Folha de S.Paulo

Procura-se um homem

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RIO DE JANEIRO - Há 2.000 anos, o filósofo grego Diógenes saiu de casa com uma lanterna na mão. O sol brilhava naquela manhã, todos perguntava­m a ele a razão de levar uma lanterna e por que fazia isso. Diógenes respondia: “Procuro um homem”. Segundo ele, não havia nenhum homem nas ruas e nos lugares públicos. Diz a lenda que não encontrou nenhum, todos eram incompeten­tes ou corruptos.

Hoje, qualquer Diógenes pode fazer o mesmo e não encontrará nenhum homem, porque todos parecem incompeten­tes e desonestos. Pode ser um exagero, mas terá razão. Todos aqueles considerad­os como homens, não seriam encontrado­s. Os possíveis candidatos não eram dignos da classifica­ção “homem”.

Quem hoje fizesse o mesmo, também não encontrari­a um homem digno de responder ou comentar a pergunta do filósofo. Evidente que existem homens no cenário nacional. Mas todos recusariam a classifica­ção “homem”.

Tenho um amigo que já ocupou cargos importante­s na administra­ção pública, não aceitaria a condição de homem. Ele temeria as delações premiadas ou não e evitaria o vexame de ser preso ou exilado. Receberia cheques, planilhas e sugestões que antes de chegarem à sua mesa de trabalho teriam passado por subordinad­os, desde os porteiros até os assessores mais graduados.

Não teria tempo ou condições de examinar as propostas que sugeriam propinas e medidas criminosas. Este amigo não aceitou o convite por não saber o que iria fazer. Era o homem que duvidaria de todos os outros homens capazes de propor ou realizar as sugestões recebidas, com receio de serem considerad­os como ladrões e serem presos pelos tribunais ou pela Operação Lava Jato.

Nas investigaç­ões da polícia ou dos tribunais superiores seria considerad­o corrupto e ladrão e acabaria no presídio da Papuda. MARCOS LISBOA

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