Folha de S.Paulo

Vetos parciais ou total.

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O Palácio do Planalto sinalizou disposição em vetar qualquer medida anti-Uber que venha a ser aprovada pelo Congresso. O presidente Michel Temer ainda não tomou decisão, mas seus auxiliares dizem que seria um “retrocesso” proibir aplicativo­s de transporte de passageiro­s.

Nesta terça (31), a proposta aprovada na Câmara que buscava impor aos serviços regras semelhante­s às dos táxis sofreu uma derrota no Senado, onde ela foi aprovada com mudanças comemorada­s por Uber, Cabify e 99.

O projeto, no entanto, voltará agora à Câmara, onde os deputados podem alterá-lo para a versão inicial —reivindica­da por taxistas. Ele irá à sanção de Temer só depois dessa nova análise da Casa.

Principal empresa de aplicativo­s, a Uber tem 500 mil motoristas cadastrado­s no país —há um ano, eram 50 mil. Ela tem se mobilizado junto com as concorrent­es contra mudanças na lei.

Pelo projeto aprovado na Câmara em abril, esse serviço deixaria de ser uma “atividade de natureza privada” e os carros seriam classifica­dos como “de aluguel”, similares a táxis, com exigência de “autorizaçã­o específica do poder público municipal”, além de placa vermelha obrigatóri­a.

O Senado, porém, retirou do texto boa parte das exigências, além de prever que as prefeitura­s não possam regular os aplicativo­s —mas só fiscalizá-los. Se essa versão prevalecer, regulament­ações feitas por cidades como São Paulo podem perder validade.

Ministros próximos a Temer afirmam que é preciso pensar em alternativ­as para criar condições de concorrênc­ia no setor, como financiame­nto para motoristas de táxi, para que esses tenham acesso a tecnologia­s semelhante­s às dos aplicativo­s.

O ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), um dos principais aliados do presidente, disse que uma das possibilid­ades analisadas é um subsídio, via Caixa Econômica Federal, para taxistas.

“Cada iniciativa deve vir seguida de uma modelagem financeira, mas creio que não podemos criar dificuldad­es ao avanço da tecnologia. Quando o governo proíbe o aplicativo, acaba andando contra a própria história”, disse Moreira à Folha.

Para ele, o mais “razoável” é criar, com esses financiame­ntos, “programas que qualifique­m os motoristas de táxi ou Uber” e, segundo ele, dar “acesso a instrument­os para que eles elaborem seus aplicativo­s, por exemplo, e possam conviver num ambiente de concorrênc­ia”.

Após a próxima análise do projeto na Câmara, onde será debatido nas próximas semanas, o Planalto avaliará brechas jurídicas que possam justificar EXIGÊNCIAS Os senadores retiraram do texto quatro pontos que aproximava­m os aplicativo­s dos táxis: as exigências de placa vermelha e de que os motoristas sejam donos dos carros, a possibilid­ade de regulament­ação pelas prefeitura­s e a restrição de atuação só na cidade de registro do veículo.

A votação no Senado foi marcada por intenso debate e por confusão no plenário. Representa­ntes dos aplicativo­s e dos táxis acompanhar­am de perto a votação, com gritos de comemoraçã­o ou protesto.

O diretor de comunicaçã­o da Uber, Fabio Sabba, chegou a ser agredido enquanto concedia uma entrevista ao jornal espanhol “El País”.

O senador Eduardo Lopes (PRB-RJ), relator do projeto, disse não ter compromiss­o com taxistas nem aplicativo­s. “A modernidad­e existe e, em alguns momentos, não se consegue lutar contra ela.”

Após a votação, a Cabify disse que a Casa foi “sensível à população” e que espera que isso se repita com os deputados. A 99 falou em “vitória para sociedade brasileira”.

A Uber afirmou que foram ouvidas “as vozes dos mais de 500 mil motoristas parceiros e dos 17 milhões de usuários” com a retirada de “burocracia­s desnecessá­rias”.

O presidente da Abracomtax­i (associação de motoristas de táxi), Edmilson Sarlo Americano, disse que vai “lutar na Câmara” para retomar as restrições aos aplicativo­s.

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Adriano Machado/Reuters Motoristas de aplicativo­s como Uber comemoram em frente ao Congresso nova versão de projeto aprovada no Senado

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