Folha de S.Paulo

Bienal não terá tema central, diz curador

Em 33ª edição, evento se dividirá em sete núcleos expositivo­s, com curadoria de artistas como Waltercio Caldas

- ISABELLA MENON

Para o espanhol PérezBarre­iro, não é papel do evento ‘se manifestar sobre a eleição brasileira’ em 2018

A próxima Bienal de São Paulo já tem nome: “Afinidades Afetivas”. Mas Gabriel Pérez-Barreiro, curador da 33ª edição do evento, ressalva: “É só o título, não é o tema”.

Em contrapont­o com as últimas edições, Pérez-Barreiro abandonou a ideia de uma temática central a reunir obras e debates nos cerca de três meses de exposição.

“Afinidades Afetivas” deriva de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) e Mário Pedrosa (1900-1981).

O escritor alemão escreveu “Afinidades Eletivas”, em que um casal recebe dois visitantes que despertam atração sexual e amor proibido, enquanto o escritor e jornalista brasileiro elaborou sobre “a natureza afetiva da forma na obra de arte” (1949).

Além de abolir o eixo temático, o curador quer reduzir a quantidade de trabalhos expostos: “Quanto mais aumenta o número de obras, mais decai o nível da experiênci­a”.

Para ele, muitas obras em um prédio remetem a uma feira de arte “cheia de cubículos”. Diz Pérez-Barreiro: “Não tem como ver isso com o mínimo de prazer e atenção”.

Com orçamento de R$ 26 milhões, a 33ª Bienal vai dividir a curadoria com artistas —um para cada um dos sete núcleos expositivo­s.

Entre os convidados estão o uruguaio Alejandro Cesarco, cujo trabalho se concentra em temas ligados a tradução e imagem, e a paulistana Sofia Borges, que prepara pesquisa sobre tragédias.

Já Waltercio Caldas fará reflexão sobre a forma e a abstração. Em entrevista nesta terça (31), o artista afirmou que a média de tempo de um espectador diante de obras na Bienal é de 15 segundos. “Quero mudar esse número.” ONDA CONSERVADO­RA decidirão o próximo presidente do Brasil.

“Não acho que seja responsabi­lidade da Bienal se manifestar sobre a eleição brasileira”, diz Pérez-Barreiro.

Radicado em Nova York, o espanhol diz também que seria “grande pretensão minha, estrangeir­o, achar que é o meu papel dizer aos brasileiro­s o que têm de fazer”.

Diante de ataques de conservado­res a obras e artistas, como na exposição “Queermuseu”, cancelada em Porto Alegre (RS) após acusações de incentivo à pedofilia, Pérez-Barreiro reconhece que o momento é perigoso.

“É preciso defender a arte”, diz. “Se uma obra for vista como ofensiva, nosso compromiss­o é com o artista”.

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Adriano Vizoni/Folhapress O espanhol Pérez-Barreiro, curador da 33ª Bienal de SP

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