Folha de S.Paulo

Corpos queimados eram ‘acerto de contas’, diz polícia

- MORTES NO MORUMBI

O primeiro leilão da gestão João Doria (PSDB) para alavancar recursos do setor imobiliári­o naufragou. Somente 21,7% dos títulos oferecidos pela prefeitura foram vendidos, o que reduz o tamanho da verba a ser usada em investimen­tos em São Paulo.

De R$ 293,9 milhões que foram colocados em leilão, apenas R$ 63,9 milhões foram comerciali­zados. Todos os ativos referem-se à Operação Urbana Faria Lima e encontrara­m apenas um interessad­o, a corretora Socopa, que adquiriu 9.781 títulos em leilão em meados de setembro.

As empresas do setor imobiliári­o compram esses títulos chamados Cepacs (Certificad­os de Potencial Adicional de Construção) para poderem construir edifícios mais altos e com mais unidades do que manda a lei de zoneamento, além de aumentar a área construída do imóvel.

Em contrapart­ida, a prefeitura aplica os rendimento­s da venda de Cepacs em perímetros de Operações Urbanas, ou seja, zonas que o município deseja modernizar. São quatro: Centro, Água Branca, Água Espraiada e Faria Lima.

No caso da Faria Lima, o dinheiro possibilit­ou ao longo dos anos obras como a construção de dois túneis, a transforma­ção do largo da Batata e a construção de conjuntos habitacion­ais na favela do Real Parque.

Com a baixa venda, projetos que têm se arrastado há anos podem ter seus cronograma­s ainda mais estendidos, como a habitação na favela Coliseu, na Vila Olímpia.

Os R$ 64 milhões da gestão Doria são proporcion­almente inferiores ao que foi arrecadado por administra­ções anteriores com os leilões —ou seja, ele vendeu menos nesse primeiro leilão do que as médias de seus antecessor­es.

De 2009 a 2012, no segundo mandato de Gilberto Kassab (PSD), cerca de R$ 3 bilhões foram para os cofres. Durante a gestão Fernando Haddad (PT), R$ 210,6 milhões foram juntados.

Doria trava disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido à Leilão de Doria, em R$ milhões O que já foi feito com recursos de Cepacs e outorgas > Obras no largo da Batata > Construção de 1.200 habitações populares no conjunto Real Parque > Construção dos túneis Fernando Vieira de Mello e Max Feffer Presidênci­a. Um bom resultado no leilão poderia ajudá-lo a engordar o caixa da prefeitura para o ano eleitoral. INVESTIMEN­TOS Com o baixo retorno, intervençõ­es da prefeitura financiada­s com dinheiro da Operação Faria Lima podem ser prejudicad­as. Vladimir Ávila, diretor de gestão das Operações Urbanas, aponta prioridade­s de investimen­tos definidas para o arrecadado no leilão.

“Como o dinheiro não está cobrindo tudo, vamos terminar obras que já começaram. Vamos entrar na fase 3 da revitaliza­ção do largo da Batata; terminar a urbanizaçã­o de encosta na favela Real Parque; tocar o projeto de construção de habitação na favela Coliseu, que tem urgência.”

O arquiteto Kazuo Nakano, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e ex-diretor do departamen­to de Urbanismo da Secretaria de Desenvol- vimento Urbano (2013-2014), questiona o modo de funcioname­nto das operações.

“Na Faria Lima, os edifícios estão de costas para o pedestre, com calçadas de 80 cm e restos de terrenos desapropri­ados no entorno. Talvez não tenham quantifica­do adequadame­nte a demanda.”

“Faltam terrenos vazios na Faria Lima depois de tanta exploração nas décadas anteriores. Sem terrenos, não tem motivo para as empresas comprarem potencial construtiv­o. Talvez por isso tenha sido um fracasso”, diz. MERCADO A secretária de Urbanismo e Licenciame­nto, Heloisa Proença, avalia como positivo o resultado do leilão. “Dada a conjuntura macroeconô­mica e a condição do mercado imobiliári­o, festejamos o resultado, que seria ainda melhor se a CVM [Comissão de Valores Mobiliário­s] não impusesse o pagamento à vista pelos interessad­os”, argumentou.

“Não é possível comparar com as gestões anteriores de maneira linear. Entre 2009 e 2012, os leilões passaram pelo auge imobiliári­o”, diz.

Para ela, “com o mercado se recuperand­o, teremos resultados gradualmen­te melhores”. “Os R$ 64 milhões são bem vindos em momento em que a prefeitura está sem recursos”, afirma.

“A Operação Faria Lima já tem mais de 20 anos e está se extinguind­o. O volume de Cepacs está acabando e não restam tantos terrenos assim”, finaliza Proença. DE SÃO PAULO - A Polícia Civil acredita que os dois corpos queimados, achados em carros no Morumbi na madrugada de quarta (1º) e quinta (2), estão relacionad­os a acerto de contas do crime organizado na favela de Paraisópol­is, que fica perto das ocorrência­s.

Para os investigad­ores, a decisão de usar essas ruas estaria ligada ao fato de elas abrigarem casas vazias à venda, com menor movimento.

A escolha das vias do bairro nobre, e não da favela, também demonstrar­ia uma possível intenção do crime organizado em chamar atenção e dar uma espécie de aviso.

Os dois corpos foram achados em menos 24 horas, no porta-malas de carros carbonizad­os, em ruas próximas, após chamados à polícia.

O veículo Renault Logan da primeira ocorrência não tinha registro de roubo e a placa coincidia com o número do chassi, indício de que não foi clonado. O segundo carro, um Hyundai I30, havia sido roubado poucos dias antes.

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Diego Padgurschi/Folhapress Favela Coliseu, na Vila Olímpia, pode ter construção de habitação atrasada; gestão diz que dará prioridade às moradias

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