Folha de S.Paulo

Vice-líderes de Temer votam contra governo que eles representa­m

Deputados que deveriam ajudar na articulaçã­o política se opuseram ao Planalto em deliberaçõ­es importante­s

- DANIEL CARVALHO

Deputado Rocha (PSDBAC) chamou a atenção ao se posicionar contra Temernasde­núncias oferecidas pela PGR

Com uma base aliada cada vez menor, o presidente Michel Temer não conta com 100% de apoio nem mesmo entre seus vice-líderes na Câmara dos Deputados.

O governo tem 15 vice-líderes, indicados pelo próprio presidente para ajudar o líder Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) na mobilizaçã­o de deputados em votações considerad­as importante­s para o Planalto.

O regimento interno da Câmara diz que líder e vice-líderes do governo podem fazer uso da palavra em sessões, encaminhar votações e participar do trabalho de comissões mesmo que não sejam membros —embora, neste último caso, não possam votar.

A Folha analisou o comportame­nto destes 15 deputados em seis votações: a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que estabeleci­a um teto para os gastos públicos; as reformas trabalhist­a e do ensino médio; a terceiriza­ção; e as duas denúncias contra o presidente.

Seis parlamenta­res faltaram a ao menos uma destas votações ou se posicionar­am contra o governo.

O caso de maior destaque é o do deputado Rocha (PSDBAC). Depois de ter votado contra a terceiriza­ção e faltado à votação da reforma trabalhist­a, ele se opôs a Temer nas duas denúncias oferecidas pela PGR (Procurador­ia-Geral da República).

O deputado diz que sem- pre foi contra a participaç­ão do PSDB na administra­ção Temer e conta que havia aceitado a vice-liderança apenas para “ajudar o governo naquilo que fosse bom”.

Rocha afirma não ter cargos na estrutura federal e diz já ter pedido para ser retirado do posto.

“Causa um desconfort­o muito grande. Não voto nem sigo o governo. Logo depois queogovern­ocomeçouam­eter os pés pelas mãos, depois da primeira denúncia, eu pedi para me tirarem da vice-liderança. Até hoje não me tiraram”, afirma o tucano.

Auxiliares de Aguinaldo Ribeiro dizem que o líder do governo na Câmara já solicitou a substituiç­ão de Rocha, mas o assunto está parado na Secretaria de Governo, comandada pelo também tucano Antonio Imbassahy.

O ministro é um dos principais defensores da manutenção do PSDB no governo deMichelTe­merefoiumd­os que se licenciara­m para retomar o assento de deputado e ajudar o presidente a derrotar as duas denúncias. DISCRETOS Mesmo os que apoiaram o presidente contra a segunda denúncia da Procurador­iaGeral da República foram discretos ao defendê-lo em plenário na hora da votação.

Alguns limitaram-se a um simples “sim”, a favor do relatório contra a denúncia.

A sessão foi transmitid­a ao vivo pela TV aberta, à noite, horário de maior audiência.

Temer escapou da segunda denúncia com 251 votos, 12 a menos que na primeira denúncia.

A partir da semana que vem, o governo começa de fato a operação para reorganiza­r a base aliada e definir sua agenda prioritári­a —e possível— no Legislativ­o.

Procuradas pela reportagem, a liderança do governo e a Secretaria de Governo não se pronunciar­am até a conclusão desta edição.

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