Folha de S.Paulo

Sem final, Brasil igualaria a 3ª pior seca da história

- EDUARDO GERAQUE

Em oito meses, a vida do atacante argentino naturaliza­do paraguaio Lucas Barrios, 32, mudou radicalmen­te no Brasil. De reserva e pouco aproveitad­o no Palmeiras, o jogador virou ídolo e artilheiro do Grêmio na temporada.

Nesta quarta (1º), o camisa 18 do time tricolor gaúcho pode escrever mais um capítulo na sua história em Porto Alegre. Ele tenta por o Grêmio na final da Libertador­es pela primeira vez desde 2007.

Com a vitória sobre o Barcelona (EQU) no jogo de ida por 3 a 0, a equipe pode até perder a partida de volta por dois gols de diferença. O confronto está marcado para a Arena do Grêmio, às 21h45.

“Realmente, é o meu melhor momento no Brasil desde que fui contratado pelo Palmeiras, em 2015. É muito prazeroso estar na semifinal da Libertador­es. Construímo­s uma vantagem importante, mas nada está definido. Se vacilarmos, a situação pode ficar complicada”, disse o jogador, autor de 19 gols na temporada, dos quais 18 pelo atual clube.

Os números comprovam as palavras de Barrios. Com média de 0,46 gols por jogo no ano, ele tem o seu melhor desempenho desde a temporada 2010/2011, quando atingiu 0,51 pelo Borussia Dortmund. Naquela oportunida­de, sagrou-se campeão alemão.

Dos 18 gols marcados pelo Grêmio, seis foram pelo torneio sul-americano. Na disputa pela artilharia está atrás de Chumacero, do The Strongest, e Scocco, do River Plate (com oito gols), e Luan, companheir­o de Grêmio (sete).

Ele ainda foi um dos artilheiro­s da Copa do Brasil — fez cinco gols, a mesma quan- 1960 tidade do cruzeirens­e Sobis, o goleador da competição.

No Palmeiras, o atacante marcou 13 vezes em 44 partidas durante quase 20 meses.

A melhor temporada do jogador na equipe paulista foi em 2015, quando conquistou o título da Copa do Brasil como titular. No ano passado, integrou o elenco campeão brasileiro, mas foi pouco utilizado pelo treinador Cuca.

Barrios perdeu espaço para o jovem Gabriel Jesus e, quando teve a oportunida­de de disputar uma sequência de partidas, lesionou-se.

Apesar da transferên­cia de Jesus para o Manchester City, o atacante presumiu que as chances seriam ainda mais difíceis neste ano dado o investimen­to do clube pelo colombiano Borja.

Assim, abriu mão do salário de R$ 1 milhão por mês que recebia para se transferir para o Grêmio, onde ganha menos da metade do valor.

“Abri mão porque precisava jogar e vi que no Grêmio eu disputaria várias competiçõe­s. Foi uma das melhores decisões que tomei na minha carreira porque deu certo e estou jogando uma semifinal de Libertador­es”, disse.

Barrios afirma que o treinador Renato Gaúcho teve um papel importantí­ssimo em sua decisão. De acordo com o jogador, o técnico “sabe lidar com os atletas e sempre fala a verdade”.

“Estava na reserva do Palmeiras e, mesmo assim, o Renato pediu a minha contrataçã­o e me passou confiança, me deu oportunida­de de jogar. A diretoria também me passou confiança, assim como a torcida, que me abraçou no aeroporto”, lembrou.

Na chegada a Porto Alegre, foi recepciona­do por quase mil torcedores do Grêmio no aeroporto Salgado Filho. Era vida nova. (LUIZ COSENZO) NATV Grêmio x Barcelona (EQU) Globo (SP e RS), Fox Sports e SporTV

O Grêmio joga nesta noite em Porto Alegre contra o Barcelona do Equador não apenas para ratificar seu favoritism­o —venceu na ida por 3 a 0—, mas também para evitar que o hiato de times brasileiro­s na final da Copa Libertador­es se torne histórico. Há três anos, nenhum brasileiro chega à decisão.

Se o Grêmio ficar fora da final desta edição, o período de quatro anos será o terceiro maior da história sem equipes do país na última etapa do torneio. Intervalo que empataria com lacuna de 1964 a 1967.

Naquela época, no entanto, era comum os Estaduais fossem considerad­os mais importante­s que a Libertador­es.

Desde 1971, a partir de quando pelo menos dois clubes brasileiro­s disputavam anualmente a competição continenta­l, o período mais longo sem finais com times nacionais ocorreu entre 1985 e 1991.

Nesse intervalo de sete anos, times da Argentina (Argentino Jrs. e River Plate), do Uruguai (Peñarol e Nacional), do Paraguai (Olímpia), da Colômbia (Atlético Nacional) e do Chile (Colo Colo) ficaram com o título. Entre os vice-campeões, estavam equipes da Colômbia, da Argentina e Paraguai.

Outro período de baixa para o futebol nacional, um intervalo de cinco anos, ocorreu entre 1969 a 1973. Os próprios clubes não quiseram disputar a Libertador­es em 1966, 1969 e 1970, o que contribuiu para a seca.

No restante da história da Libertador­es, desde 1960, o futebol brasileiro não disputou o cobiçado troféu em um ou, no máximo, dois anos seguidos.

Desde2004,oBrasiltem cinco vagas garantidas na Libertador­es. No período, o país só não esteve na final em quatro ocasiões: no torneio de 2004 e nas três últimas temporadas.

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Lucas Uebel-24.out.2017/Grêmio O atacante Barrios durante treino do Grêmio antes do primeiro jogo contra o Barcelona pela semifinal da Libertador­es

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