Folha de S.Paulo

Clubes se rebelam contra taxa da PM

Sete equipes paulistas entraram com processos na Justiça para não pagar pela presença de policiais nos estádios

- ALEX SABINO LUIZ COSENZO Número de policiais usado nas partidas em São Paulo é definido pela PM de acordo com a rivalidade e o risco de tumultos

No Paulista, equipes da Série A1 gastaram R$ 2,8 milhões com taxa que advogados dizem ser inconstitu­cional

Os 16 times da Série A1 do Paulista gastaram, no torneio deste ano, R$ 2.794.653,12 em taxas de policiamen­to. Essa despesa, porém, parece estar com os dias contados.

Sete clubes do Estado, quatro deles da primeira divisão, ganharam na Justiça o direito de não pagar a taxa após alegarem que a cobrança é inconstitu­cional.

Palmeiras e Red Bull obtiveram decisões liminares favoráveis e ainda terão seus pedidos julgados. Comercial (o primeiro clube a entrar com ação), Ponte Preta e Botafogo, tiveram sentenças favoráveis em primeira instância no Tribunal de Justiça de São Paulo. XV de Piracicaba e Inter de Limeira já venceram em segunda instância.

Se a PGE (Procurador­ia Geral do Estado) não reverter as decisões, os clubes economizar­ão o valor da taxa, que é descontada da arrecadaçã­o com venda de ingressos.

“Alguns juízes até mostram descontent­amento com a tese apresentad­a, mas se curvam à jurisprudê­ncia. Há precedente­s do STF [Supremo Tribunal Federal] e do Tribunal de Justiça”, afirma Flavio Sanches, advogado do escritório CSMV, que conseguiu

DAVID ISAAC

advogado do Comercial liminar para que Palmeiras e Red Bull não paguem pelos serviços da Polícia Militar.

O argumento jurídico é que a segurança no futebol não pode ser cobrada dos clubes porque não é “divisível”. O policiamen­to é pedido para evento que engloba determinad­o de pessoas, que não serão cuidadas individual­mente, mas como uma multidão. Como em uma passeata ou show de música.“A segurança é pública e é obrigação do Estado”, completa Sanches.

Ao Palmeiras, as taxas de policiamen­to custaram R$ 479,7 mil no Paulista.

O dinheiro pago pelos clubes não é repassado para a PM ou revertido aos oficiais. Vai para a Fazenda Pública e entra no Tesouro Estadual.

“A partir de 2014, o valor cresceu 750%. Antes os clubes pagavam [um valor fixo] por policial e depois passou a ser por hora de cada oficial”, diz Ramon Bisson, advogado do XV de Piracicaba.

A má vontade dos cartolas com a cobrança ficou mais forte quando os valores começaram a sofrer reajustes.

“Chegou o momento em que se tornou insuportáv­el. O Estado elevou a taxa para 1,5 UFESP [Unidade Fiscal do Estado de São Paulo] por hora de cada policial. São R$ 35”, afirma David Isaac, advogado do Comercial, que disputou a Série A3 neste ano.

Os clubes não têm controle sobre o valor da taxa. Ela depende do efetivo policial deslocado para o evento e a escolha é feita pela PM levando em consideraç­ão a importânci­a e a rivalidade do jogo.

“No Paulista de 2016, o Comercial arrecadou R$ 200 mil. Desse total, R$ 95 mil foram para a taxa de policiamen­to. A taxa tem caráter confiscató­rio e sequer é usada na segurança pública”, diz Isaac.

“Não é reclamação contra a PM. Não dá para querer que os serviços sejam pagos por meio de taxas ilegais”, afirma o advogado João Felipe Artoli, da Ponte Preta. No Paulista de 2017, o clube de Campinas gastou R$ 211,7 mil para o uso do policiamen­to.

A contrataçã­o de empresas de segurança privada é uma possibilid­ade, mas elas atuam apenas dentro do estádio. O custo também pode sair mais caro do que a taxa cobrada. Mesmo assim, é necessária a presença da PM no entorno. Em 2014, Comercial e Botafogo se enfrentara­m sem policiais no estádio Santa Cruz. O público foi limitado a três mil pessoas.

Advogados envolvidos neste tipo de processo reconhecem que há clubes, principalm­ente os grandes, que não querem polêmica. Acreditam que seria provocação desnecessá­ria à PM. No entanto, diante do sucesso de quem pleiteou a liberação da taxa, começam a mudar de ideia.

“Quando existe um precedente incontestá­vel, resta a você entrar com sua ação, e nós já vemos outros clubes fazendo isso”, diz Sanches.

“de 2016, o Comercial arrecadou R$ 200 mil, sendo que R$ 95 mil foram para a taxa de policiamen­to. Quase 50% de tudo o que arrecadamo­s. A taxa tem caráter confiscató­rio e sequer é usada na segurança pública

OUTRO LADO A Folha fez pedido de esclarecim­ento à Fazenda Pública sobre as queixas dos clubes quanto à taxa de policiamen­to. A assessoria do órgão pediu que o assunto fosse repassado à PGE. A reportagem enviou e-mail à Procurador­ia há uma semana, mas, até o fechamento desta edição, não obteve resposta.

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Eduardo Anizelli - 17.set.2016/Folhapress

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