Fala de ministro da Justiça abre crise com RJ
Titular da pasta, Torquato Jardim disse em entrevista que comandantes da PM são ‘sócios’ do crime organizado
Em resposta, secretário de Segurança se disse ‘indignado’; presidente da Alerj acusa ministro de agir com ‘má-fé’
O ministro da Justiça, Torquato Jardim, declarou ao blogueiro do UOL Josias de Souza que a segurança pública do Rio não é controlada por suas autoridades, mas sim por um acordo entre deputados e o crime organizado, e que “comandantes de batalhão são sócios” das facções criminosas fluminenses.
As afirmações abriram uma crise entre a pasta e autoridades estaduais, com acusações do presidente da Alerj (Assembleia Legislativa), Jorge Picciani (PMDB), respostas duras do secretário de Segurança, Roberto Sá, e oficiais da Polícia Militar ameaçando entregar seus postos.
Ao UOL, Jardim disse ainda estar convencido de que a morte do comandante do 3º batalhão da PM no último dia 26 se tratava de acerto de contas —o carro onde estava o coronel Luiz Gustavo Lima Teixeira, 48, foi atingido por 17 tiros, no que a polícia afirma se tratar de um arrastão.
Em nota, o secretário de Segurança refutou as afirmações de Jardim. “A despeito de todas as crises pelas quais o Estado passa, a Secretaria de Segurança, por meio do incessante trabalho das polícias Civil e Militar, vem mantendo a produtividade, bem como conseguindo reverter a tendência de aumento de alguns indicadores de criminalidade.”
“Só posso demonstrar minha surpresa e minha indignação com essas declarações”, disse Sá à Globonews.
O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), também rebateu as afirmações do ministro. Em nota, disse que “o governo do Estado e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos”, e que as escolhas de comandos de batalhões e delegacias são decisões técnicas.
Por fim, defendeu o atual comandante da Polícia Militar: “(...) O coronel Wolney Dias, é um profissional íntegro”.
Jorge Picciani, da Alerj, foi o mais incisivo em sua resposta. Segundo ele, Jardim “mente”, é “irresponsável” e “age com má-fé”. “Quando ele acusa todos os comandantes de estarem acumpliciados com o crime organizado, ele mente”, disse o deputado estadual, em vídeo publicado no Facebook.
As declarações de Jardim causaram alvoroço também entre os oficiais da PM. À tarde, um grupo foi até o quartel-general da corporação, no centro, exigir uma resposta firme do comandante-geral. Alguns oficiais, segundo a reportagem apurou, ameaçaram até entregar os postos.
Procurado pelo UOL, o comando da PM afirmou que não ocorreu nenhum movimento de oficiais no quartelgeneral nesta terça-feira (31).
No fim da tarde, a Polícia Militar publicou uma nota, afirmando que as declarações do ministro “são de uma irresponsabilidade inadmissível e merecem o nosso mais veemente repúdio”.
O Rio enfrenta uma grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários. Neste ano, 113 policiais foram assassinados no Estado.