Folha de S.Paulo

CENTRO EXPANDIDO

Proliferaç­ão de centristas para 2018 pode favorecer nomes à esquerda (Lula) ou à direita (Jair Bolsonaro)

- IGOR GIELOW

A pulverizaç­ão de nomes na centro-direita para a eleição de 2018 preocupa agentes políticos e econômicos.

O cenário nebuloso acabou criando uma espécie de “centro expandido”, com Geraldo Alckmin (PSDB), João Doria (PSDB), Henrique Meirelles (PSD) e figuras alternativ­as como Luciano Huck se acotovelan­do nas especulaçõ­es.

Além deles, nomes de baixa densidade partidária devem engrossar o pelotão, como Alvaro Dias (PV) e João Amoêdo (Partido Novo).

Mais à esquerda, há Marina Silva (Rede), que enfrenta ceticismo dos apoiadores, mas pode capturar algum naco do eleitorado mais centrista.

“Isso é agora. Haverá uma decantação do processo”, avalia o sociólogo Antonio Lavareda, um dos mais experiente­s analistas políticos do Brasil, tendo aconselhad­o mais de 90 campanhas.

O cenário atual decorre de dois fatores. Primeiro, a cristaliza­ção nas pesquisas dos extremos do eleitorado nas figuras de Lula (PT, à esquerda) e Jair Bolsonaro (PSC, à direita).

Segundo, até pela viabilidad­e dúbia desses dois nomes, perspectiv­a de poder sem que haja um nome francament­e favorito.

“É imperativo para a centro-direita uma coordenaçã­o prévia”, diz Rafael Cortez, da consultori­a Tendências.

Foi isso o que propôs Doria, ao defender uma frente de partidos de centro. Outra parte da equação do tucano é manter-se no jogo após um mês de más notícias que desidratar­am sua postulação.

No raciocínio exposto por Doria em evento com empresário­s no Rio na terça (31), é preciso uma união das siglas ao centro contra a força dos extremos Lula e Bolsonaro.

Esse é o arco que hoje sustenta Michel Temer, significat­ivamente com o PMDB no papel de apoiador sem nome viável, além da variável da impopulari­dade recorde do presidente. DEM, PPS, PP, PTB e outros compõem o quadro.

Há pontos diversos a considerar. Se é verdade que Lula poderá ser impedido de concorrer caso seja mesmo condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, como o próprio PT acredita, ele poderá usar isso como trunfo.

“Lula iria se afirmar vítima e poderia repetir Roriz em 2010, só que com um nome até mais competitiv­o”, diz Cortez. Naquele ano, Joaquim Roriz teve a candidatur­a ao governo do Distrito Federal impugnada e lançou a mulher, a neófita Weslian, às vésperas do pleito. Ela foi ao segundo turno e perdeu.

Concorda Richard Back, da XP Investimen­tos. “Lula pode ir até quase o fim e lançar seu preposto, só que seria um nome como o do [ex-prefeito de SP] Fernando Haddad”, diz.

Já Bolsonaro é visto como alguém que deve se desidratar quando a campanha começar de fato, por sua baixa capilarida­de em tempo de TV e apoios estaduais. FUNIL O fator “novo” é representa­do por Luciano Huck no grupo, já que ele pontua na casa dos 5% de largada. Se o impulso antiestabl­ishment hoje com Bolsonaro é unanimidad­e na análise de políticos e consultori­as, há dúvidas sobre a viabilidad­e de Huck por inexperiên­cia total.

Lavareda vê mais chance de o apresentad­or, se de fato se filiar a algum partido, integrar uma chapa como vice “para vitalizar uma candidatur­a mais tradiciona­l”. “Esta é uma eleição aberta, que tende à fragmentaç­ão. As condições de formar alianças vão gerar uma candidatur­a mais competitiv­a à frente”, crê.

Para ele, Lula não será candidato e o funil do centro hoje favorece Alckmin. “Havia uma expectativ­a sobre o Doria, mas perdeu plausibili­dade. E não acho que [o ministro da Fazenda] Meirelles será candidato, mesmo com melhora na economia.”

Na semana passada, Meirelles admitiu à revista “Veja” que cogita concorrer.

Ricardo Sennes, da Prospectiv­a, vai na mesma linha. “Lula e Bolsonaro estão em campanha. Tempo de TV e Fundo Partidário, aliados a campanhas estaduais fortes, são centrais. Mas é preciso haver união nesse campo centrista, senão haverá um desastre na ótica dos mercados.”

Sennes também vê Alckmin com alguma vantagem. “Ele não será um reformador radical. Propostas muito liberais como as de Doria ou do Partido Novo não têm uma avenida a percorrer no Brasil, têm uma ruela”, diz. Como aparecem nas pesquisas os pré-candidatos à Presidênci­a, em % (1º turno)

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