Folha de S.Paulo

Marinha põe em operação seu navio mais importante

Embarcação comprada da França completou viagem entre Rio e Santos

- RICARDO BONALUME NETO

Navio Doca Multipropó­sito Bahia abriga 359 homens de tropa e é capaz de operar três helicópter­os

O mais importante e imponente navio da Marinha do Brasil foi “homologado” faz alguns dias —isto é, está agora plenamente operaciona­l, o que foi obtido durante uma viagem de ida e volta entre o Rio de Janeiro e Santos, no litoral paulista.

Como ele é dotado de dois conveses de voo para helicópter­os, faltava apenas poder operar à noite essas aeronaves ditas de “asas rotativas”. Isso foi feito, e o Navio Doca Multipropó­sito Bahia está apto a cumprir todas as missões que sua exótica denominaçã­o define.

“Multipropó­sito” significa —e isso é autoexplic­ativo— servir para várias finalidade­s.

Como diz a Marinha, ele serve para “transporta­r e controlar embarcaçõe­s de desembarqu­e, viaturas anfíbias e carros de combate; conduzir movimento navio-terra por superfície ou helitransp­ortado; realizar atividades benignas em assistênci­a humanitári­a e em casos de desastres naturais; dar apoio à realização de operações especiais; prover apoio logístico; e efetuar operações de busca e salvamento”.

O Bahia também pode servir de navio capitânea de uma esquadra e lançar helicópter­os antissubma­rinos ou armados com mísseis antinavios.

Andar pelo navio é cansa- EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA almirante de esquadra da Marinha tivo; ele é enorme, tem vários “conveses” —isto é, andares. Existe até um pequeno elevador de uso exclusivo do comandante, mas que só vai do quarto ao sétimo convés.

A maior parte do tempo se passa subindo e descendo escadas, e se perdendo por inúmeros corredores, que ainda têm placas de ruas de Marselha, cidade francesa que era ligada ao navio.

Mas justamente por ter bastante espaço —o Bahia tem uma tripulação de 299 militares e pode embarcar 359 homens de tropa, normalment­e fuzileiros navais—, os camarotes são confortáve­is.

E a “praça d’armas”, o salão no quarto convés onde os oficiais fazem suas refeições e descansam, parece tirado de um navio de cruzeiro. É ideal para recepciona­r autoridade­s, uma função tradiciona­l de um navio de guerra.

O navio foi adquirido da Marinha francesa —na qual se chamava Siroco—, como uma “compra de ocasião”. Isto é, foi colocado à venda já pronto, em vez de ser projetado e construído no país. Mas valeu cada euro.

Além da capacidade de operar três helicópter­os de cada vez, o navio tem uma “doca” da qual entram e saem embarcaçõe­s de desembarqu­e.

Seu armamento é apenas defensivo, mísseis de curto alcance e metralhado­ras. Mas a versatilid­ade também fica clara pelas extensas instalaçõe­s hospitalar­es a bordo.

Até agora o navio mais importante da Marinha era o porta-aviões São Paulo — igualmente francês, o antigo Foch. Ele cumpriu sua missão de fazer a Marinha operar de novo aviões de asas fixas, algo que tinha sido cassado na década de 1960, e está agora desativado.

O Bahia é menor, tem menos da metade do deslocamen­to, mas é mais versátil. Ele foi transferid­o para a Marinha do Brasil em 17 de dezembro de 2015, em Toulon, cidade ao sul da França.

Os franceses construíra­m recentemen­te uma classe mais moderna desse tipo de navio porta-helicópter­os de “intervençã­o e projeção”, a Mistral. Por isso o Siroco estava disponível e foi colocado à venda.

A estrutura hospitalar inclui duas salas de cirurgia, oito leitos de terapia intensiva, três leitos para queimados, quatro leitos de triagem, 24 leitos de extensão, além de consultóri­os médicos, consultóri­o odontológi­co, laboratóri­o e sala de raios-X.

O Bahia é um dos navios mais importante­s da esquadra brasileira. Suas caracterís­ticas incrementa­m o grau de versatilid­ade e flexibilid­ade do nosso poder naval. Ele contribui para o aumento da capacidade de controle de áreas afastadas do litoral e apoio às instalaçõe­s no pré-sal

 ?? Yam Wanders/Orbis Defense ?? O chamado Navio Doca Multipropó­sito Bahia, comprado pela Marinha em 2015, em deslocamen­to pela costa brasileira
Yam Wanders/Orbis Defense O chamado Navio Doca Multipropó­sito Bahia, comprado pela Marinha em 2015, em deslocamen­to pela costa brasileira

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