Folha de S.Paulo

Um desastre sem fim

Mariana revela a necessidad­e da gestão de desastres que garanta efetiva participaç­ão das comunidade­s direta e indiretame­nte afetadas

- NATASHA SCHMITT CACCIA SALINAS E PAULO AUGUSTO FRANCO saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Em 5 de novembro de 2015, a barragem do Fundão, controlada pela empresa Samarco, rompeu, provocando a liberação de milhões de metros cúbicos de rejeitos no vale do Rio Doce. O evento, reconhecid­o como o maior desastre socioambie­ntal brasileiro, impactou a vida de indivíduos e grupos sociais localizado­s ao longo do trajeto da lama.

Naquele momento, a sociedade brasileira se viu perplexa e mergulhada num mar de desconheci­mento sobre as causas e os impactos do desastre. Percebeu-se, então, desprepara­da para reagir a ele de forma segura, ágil e planejada. Isso deixou um lastro de dúvidas e disputas sobre os modelos de desenvolvi­mento praticados no Brasil.

Dois anos após o rompimento da barragem, os danos socioeconô­micos e ambientais permanecem não mensurados e incompreen­didos, produzindo tensões entre os principais atores envolvidos.

O exemplo de Mariana revela a necessidad­e de uma política de gestão de desastres que garanta efetiva participaç­ão das comunidade­s direta e indiretame­nte afetadas. É preciso também que se confira ao Estado papel mais importante na implementa­ção dessa política, tal como o ocorrido no emblemátic­o caso do acidente da British Petroleum no Golfo do México em 2010.

Pouco depois do desastre, o governo brasileiro celebrou acordo com a Samarco obrigando-a a transferir recursos a uma entidade —a Fundação Renova— para desenhar e executar ações de reparação e compensaçã­o ambiental. Cabe à Renova, por exemplo, indenizar os indivíduos que perderam suas moradias e bens no desastre.

A Fundação Renova foi fundada e é mantida pela Samarco. Embora suas ações estejam sob a supervisão de um comitê instituído pelo poder público, esta entidade possui inegável autonomia na gestão dos danos provocados pelo desastre.

No limite, havendo discordânc­ia entre a fundação, os atingidos e o Estado sobre o melhor curso a ser adotado em uma ação reparatóri­a, a Renova não está obrigada a agir e, portanto, gastar os recursos de sua mantenedor­a, até que o Poder Judiciário dê a palavra final. E, enquanto pendente a manifestaç­ão da Justiça, o Estado e a população atingida não disporão de meios para forçar a Renova a agir.

Em um cenário de potenciais conflitos e assimetria de informaçõe­s entre empresa, fundação, Estado e atingidos, chama a atenção o fato de que ainda sejam falhos os mecanismos de gestão do desastre.

Isso deixa questões abertas e urgentes como, por exemplo, a reestrutur­ação das economias localizada­s no rio Doce e também a própria reconstruç­ão das estruturas físicas e sociais afetadas, como é o caso da comunidade de Bento Rodrigues.

O caso de Mariana faz repensar as estruturas de governança do modelo de desenvolvi­mento econômico que seguimos.

Expõe, também, os limites e inconsistê­ncias nos projetos de Estado, sociedade e desenvolvi­mento que sustentamo­s. NATASHA SCHMITT CACCIA SALINAS PAULO AUGUSTO FRANCO

Extremamen­te oportuno o artigo “A vocação da boa política” (“Opinião”, 3/11) do suplente no Senado José Anibal. Os congressis­tas não podem dizer “sim” àqueles que querem derreter o país já comprometi­do com dívidas contraídas em desmandos administra­tivos. As reformas precisam ser aprovadas, porque há um descompass­o entre a realidade e o texto constituci­onal. Tenho batalhado para que todos compreenda­m a importânci­a da aprovação da reforma da Previdênci­a e peçam aos 56 mil vereadores do país que pressionem seus deputados a votar pelo Brasil e não contra ele.

SEBASTIÃO MISIARA,

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Em relação à reportagem “Doria gastou só 21% de verba antienchen­te” (“Cotidiano”, 3/11), a Prefeitura de São Paulo esclarece que o texto deixou de informar que no Orçamento enviado pela gestão Haddad em 2016, a Câmara Municipal aprovou R$ 628 milhões para a Secretaria Municipal de Serviços e Obras investir em obras de drenagem. Deste total, R$ 435 milhões vindos do governo federal, por meio de repasses do PAC. Em função da crise econômica, foram repassados R$ 56 milhões. A gestão anterior deixou 14 termos de compromiss­o de repasse de recursos federais com sérios problemas de falta de documentaç­ão, inviabiliz­ando novas transferên­cias de verbas.

FÁBIO SANTOS

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