam reservados 56 Gbps Bons para sinal de 3G/4G; Brasil é atendido pela frota da O3b para atendiment­o de escolas e hospitais. Segundo a Telebras, há a necessidad­e de atender 30 mil escolas e 20 mil unidades de saúde.

A Telebras queria leiloar 79% da capacidade, mas recuou após o Tribunal de Contas da União pedir explicaçõe­s sobre como as aderentes atenderiam o PNBL.

Existia, no PNBL, um limite de R$ 35 no preço final cobrado do usuário pela banda Usados para TV, banda larga e conexão em cidades remotas Quanto maior a distância, maior o tempo de espera na comunicaçã­o (“latência”) larga, mas não há previsão de que isso continue valendo.

Substituíd­o pelo Plano Nacional de Conectivid­ade, o PNBL terminou em 2015, com um investimen­to em banda larga de 12% do previsto —R$ 31 milhões de R$ 252 milhões. OUTRO LADO de se alcançar os objetivos estratégic­os” do SGDC.

Após o fracasso do leilão, a empresa está debatendo alternativ­as, como mudar os valores de referência, apresentar uma nova licitação ou assumir toda a operação.

“Temos operadoras interessad­as e queremos seguir com o objetivo de inclusão digital”, diz Maximilian­o Martinhão, que assumiu a chefia da empresa há um mês.

Ele diz que, nos próximos dias, a Telebras irá contatar as empresas de satélite para entender suas demandas.

Hoje, o país só tem cabos de fibra óptica em 57% das cidades e, mesmo nestas, precisa da complement­ação de satélites para conexão. O investimen­to nas regiões remotas, custoso, não é atraente para as grandes empresas.

“O investimen­to no SGDC foi feito, agora precisamos usar”, diz Eduardo Tude, presidente da consultori­a Teleco. “O governo tem que colocar um preço mínimo viável para não queimar o satélite.”

Para Tude, faz mais sentido que o governo invista em fibra óptica, que é mais barata e pode atender mais pessoas, do que em usar por conta própria a capacidade do SGDC. “Plano de conexão não falta, o que falta é dinheiro.”

Procurado, o Ministério da Defesa afirmou que o uso do SGDC está em fase de teste.

“Tão logo esses testes sejam concluídos, se dará início à plena utilização da banda X”, diz a pasta, em nota.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil