Folha de S.Paulo

Vice de Cristina Kirchner é detido por enriquecim­ento ilícito

- SYLVIA COLOMBO

O ex-vice-presidente argentino Amado Boudou, 54, foi detido na manhã desta sexta-feira (3), sob ordem do juiz federal Ariel Lijo, que investiga uma acusação de enriquecim­ento ilícito.

Boudou foi vice de Cristina Kirchner em seu segundo mandato (2011-2015). Também foi detido pela mesma acusação o testa de ferro do ex-vice-presidente, José María Nuñez Carmona.

Boudou foi levado inicialmen­te ao Tribunal Federal, em Retiro, na região central de Buenos Aires.

O ex-vice-presidente deve explicar a origem de US$ 80 mil (cerca de R$ 264 mil) usados na compra de um apartament­o de sua ex-namorada, Agustina Kampfer. Esta seria chamada a depor nos próximos dias.

Boudou também é investigad­o por participar de uma rede de tráfico de influência que beneficiou empresário­s relacionad­os a uma de suas empresas e de se apropria de 70% das ações da empresa Ciccone Calcográfi­ca.

A firma se encontrava em má situação financeira, e Boudou a comprou, também com fundos cuja origem está sendo investigad­a.

Quando era ministro de Economia, entre 2009 e 2011, Boudou teria perdoado dívidas fiscais da empresa e ajudado a atrair investimen­tos que tiraram a Ciccone da fa- lência. Em troca, ele teria recebido ações da companhia, que ficaram nas mãos de um laranja. Depois disso, a firma venceu a licitação para a produção de notas de cem pesos, feita pela Casa da Moeda.

Segundo o juiz Lijo, Boudou terá de apresentar uma “justificat­iva de seus bens”, uma vez que a Justiça entende que “existem elementos suficiente­s que permitem presumir, a princípio, que Amado Boudou teve seu patrimônio aumentado de forma injustific­ada durante o exercício da função pública”. OUTRO LADO Em depoimento prestado no início da tarde, Boudou disse que o juiz estava sendo parcial e que sua detenção era política. Disse também que levá-lo de sua casa, algemado e à luz do dia, se tratava de um ato “arbitrário e desnecessá­rio”, uma vez que ele diz estar colaborand­o com a Justiça, oferecendo os documentos que lhe foram pedidos durante a investigaç­ão.

No final do dia, Boudou foi levado para a penitenciá­ria de Ezeiza, onde ficará preso de forma preventiva, pois o juiz considera que ele poderia obstruir as investigaç­ões.

Cristina Kirchner publicou nas redes sociais que a prisão de seu ex-vice é “uma manobra de disciplina­mento como nunca se viu em nosso país”.

Depois que Boudou foi transferid­o à penitenciá­ria, o Unidad Ciudadana, partido de Cristina, divulgou um comunicado: “Na Argentina do presidente [Mauricio] Macri se está utilizando o poder Judicial para perseguir líderes opositores. O objetivo dessa é atemorizar os dirigentes da oposição para que sejam submissos diante da segunda fase de ajustes que o governo está buscando implementa­r”.

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Martin Acosta/Reuters Amado Boudou, ex-vice argentino, é preso em Buenos Aires

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